Sophie
Deram, autora do best-seller "O Peso das Dietas", pontua
que a abordagem e o tratamento da doença devem ser mais responsáveis e
humanizados com os pacientes
Muito se falou em saúde durante este ano. Um vírus acometeu o
mundo e vitimou milhares de pessoas. Entretanto, há outra epidemia mais
silenciosa em andamento e, assim como a Covid-19, pode ser fatal. A obesidade
cresce de forma vertiginosa desde os anos 70 e, em 2019, chegou a atingir 26,8%
dos brasileiros, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Diante deste cenário, a nutricionista Sophie Deram, PhD em Nutrição e
autora do best seller "O Peso das Dietas", realizou um manifesto para
um novo olhar sobre a obesidade, reunindo especialistas conceituados no mercado
com o propósito de alertar que o tratamento voltado às pessoas que sofrem com
esta condição é um fracasso e precisa ser repensado.
Com base nas discussões trazidas pelos
palestrantes durante o encontro, que foi realizado de forma inteiramente
remota, Sophie levantou sete motivos para apoiar a iniciativa do manifesto e
direcionar um novo sobre a obesidade. Confira quais são:
1 - A obesidade é um distúrbio sistêmico
O tratamento da obesidade é complexo.
Intervenções como a cirurgia bariátrica pode gerar reganho de peso e remédios
para emagrecer apresentam mais efeitos colaterais que benefícios.
De acordo com o pesquisador e nutricionista
Dennys Cintra, a obesidade é sistêmica. Mas não apenas pelo aspecto molecular,
e sim porque, além disso, o cuidado do paciente exige a atuação de muitos
profissionais, ações e políticas públicas.
2 - A microbiota intestinal também pode
participar no desenvolvimento da obesidade
Nos últimos tempos, muito tem se falado sobre a
microbiota intestinal, e os estudos mostram que ela interfere na obesidade.
Para a nutricionista e pesquisadora Maria Carolina Santos Mendes, a microbiota
intestinal desempenha diversas funções e influência na capacidade de extrair
energia dos alimentos.
A poluição, aditivos alimentares, antibióticos,
o abandono da alimentação tradicional e o consumo de alimentos ultraprocessados
estão associados a uma menor diversidade da microbiota intestinal dos humanos,
contribuindo para o desenvolvimento da obesidade.
3 - 95% das pessoas que fazem dieta
voltam a engordar
Comer bem e ter uma alimentação saudável são
peças fundamentais para o tratamento contra a obesidade. No entanto, é muito
comum confundir comer melhor com comer menos e fazer dietas restritivas com o
objetivo de perder peso.
Na verdade, a restrição alimentar mais
atrapalha do que ajuda. Privar-se de comida contribui para o efeito sanfona e
também para o desenvolvimento de transtornos alimentares como anorexia e
bulimia nervosa e compulsão alimentar.
4 - Pessoas com obesidade apresentam
problemas de saúde física e mental
A obesidade é um dos principais motivos de
preocupação da saúde pública, justamente por trazer diversos riscos para a
saúde física. Entretanto, o psiquiatra Táki Cordás ressalta que a obesidade
também afeta a saúde mental podendo, inclusive, contribuir para o
desenvolvimento de transtornos alimentares e estar associada à depressão e ao
transtorno bipolar.
5 - A obesidade não é apenas uma
responsabilidade individual
Vivemos em um ambiente com uma grande oferta de
alimentos e de inatividade física, o que alguns especialistas chamam de
ambiente obesogênico. Além disso, existe uma trivialização da alimentação: ela
está sempre presente, é barata e não tem significado.
Por esse e outros motivos não podemos dizer que
a obesidade é apenas uma responsabilidade individual, uma vez que é sensível ao
ambiente social e cultural, variando entre as classes sociais e até mesmo entre
os gêneros.
6 - O ser humano se alimenta de alimentos
e sentimentos
De acordo com Sophie, não é possível controlar
a comida o tempo todo, pois alimentação é razão, mas também emoção. E quanto
mais se tenta controlá-la, mais difícil se torna.
As pessoas comem quando estão felizes, quando
querem celebrar algo ou quando estão tristes e encontram na comida uma forma de
conforto. Isso mostra que também comemos guiados pelas emoções. E quando isso
acontece temos o comer emocional, que pode levar a distúrbios metabólicos e
excesso de peso.
7 - A autonomia deve ser um objetivo do
tratamento da obesidade
É comum para pessoas que sofrem com sobrepeso
buscar orientações sobre o que, quanto e quando comer. Mas é preciso valorizar
a autonomia. Para conquistá-la, a médica Paula Teixeira sugere o comer
consciente, ou seja, estar presente no momento de se alimentar e com
consciência da fome, das vontades e dos sentimentos.
Estudos mostram que, quando a alimentação
acontece de forma mais consciente, a pessoa se mostra mais disposta a fazer
escolhas consideradas saudáveis, pode apresentar maior poder de escolha frente
a alimentos apelativos e menos episódios de compulsão alimentar e depressão.
Após ler os argumentos de Sophie e dos
demais especialistas da área, você concorda que o tratamento contra a obesidade
precisa ser repensado e reformulado de forma que fique mais humano e
responsável? Caso sim, junte-se aos profissionais e assine este abaixo-assinado
que apoia um tratamento mais amplo, complexo, sem estigma e com respeito.
Sophie Deram
- Autora do livro "O Peso das
Dietas", é engenheira agrônoma de AgroParisTech (Paris), nutricionista
franco-brasileira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (FMUSP) no departamento de Endocrinologia. Além de especialista em
tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM - Programa de Transtornos
Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, é coordenadora do projeto
de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM
no laboratorio de Neurociencias.
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