No mês da prematuridade, cardiologista pediátrica explica a
relação entre a saúde cardíaca e o nascimento prematuro
Neste mês é celebrado o Novembro Roxo, período
dedicado à informação e conscientização sobre a prematuridade. Mas, sabia que
existe uma relação direta entre o nascimento precoce e a saúde do coração?
Um estudo recente apontou que adultos jovens que
nasceram em prematuridade extrema são mais suscetíveis a sofrerem de
hipertensão arterial na vida adulta e, consequentemente, entrando para o grupo
de risco de sofrerem de doenças cardíacas.
Mais de 200 adultos, nascidos entre 1991 e 1992
com menos de 28 semanas e abaixo de 1kg, foram acompanhados pelo Victorian
Infant Collaborative Study¹. O estudo constatou que esses adultos tinham quase
o dobro de chance de sofrer de pressão alta quando comparados aos que nasceram
no tempo normal.
E isso tem um porquê.
A médica cardiologista pediátrica pela Sociedade
Brasileira de Pediatria Dra. Renata Isa Santoro explica que o coração do bebê
tem função e estrutura diferentes dentro e fora do útero:
"Quando ainda está no ventre materno, o
coração do bebê possui uma estrutura muito importante e imprescindível para a
vida, que se chama ducto arterioso. Ele é como uma ponte que conduz de 80 a 85%
da quantidade de sangue que vai do lado direito do coração para o lado esquerdo
e para a aorta (artéria de maior importância no nosso organismo). Checar o bom
funcionamento desta estrutura é de grande importância durante a gestação",
descreve.
No útero, o oxigênio vem da mãe, passa pela
placenta e pelo cordão umbilical e, em seguida, viaja para o coração do feto
por meio do ducto venoso. Assim que chega ao coração, o sangue é bombeado para
o resto do corpo através de vasos muito importantes. Um desses vasos é o ducto
arterioso.
"Mas, assim que o bebê nasce, sua primeira
respiração inicia mudanças na função e na maneira como o coração
trabalha", conta a cardiologista pediátrica. Uma das principais mudanças
que acontece é que os ductos venoso e arterioso perdem função e, pouco a pouco,
se fecham.
Mas, quando o bebê nasce prematuro, corre riscos
de ter algumas complicações no coração. "Nos bebês que nascem a termo, ou
seja, de nove meses, o canal arterial se contrai após o nascimento e se torna
funcionalmente fechado. Em prematuros, no entanto, o fechamento do canal
arterial é retardado, permanecendo aberto em aproximadamente 10% dos bebês
nascidos entre 30 e 37 semanas de gestação, 80% daqueles nascidos com 25 a 28
semanas de gestação e 90% daqueles nascidos com 24 semanas de gestação."
E se esse ducto permanece aberto e funcionando, favorece
o aumento do fluxo de sangue nos pulmões predispondo a algumas doenças como
edema pulmonar, insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca e,
posteriormente, prejudicando também outros órgãos como intestino, rins e
cérebro.
"O tratamento deve ser avaliado caso a caso.
Todo bebê prematuro, em especial os extremos, precisam de acompanhamento médico
o resto da vida para prevenir diferentes enfermidades, como as
cardiopatias", conclui a médica.
Dra. Renata Isa
Santoro - Médica
pela faculdade de ciências médicas de Santos - UNILUS • Especialista em Pediatria pela AMB/SBP • Especialista na área de atuação em Cardiologia
Pediátrica pela AMB/SBP/SBC •
Especialista em Ecocardiografia fetal e pediátrica pela UNICAMP • Mestrado em Ciências pela UNICAMP • Atuou como Cardiologista Pediátrica,
Ecocardiografista e na formação da residência médica em cardiologia pediátrica
na UNICAMP de 2007 a 2018
¹Anjali H. Et al. High
blood presure in Young adults survivors born extremely preterm or extremely low
birthweight. Hypertension, 2019.
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