Evitar o reganho
dos quilos perdidos na dieta faz parte de um processo ativo do tratamento da
obesidade que está relacionado a medidas que devem levar em conta aspectos
fisiológicos, ambientais e comportamentais
Para quem faz dieta hipocalórica, um desafio maior
do que emagrecer é o de manter o peso perdido, ou seja, não entrar no ciclo sem
fim do efeito sanfona. Uma metanálise de 29 estudos, que acompanhou por cinco
anos pessoas em dieta, demonstrou que apenas 15% delas conseguiu gerenciar com
sucesso a manutenção dos quilos perdidos. Ou seja, 85% engordou novamente.
Conforme o levantamento, mais da metade do peso foi recuperado em dois anos e
80% do peso foi ganho novamente em meia década.
Nesse sentindo, o médico endocrinologista e
especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny, ressalta que assim como perder
peso, não reganhar os quilos perdidos é um processo ativo que faz parte do
tratamento da obesidade e que depende do esforço, da mudança de hábito e da
abstenção de determinados prazeres. Mas não só, além de fatores
comportamentais, há fatores ambientais e fisiológicos que influenciam o reganho
de peso, que culturalmente e historicamente foram ignorados até por
profissionais de saúde, e que devem ser levados em conta para que as pessoas
não entrem nesse ciclo vicioso de perda e reganho de peso.
Segundo Bomeny, durante muito tempo, a obesidade
não foi vista como uma doença e por isso os condicionantes hormonais e
genéticos do distúrbio foram ignorados. Ao reduzir o fracasso de uma dieta
exclusivamente à vontade do paciente, que por preguiça, gula ou o pelo
não cumprimento do mero déficit calórico (ganhou mais energia do que perdeu)
recuperou os quilos a mais, muitos médicos, ao invés de atuarem como solução,
se tornaram parte do problema. Para fazer com que os pacientes mantivessem o
peso perdido, suas orientações eram muito superficiais, restritas a
exortamentos como: feche a boca e coma menos.
Hoje, sabe-se que o problema da obesidade vai além
da simples falta de vontade. Conforme o especialista em emagrecimento, diversos
estudos já demonstraram que orientações médicas focadas somente no estado
anímico do paciente não geram resultado eficaz. Muito pelo contrário, afetam
psicologicamente o indivíduo, que desanima ao verificar que suas reiteradas
tentativas de emagrecer acabando por fracassar.
Bomeny explica que diversos fatores tornam tão
difícil a manutenção do peso perdido. Entre eles o ambiental. “As pessoas que
emagreceram continuam vivendo no mesmo ambiente que favoreceu o ganho de peso
inicialmente, daí grandes chances de reganho de peso”, explica. Esse ambiente
se caracteriza por um padrão alimentar que favorece o consumo de
industrializados e ultraprocessados. “São alimentos extremamente pobres do
ponto de vista nutricional e proteico e ricos em energia na forma de
carboidratos”, destaca.
O fator fisiológico também é relevante. Bomeny
explica que ao emagrecer, o corpo responde hormonalmente à perda de peso. “À
medida que emagrecemos o nosso gasto de energia diminui e esse comportamento
persiste mesmo na fase da manutenção”, diz. Conforme o especialista em
emagrecimento, a taxa de metabolismo não apenas reduz, como faz isso além do
esperado, o que dificulta a perda de peso nos moldes do início da dieta.
“Então, o simples fato de restringir o gasto calórico e manter isso com o tempo
não significará que a perda de peso ocorrerá na mesma velocidade de antes”,
afirma.
Outras respostas fisiológicas ao emagrecimento são
a diminuição da saciedade, o aumento do apetite, e alteração no sistema de
recompensa hedônica (relativo ao prazer) ocasionados por mecanismos de
feedbacks, nos quais substâncias orexigênicas ou anorexigênicas atuam nos
sistemas nervosos central e periférico. Todos esses fatores culminam em um
maior consumo de alimentos e no consequente reganho de peso. Estudos
constataram que para cada quilo perdido, as pessoas aumentam o apetite em 100
calorias e que essas alterações não retornam aos níveis registrados antes do
emagrecimento mesmo após um ano.
Por último, Bomeny ressalta o fator comportamental
como relevante para o reganho de peso, principalmente quando se atinge o platô.
Conforme o médico endocrinologista, após verificarem o sucesso da dieta, as
pessoas tendem a aumentar o consumo de alimentos sem perceber. “Os pacientes
realmente acreditam que estão mantendo a sua dieta quando na verdade estão
comendo mais”, explica. E isso, de acordo com Bomeny, acontece por um fator
genético. “A percepção do paciente em relação ao consumo, ao apetite, inclusive
ao desejo de determinados alimentos ocorre em regiões cerebrais específicas que
não estão totalmente sob seu controle”, diz.
Para o especialista em emagrecimento, saber que
existem questões biológicas, comportamentais e ambientais que condicionam a
perda e o reganho de peso (efeito sanfona) é de extrema importância para que o
tratamento da obesidade não se volte apenas para o emagrecimento e sim para a
manutenção do peso perdido, que, reitera Bomeny, deve ser um processo ativo que
abranja todas as áreas já citadas.
Uma questão importante levantada pelo médico
endocrinologista é que no sentido de evitar o efeito sanfona, sejam quais forem
as dietas adotadas, é necessário reduzir a ingestão de alimentos
ultraprocessados. Dessa maneira, a pessoa consegue aumentar sua concentração de
proteína no organismo e diminuir a ingestão excessiva de energia, que leva ao
armazenamento de gordura e aumento de peso. “Independentemente do tipo de dieta
que a pessoa adotar, algo precisa ser feito em relação à qualidade dela, que
precisa ter como base a comida de verdade”, sentencia.
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