Apesar de todas as recomendações contra o uso excessivo de telas, muitas vezes achamos que os problemas decorrentes “não vão nos atingir”, ou mesmo encaramos os dispositivos digitais como “um caminho sem volta” – e esquecemos de limitar seu efeito em nosso corpo e mente. Pior: estamos levando nossos filhos para a mesma direção.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, que
atualizou neste ano seu “Manual de Orientações #Menos Telas #Mais Saúde”, os
problemas para crianças e adolescentes hiperexpostos às telas vão desde a
irritabilidade, ansiedade e depressão, até o aumento da violência e problemas
auditivos e visuais, como miopia e síndrome visual do computador, transtornos
posturais musculoesqueléticos e propensão ao uso de drogas.
No caso do videogame, além dos problemas
musculares, existe o risco de desligamento da realidade, quando o cognitivo
passa a sofrer com falta de atenção, não socialização, isolamento familiar e
social. Estima-se que, após 30 minutos de jogo, a pessoa já passa a viver na
realidade virtual.
Se para os mais novos esses são hábitos que devem
ser limitados e reavaliados com urgência, antes que se tornem regra para toda a
vida, para adultos e idosos, que também passaram a fazer uso irrestrito de
aparelhos como celular, tablet e videogame, as consequências se somam a
tendências já existentes, como artrite e artrose, entre outras limitações de
movimentos.
Podemos não nos dar conta, mas a posição que
adotamos ao celular, com o pescoço abaixo e coluna inclinada, exerce sobrecarga
crescente sobre os músculos dos ombros, braços, mãos e dedos, o que tem levado
muitos aos consultórios ortopédicos. A coluna e o pescoço são alvos gravemente
atingidos pelos maus hábitos tecnológicos: o peso sentido pela cabeça é
equivalente a 27 quilos, devido à pressão exercida pelo abaixamento da
cabeça...
Com as mãos, a situação é ainda mais delicada, pois
usamos sempre o mesmo dedo para digitar. O mais comum é a inflamação do tipo
tendinite, mas ela pode se agravar e evoluir para uma tendinopatia, com
processo degenerativo, principalmente das pequenas articulações, ou seja, o
paciente desenvolve a osteoartrite. Apesar de muitos não se darem conta da
gravidade desse hábito que ultrapassa fronteiras geográficas e de idade, a
inflamação nos punhos causada pelo uso excessivo do celular já tem até um
apelido, a “Whatsapinite”.
Outras afecções osteoomioarticulares (que afetam
ossos, músculos e articulações), consideradas doenças causadas pela repetição
de movimentos, podem ser relacionadas com o uso de dispositivos digitais, como
deformidades e fraqueza muscular.
O meu alerta é: coloque limites para vocês mesmo,
antes de chegar ao ponto de precisar de uma cirurgia. A boa notícia é que
existem medidas que amenizam o dano causado pelo tempo ao celular, como
adaptadores na forma de alças que permitem segurar o aparelho com a mão aberta.
Uma dica que deixo para você é tomar cuidado em
usar sempre as duas mãos, e não apenas um dos dedos, alternando entre polegar e
indicador. Outra recomendação essencial é fazer alongamentos, o que vale também
para o tempo de uso do computador: estique a coluna, alongue os braços, solte o
pescoço, faça a extensão total do braço, mãos e dedos.
E atenção: alongamento é para ser feito devagar.
Todo o tempo investido nessa prevenção será recompensado em ganho de saúde e
bem-estar.
Syomara
Cristina Szmidziuk - atua há 30 anos como terapeuta ocupacional, tem
experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em
pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em
domicílio, onde desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da
mão. Possui treinamento em contenção induzida, eletroestimulação, Bobath
(AVC) e Baby Course (Bobath avançado), entre outros.
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