Historicamente anos eleitorais impactam diretamente no volume de proposições que são apresentadas no Congresso Nacional. Isto porque os parlamentares costumam se dedicar menos às atividades legislativas e mais aos compromissos da campanha eleitoral. Em 2016, último ano de campanha municipal, foram apresentados 28.631 projetos, enquanto em 2017, comparativamente, foram entregues 35.573 projetos. Esse padrão se repetiu nos anos de 2015, 2018 e 2019.
No intervalo de 2015-2019, assistimos a três
processos eleitorais. De 2017 para 18, por exemplo, a produtividade do
Congresso caiu 41,41%. Esta análise considera a quantidade de projetos
apresentados. Já do ano passado para este a redução de iniciativas legislativas
foi de 36,98%. Um ponto de atenção é que a "queda de produtividade"
não é necessariamente um mal sinal. Propor mais leis num país com um altíssimo
volume de normativos com impacto regulatório quase nunca contribui para a melhoria
das condições sociais, do ambiente de negócios e da segurança jurídica.
Em 2020, além do pleito municipal, a pandemia e a situação de emergência de
saúde pública também impactaram na quantidade de proposições apresentadas nas casas
federais. O surgimento do novo Coronavírus levou a uma proliferação grande de
iniciativas legislativas, desde aquelas bastante sérias e necessárias, àquelas
que apenas "surfaram a onda" da tragédia. De todos os assuntos
tratados, destacam-se nas proposições legislativas federais os cinco principais
temas de projetos: “Coronavírus”, com mais de 2000 projetos apresentados,
“Calamidade pública” com 980, “Covid” com 703 e “ESPII”, que é a abreviação de
“emergência de saúde pública de importância internacional”, aparecendo 694
vezes.
Em 2018, também um ano eleitoral e ainda no “antigo
normal”, os termos mais presentes foram “Município”, “Brasil”, “País
estrangeiro”, “Inclusão” e “Destinação”. Como se observa, as proposições
legislativas federais apresentadas naquele ano trazem temas mais variados e
amplos, sem o destaque para um assunto específico. O mesmo padrão se repetiu em
2016, ano de eleições municipais, quando os assuntos apresentados giraram em
torno de “Critério”, “Inclusão”, “País Estrangeiro” e “Município”. Naquele ano,
termos genéricos e sem um assunto particular despontaram como temas mais
presentes no dia a dia do parlamento.
Para as empresas, acompanhar este movimento
legislativo, entender quais temas têm tido mais espaço e qual o interesse geral
dos agentes públicos, garante que os produtos e serviços estarão em compliance
com as mudanças regulatórias tão frequentes e comuns no Brasil. Torna-se
essencial acompanhar o impacto regulatório para cada mercado. Vejamos alguns
setores que, durante o período de pandemia, também experimentaram uma alteração
no volume de propostas associadas a seus campos de atuação.
Quando consideramos, por exemplo, os termos
“Remédio” e “Medicamento”, temos um aumento do número de projetos de lei de
400% para o primeiro termo, entre 2018 e 2020, e de 40% para o segundo,
totalizando mais de 300 projetos apresentados na somatória das duas indexações.
Em se tratando de discussões com o termo “vacina”, em 2020 foram apresentados
quatro vezes mais projetos, quando comparamos com 2018 e 2019 separadamente.
Para as companhias farmacêuticas, o monitoramento
legislativo e regulatório, bem como a análise detalhada das medidas
apresentadas neste contexto, pode dar informações importantes sobre possíveis
campos de atuação, aumento de produção ou importação de um produto, desafios
logísticos no horizonte ou uma demanda reprimida que tenha surgido junto com a
pandemia.
Da mesma forma, outro mercado altamente regulado, o
mercado bancário, teve assuntos relevantes sendo discutidos com muito mais
frequência no ano de 2020. Termos como “crédito” e “juros” tiveram um aumento
no número de projetos apresentados de 47 e 300%, respectivamente, comparando os
anos de 2018 e 2020. Para o contexto das companhias aéreas, o termo “aviação
civil” passou a aparecer 12,5% a mais no ano de 2020, provavelmente refletindo
a situação de pandemia que atingiu fortemente as empresas do setor.
A relevância desses assuntos em um contexto de
emergência de saúde e, considerando o impacto econômico da pandemia é grande e
pode provocar movimentos nos negócios e dar novo tom às estratégias das
empresas.
A edição de um alto volume de projetos de lei como
no Brasil é uma característica da nossa democracia que deve ser considerada
tanto pelos cidadãos, no fórum privado, quanto pelas empresas. A apresentação
de tantas proposições não é algo necessariamente bom, e abre caminho para
oportunismos. Além disso, como já dito, gera insegurança jurídica para o
ambiente de negócios e alto impacto nas consequências regulatórias.
Neste sentido, o monitoramento da produção
legislativa e o devido acompanhamento do risco regulatório são importantes não
apenas de uma perspectiva empresarial. Identificar medidas legislativas
desnecessárias ou danosas antes de sua aprovação interessa à sociedade como um
todo, já que previne a entrada em vigor de futuras normas inconstitucionais,
ilegais ou que apenas contribuem para o emaranhado burocrático que nos prende e
nos atrasa.
Lydia Assad - jornalista formada pela Universidade de Brasília e gerente de contas estratégicas da Inteligov, apoiando áreas de Relações Institucionais e Governamentais a atuar com inteligência junto aos Poderes Legislativo, Executivo e Agências Reguladoras.
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