Discute-se se o Brasil deve, efetivamente, comprar milhões de doses da vacina chinesa. Sem a menor intenção de magoar a sensibilidade do governador João Doria, que tem revelado particular afeição pelos interesses chineses no Brasil, quero proclamar minha completa aversão a esse negócio. Aplica-se a ele a regra segundo a qual jamais compre mercadoria que venha empacotado por algum partido comunista.
Ao que se sabe, há duas
hipóteses para a origem do coronavírus. Ou ele – em suposta teoria da
conspiração – é produto de algum laboratório chinês, ou ele surgiu daqueles
hábitos alimentares em que seres humanos acabam metabolizando insetos e animais
silvestres com constante risco de trazer à humanidade doenças para as quais não
temos imunidade.
A origem desses péssimos costumes é conhecida. Eles foram adquiridos nos
tétricos episódios de fome impostos pelo Partido Comunista da China ao povo
chinês. Ainda que seja motivo de pesar, é imperdoável que, sabido o alto risco
que eles representam, nada tenha sido feito para extingui-los. Num mundo
globalizado, não há limites para a expansão de novas pandemias. Portanto, a
responsabilidade do PCC é indiscutível, como indiscutível é sua condição de
soberano senhor do povo de seu país. Pode-se discutir a maior ou menor
responsabilidade moral do Partido numa e noutra hipótese. Mas não se pode pôr
em dúvida a responsabilidade.
As suspeitas se foram tornando
mais incisivas quando a revista Exame, em matéria do dia 1de setembro (1),
constatou que dezenas de economias nacionais estavam acusando quedas drásticas
do PIB. Entre elas, Índia, Brasil, Estados Unidos, Japão e praticamente toda a
Zona do Euro. Enquanto isso acontecia no mundo das vítimas, a China, “por haver
controlado rapidamente a epidemia”, logo voltou a crescer. Em abril, o jornal
El País (2), sobre cuja posição política não pairam incertezas, publicou
matéria listando reações de governos europeus, notadamente França e Reino
Unido, cobrando responsabilidades do governo chinês:
“Esperamos que a China nos respeite, como ela deseja ser respeitada”,
declarou na segunda-feira o ministro francês de Relações Exteriores, Jean-Yves
Le Drian. “Nada pode voltar a ser como antes” enquanto a China não esclarecer
de forma cabal tudo o que está relacionado com o vírus, observou na semana
passada seu homólogo britânico, Dominic Raab.
A interessante matéria
destaca, ainda, uma guerra de narrativas, com a qual, propagandisticamente, a
China exibe suas remessas de material médico e de enfermagem ao Ocidente,
enquanto silencia o fato de haver o Ocidente feito o mesmo quando o problema se
manifestou em Wuhan. A BBC, em 28 de julho, divulgou matéria em que médico
chinês afirma haver, em 12 de janeiro, informado as autoridades chinesas sobre
a transmissão humana do vírus. O alerta, contudo, só foi levado ao público em
19 de janeiro (3).
Por isso, penso que o PCC,
soberano senhor do povo chinês, repito, deveria oferecer sua vacina de graça à
humanidade. E a humanidade deveria devolver a mercadoria. Alias, gostaria que o
presidente da República enviasse uma dose dela para os jornalistas que o
recriminam por sua atitude de resistência. Quantos realmente iriam usá-la?
Enfim, a China deveria
indenizar a humanidade pelo estrago que fez, deveria usar seu aparelho
tecnológico para extinguir os riscos que provenientes dos maus hábitos
alimentares de alguns de seus cidadãos, ou dos ensaios empreendidos por
eventuais “doutores Nirvana” de seus laboratórios. Jamais, jamais, ganhar
dinheiro vendendo vacina às vítimas do vírus que veio de lá.
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre,
é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais
(Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo
Pensar+.
(1) https://exame.com/economia/pandemia-provoca-recessao-recorde-e-derruba-pib-de-ao-menos-28-paises/
(2) https://brasil.elpais.com/internacional/2020-04-21/franca-e-reino-unido-lideram-endurecimento-do-tom-europeu-com-a-china.html
(3) https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53569400
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