A prática ajuda a despertar o afeto, a compaixão, a empatia e outras competências que podem contribuir para que docentes e alunos vivenciem novas formas de ensino
Se antes a preocupação das escolas era centrada em dar conta do desenvolvimento
cognitivo dos alunos, dos conteúdos previstos na grade curricular, hoje é cada
vez mais evidente a necessidade de cuidar também da saúde mental das crianças e
adolescentes. Para muitos educadores, a meditação mindfulness é um dos caminhos
para uma educação mais humanizada, para a formação de seres mais saudáveis e
felizes.
Partindo dessa perspectiva, muitos colégios vêm adotando como parte da proposta
educacional a inserção da meditação mindfulness no dia a dia escolar. Para o
pedagogo e psicólogo Marcelo Cunha Bueno, fundador da escola Estilo de
Aprender, localizada em São Paulo, a prática, que busca estimular a vivência no
tempo e espaço presentes, tem um poder transformador.
"Grande parte da proposta cultural das escolas se baseia na ideia de que o
ser não está pronto e que nós educadores precisamos agir para que eles se
tornem alguém. Quando mudamos essa perspectiva e começamos a nos conectar com a
atenção plena, com o tempo presente, com o aqui e o agora, criamos uma relação
mais justa com a criança, a partir do que ela pode fazer nesse momento, do que
ela pode ser, do que acontece diante dos nossos olhos, sem julgamento. Isso é
dar chance para o nascimento de uma nova escola", afirma Marcelo.
As técnicas milenares do mindfulness consiste em focar a atenção no tempo
presente, ampliando a consciência sobre os pensamentos, sentimentos e ações, e
promete oferecer maior bem-estar, empatia, foco, melhores respostas aos
desafios e pressões diárias, menos estresse.
"Quando falamos da prática de mindfulness é importante deixar claro que
ela não muda o que acontece ao nosso redor, mas promove uma tomada de
consciência que nos tira do automático e nos leva a ter um olhar mais amplo,
oferecendo novas oportunidades de resposta àquilo que nos acontece, respostas
emocionalmente mais saudáveis, leves e positivas, tanto para crianças, quanto
para adultos, dentro e fora da escola", explica a especialista em
meditação Daniela Degani, idealizadora do projeto MindKids, que tem como
propósito levar a meditação para o ambiente escolar.
Os princípios da meditação mindfulness também estão inseridos na rotina da Juan
Uribe Inglês Afetivo, escola especializada no ensino afetivo do inglês para
crianças de 2 a 14 anos, em São Paulo. Para Juan, fundador da instituição,
ajudar as crianças a cultivar habilidades socioemocionais faz parte do processo
de ensino. "Se questões humanas como empatia, compaixão e generosidade
estão presentes, essas crianças vão conseguir brilhar em qualquer área. O que o
mercado de trabalho e o mundo mais precisa hoje é de pessoas humanas,
presentes, que não estejam anestesiadas", afirma o docente.
Segundo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard (EUA), da
Universidade Justus Liebig Giessen (Alemanha) e da Universidade de
Massachusetts (EUA), por exemplo, o mindfulness é capaz de modificar a
estrutura cerebral, aumentando a densidade da massa cinzenta no hipocampo e
reduzindo a massa cinzenta na amígdala. Em outras palavras, isso significa um
aumento da área cerebral ligada ao aprendizado, memória, introspecção, e
redução da área relacionada ao comportamento mais agressivo, reatividade e
respostas impulsivas.
Outra pesquisa realizada por cientistas da Universidade Católica de Leuven (KU
Leuven), na Bélgica, revelou que a prática do mindfulness também foi
responsável por reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e estresse nos
jovens.
Respaldadas por pesquisas científicas como essas, que comprovam os benefícios
do mindfulness para a formação integral dos alunos, escolas ao redor do mundo
seguem esse mesmo caminho na busca por uma educação transformadora, humana e
positiva.
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