Para especialista, formalizar denúncia é mais efetivo e ainda evita problemas legais para a vítima
Para dar visibilidade ao assédio sexual de
professores contra alunas, tentar combater o problema e alertar outras
possíveis vítimas, muitas jovens têm feito a exposição dos casos nas redes
sociais. As moças reúnem reprodução de telas (prints) e áudios de conversas em
aplicativos instantâneos de mensagens, como o Whatsapp, e publicam o material
em redes como o Twitter e Instagram:
"Esse movimento de exposição virtual e pública
decorre da sensação de impunidade. A partir do momento que as jovens vítimas e
seus familiares tiverem a percepção de que a comunicação do fato aos órgãos
responsáveis é suficiente para punir o indivíduo que agiu dessa maneira,
certamente não haverá a necessidade dessa exposição pública porque elas se
sentirão protegidas e amparadas pelas instituições que têm o dever de agir
dessa forma", explica Leonardo Pantaleão, advogado
especializado em Direito Penal.
Ao fazer a exposição, no entanto, as jovens ou seus responsáveis podem cometer
um crime e sofrer penalidades previstas em lei, caso ofendam a honra e a
reputação de uma pessoa. Por isso, o mais adequado é informar o caso às
autoridades públicas. "Pode ser em uma delegacia de polícia ou no
Ministério Público (MP), se a vítima for menor de idade, ou, ainda, órgãos do
poder judiciário. É importante que essas denúncias cheguem ao conhecimento da
secretaria de educação municipal ou estadual, no caso de escolas
públicas", esclarece Pantaleão. Ao formalizar a queixa em instituições
formais, autoridades acionadas darão o andamento usual com embasamento
jurídico ao crime cometido e/ou falta disciplinar/ética.
Linchamento
Virtual é passível de punição
Citar o nome de uma pessoa, assim como seus dados, e publicar sua imagem na
internet acusando-a de um crime, levando milhares ou milhões de usuários de
redes sociais a atacar, acusar e condenar a pessoa caracteriza um cenário de
linchamento virtual que pode acarretar sanções penais a quem o promove.
"Não se pode perder de vista que a internet não é uma terra de ninguém. É
perfeitamente possível identificar eventuais autores de ameaças ou de ofensas
ou algo do tipo", alerta Pantaleão.
Segundo ele, a ideia de "fazer justiça com as próprias mãos" também
está relacionada ao sentimento de impunidade, mas quem atua nas redes sociais
incitando agressões físicas, ameaçando alguém ou praticando outros delitos
contra a honra de uma pessoa pode responder por crimes. "Existe uma linha
muito tênue entre manifestar o inconformismo diante de um comportamento e
partir para uma ação que vai para a esfera criminal. A partir do momento que se
ofende a honra de uma pessoa, o direito penal já pode atuar de maneira
efetiva", afirma.
Leonardo Pantaleão
- advogado, professor e escritor, com Mestrado em Direito das Relações Sociais
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Doutorado na
Universidad Del Museo Social Argentino, em Buenos Aires e Pós-graduado em
Direito Penal Econômico Internacional pelo Instituto de Direito Penal Econômico
e Europeu (IDPEE) da Universidade de Coimbra, em Portugal, professor da Universidade
Paulista. Autor de obras jurídicas, palestrante com ênfase em Direito Penal e
Direito Processual.
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