A doença invadiu fronteiras de diversos países sem
seleção de poder econômico e político, raça ou idiomas. No nosso país, o coronavírus
escancara uma das inúmeras falhas estruturais, por exemplo: os que não têm água
encanada para lavar as mãos correm mais riscos. Além disso, a quarentena pode
ser ainda mais desesperadora para autônomos que precisam trabalhar fora de
casa, como pedreiros, carregadores de material, catadores e faxineiras. Eles
fazem parte de um dos grupos mais afetados pelo impacto e efeitos diretos e
indiretos do Covid-19.
Nas comunidades é gritante a dificuldade de
prevenção e de tratamento. A impossibilidade de manter o distanciamento social
e a ausência de salários fixos ou benefícios para sobreviver à quarentena, são
alguns dos fatores que fazem parte desta realidade. O coronavírus
apresenta novos riscos e intensifica os que já existem, deixando mais
aparente as diferenças sociais.
Grande parte da população da Rocinha ainda precisa
circular para trabalhar, o que aumenta a contaminação. É muito difícil fazer um
exame de covid na rede pública e a maioria não tem condições de usar a rede
particular. Apesar da dificuldade, as ações de comunicação e parcerias com
projetos da Rocinha surtem efeito e são um alento para muitos moradores.
Empresas, que têm mais recursos financeiros, prestam apoio no fornecimento de
cestas básicas e material de limpeza. O momento exige união e solidariedade,
características que estão sempre presentes no dia a dia do local. Uma parceria
com o projeto do ateliê da Maya Lele, por exemplo, gerou uma doação de 877
máscaras de tecidos e as costureiras foram remuneradas pelo serviço realizado.
Com o agravamento da doença no país, as comunidades
acabaram sendo ainda mais afetadas. Além dos problemas financeiros enfrentados,
outra problemática é a saúde mental. As pessoas que estão empregadas têm receio
de perder o emprego, outras se preocupam com os impactos da doença em suas
rendas. Existe as tensões relacionadas com o medo de passar fome, que causam
ainda mais sofrimento psíquico nestes grupos sociais.
Uma outra questão importante que a pandemia e a
quarentena traz como desafio, é a forma como as pessoas da comunidade lidam com
o dinheiro, fazem compras e pagamentos. Para evitar o contato direto e manusear
as cédulas de dinheiro, parte da população da Rocinha tem adotado o uso de
carteiras digitais, como o banQi (conta digital gratuita). Esse tipo de
tecnologia ajuda a manter uma distância segura inclusive das maquininhas de
pagamento, evitando uma maior contaminação e disseminação do vírus
Por isso, o pagamento digital tem sido uma forma de
facilitar a vida das pessoas na comunidade. Ele leva segundos para ser
realizado e pode prevenir contatos desnecessários durante a pandemia.
Percebemos que essa pandemia destaca a necessidade
de se ter acesso a diferentes formas de pagamento, opção que agora é acessível
na comunidade. Ainda assim, mesmo com o retorno à normalidade, é importante
continuar seguindo as principais recomendações da Organização Mundial da Saúde
de lavar regularmente as mãos, seja para mexer em dinheiro físico ou em
terminais de pagamento.
Agora, mais do que nunca, é extremamente necessário
se adaptar às novas medidas e cobrar as autoridades pelos direitos básicos
dessa população desamparada, principalmente em momentos de vulnerabilidade como
estamos vivendo nessa pandemia. De qualquer forma, acredito que unidos e com
força de vontade vamos conseguir vencer mais esse desafio.
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