sexta-feira, 8 de maio de 2020

Vale a pena investir no exterior?


Débora Toledo, advogada tributarista, acredita que sim e explica os motivos


Como alternativa à crise financeira e política que se instalou no Brasil devido ao novo coronavírus, uma das alternativas que se tornaram mais viáveis para os investidores que buscam diversificar e ampliar seus rendimentos é sim o investimento no exterior. Engana-se quem pensa que a prática é apenas para ricos. Com a democratização do mercado financeiro através das corretoras, é tão simples quanto investir nacionalmente. E ao contrário de outros investimentos, o investimento feito no exterior costuma valer a pena para todos. Principalmente por causa do histórico de apreciação do dólar em relação ao real. Assim, os investidores conseguem se proteger de eventuais depreciações e crises da nossa moeda.

Débora Toledo, advogada tributarista e assessora de investimentos da Cordier Investimentos/ BTG Pactual. Ela fez curso de Gestão de Empresas Familiares na Fundação Getúlio Vargas (FGV), mesma instituição onde completou o MBA em Mercados Capitais, na entrevista abaixo fala sobre os prós de investimentos externos. 


Quais são as formas possíveis de se investir fora?

Assim como no Brasil, no exterior também há diversos tipos de investimentos. Alguns dos mais comuns são:

  • Imóveis: precisa levar em consideração a legislação do local quanto às regras de compra e venda, tributação, impostos, etc. Lembrando que compra e venda de imóvel no exterior também exige o pagamento de imposto de renda aqui no Brasil.

  • Investimento via Exchange Traded Fund (ETF): o fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação pode ser um bom início para quem está começando a investir fora. 

  • Ações: é possível comprar ações nas bolsas de valores de diversos países como qualquer outro investidor. Basta ficar atento às regras de cada lugar em relação aos investimentos, taxas e tributação.

  • Certificado de Operações Estruturadas (COE): tipo de investimento que combina renda fixa e renda variável. 

As possíveis formas: 

- Renda Fixa
- Renda Variável
- Ações
- BDR/ADR
- Reits 
- ETF
- Imóveis
- Fundos de investimentos 
- Offshore 
- Abrindo conta em corretoras no exterior 


Entre elas, qual a melhor para quem está fazendo isso pela primeira vez e desconhece esse universo? Por quê?

Para quem ainda não investe fora, é importante conversar com especialistas nas áreas de finanças - credenciados pela CVM, ou professores e economistas que podem dar dicas e explicar tudo como funciona, de acordo com o perfil da pessoa. 

A melhor maneira para investir, para quem desconhece o assunto, é através dos assessores de investimentos. Um assessor nada mais é do que o profissional responsável por auxiliar investidores e potenciais investidores a tomarem suas decisões. Para quem já está mais avançado, pode começar através de ETF´S e fundos de investimentos.


Por que é vantajoso investir no exterior neste momento?

Primeiramente, devemos começar pelo princípio básico dos investimentos: diversificação. Os mercados internacionais foram duramente afetados pelo coronavírus, mas o Brasil foi um dos mais atingidos. Muita gente perdeu dinheiro nos Fundos Multimercados, nas Ações e até nos títulos do tesouro de longo prazo. Vale destacar que aqui ainda enfrentamos uma crise de commodities e a crise política. 

A questão é que se todos os recursos estiverem atrelados a ativos brasileiros, não há diversificação. Sejam eles de renda fixa ou variável, eles deviam estar expostos a outros mercados. Ter fundos imobiliários, fundos de ações, tesouro direto e ações, todos aqui, nada mais é do que colocar ovos diferentes na mesma cesta.

Isso sem falar na diversidade de ativos que podemos encontrar fora. A lista de ativos americanos, por exemplo, vai de lojas de video game a grandes empresas de petróleo. São milhares de empresas e/ou ETF’s dos mais diversos e variados segmentos que te permitem investir até em coisas que você entende mais do que as tradicionais Petrobras e Vale. E isso vale para renda fixa também. Ao todo, estamos falando de mais de 6000 ativos.


Para quem já tem investimento fora, o que é preciso avaliar no cenário internacional para saber se é hora de voltar com os investimentos para o Brasil?

Independentemente do cenário econômico mundial, é um fato que comparativamente a outros mercados, somos considerados “lixo” para muitos investidores. Pode parecer agressivo, mas essa é a tradução dada aos títulos de dívida de países considerados de alto risco perante os agentes internacionais – junk bonds – e o Brasil é um deles. Temos o mesmo grau de investimento que o Vietnã, Macedônia e o Paraguai. 

Infelizmente, a instabilidade e incerteza política e econômica fazem parte do nosso dia dia. Então uma verdade no mercado financeiro é que o Brasil é considerado um local arriscado a investimentos, independentemente do cenário internacional. 


É necessário ter conta no exterior para poder investir fora?

Não necessariamente. Muitas pessoas investem abrindo conta em uma corretora de valores no exterior. Isso porque, diferentemente do Brasil, as bolsas americanas possuem empresas do mundo inteiro sendo negociadas. Além de criar uma conta em uma corretora no exterior, existem outras formas de ter investimentos internacionais. Entre elas:

1. Fundos de Investimentos no Exterior

Investir em Fundos de Investimentos no Exterior, ou seja, em fundos que possuem em sua carteira ativos de fora do país. Essa alternativa evita obrigações com o Banco Central ou Imposto de Renda.

2- ETF´S 

Os Exchange Traded Funds são produtos negociados na bolsa que reúnem um conjunto de ações em um mesmo ativo. Com eles, é possível comprar cotas de fundos como se fossem ações.

Nesse caso, o investidor compra cotas dos ETFs, sendo que esses são administrados de forma passiva por uma gestora, que segue uma metodologia de investimentos. Em outras palavras, os ETFs possuem uma gestão passiva, seguindo a distribuição de carteira de um respectivo índice.

  1. BDRs (Brazilian Depositary Receipts)

Por último, outra forma de investir no exterior é por meio dos BDRs. Esses ativos são como ações de empresas americanas, porém negociadas na bolsa brasileira, a B3.

Diferentemente das ações de empresas negociadas nos Estados Unidos, os BDRs negociados na bolsa brasileira possuem a cotação em reais. Então, a variação de preço desses ativos depende da oscilação de preço da empresa na bolsa americana e também da cotação do dólar.


É necessário ter investimento interno para poder fazer o externo?

Não, mas é preciso ter uma conta no Brasil. A primeira maneira de enviar dinheiro para o exterior é por meio da plataforma de envio de dinheiro do Brasil oferecido pelo próprio banco/ corretora. 

Nesse caso, a corretora terá um serviço de envio de dinheiro, que normalmente é bastante simples. O investidor normalmente deve fazer uma TED do valor em reais para uma conta no Brasil. Depois, a corretora faz a conversão do dinheiro e credita o valor em dólar na conta do investidor.


O tempo de resgate é maior quando o dinheiro está investido fora?

Não. Isso segue a mesma lógica dos investimentos no Brasil: vai depender da aplicação. 


Como é a burocracia para fazer essa transação?

Depende do ativo que irá investir. Mas, no geral, é bem parecido a investir no Brasil e mais simples e barato do que era antigamente. 

Quais são as regras de tributação?

Para essa pergunta, não há resposta exata. Cada país tem uma legislação diferente em relação à tributação e à sucessão de bens. Por isso, sempre que for investir em algum país, é preciso pesquisar antes as regras de tributação.

Em alguns lugares, pode ser que o investidor tenha que pagar tributos em cima dos investimentos. Isso sem contar os tributos que deverão ser pagos aqui, que geralmente envolvem o Imposto de Renda e outras possíveis taxas que podem aparecer, conforme o caso.

Se for vender ativos em algum país, deverá declarar isso no país de origem e no Brasil. Há países que têm acordos com o governo brasileiro para facilitar essa questão e evitar que a pessoa seja tributada duas vezes (uma no Brasil e outra no país de origem dos ativos).

Como fica a situação em caso de herança e sucessões?

As questões de sucessão e herança são mais complexas. Cada país tem sua própria legislação referente ao tema. De maneira geral, o país onde os bens se encontram é o responsável por julgar as questões referentes à sucessão.

Se investir em ativos e comprar imóveis, por exemplo, em algum país estrangeiro, precisará observar as regras daquela nação. Logo, as chances da sucessão ocorrer com as regras de lá são grandes.

Outros países utilizam regras diferentes, declarando que as regras do país do domicílio do investidor é que são as válidas. Há lugares que declaram que é a nacionalidade do indivíduo que define o país competente para julgar o caso.

O Brasil, por exemplo, reconhece sua incompetência para julgar fatos em relação a imóveis e bens no estrangeiro. Como existem muitas particularidades nesse contexto, o ideal é que o investidor busque se informar antecipadamente com um especialista nas regras de sucessão e direito internacional.


As taxas fora são equivalentes às daqui? 

Tudo vai depender do tipo de investimentos. Em geral, são as mesmas taxas. Os imóveis é que são bem mais caros. 


Como abrir uma conta no exterior?

Depois de ter conversado com especialistas, o segundo passo é abrir uma conta no exterior, dependendo da opção desejada. É fundamental escolher uma instituição financeira confiável. Depois, é preciso pesquisar a situação do lugar, riscos políticos, tributação, qualidade dos investimentos e liquidez, entre outros. Uma pesquisa completa sobre o país, o mercado financeiro e as regras de investimento é de extrema importância neste momento.

Além de ver todos esses detalhes, é preciso conferir se a instituição escolhida está em harmonia com os objetivos do investidor e, principalmente, com o perfil do mesmo. Por isso, a necessidade de procurar informações referentes às opções de investimentos disponíveis e os custos de manutenção da conta bancária e outras possíveis taxas.

Cabe mencionar também que algumas instituições brasileiras permitem fazer investimentos no exterior sem precisar abrir uma nova conta. Se já investe por meio de alguma delas, basta se informar para saber se há essa possibilidade.



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