Desde o início da pandemia do novo coronavírus,
conhecer o real impacto econômico e a profundidade da crise tem sido um dos
maiores desafios para as instituições de referência, que buscam, por meio das
projeções para o PIB, orientar o mercado sobre a perspectiva econômica do
País.
Os últimos dados apresentados no início desta
semana reforçam o sentimento de incerteza ao demonstrar uma faixa de variação
mais ampla do PIB. O banco Itaú, por exemplo, projetou uma retração de 4,5%
neste ano, enquanto o banco alemão Deutsche prevê uma contração de 6,2% para a
economia brasileira. Já o americano JP Morgan vai além e prevê um recuo de 7%
para 2020. Com isso, nota-se que apenas a projeção do Itaú se aproxima da feita
pelo Banco Central, que é de -4,11%.
No final do mês de março, quando a pandemia
começava a despontar por aqui, o Banco Central Brasileiro ainda sustentava uma
projeção positiva de 0,02%, enquanto a agência de classificação de risco Fitch
Ratings apontava para um crescimento do PIB global de 1,3% no ano.
A deterioração das projeções vem ocorrendo
semanalmente e a quantidade de fatores que podem influenciar os dados vem
crescendo a cada dia. Qualquer projeção agora corre o risco de estar
subestimada ou superestimada, o que justifica a postura de cautela vista neste
momento.
Tratando-se de Brasil, a instabilidade política e a
fragilidade fiscal tornam o ambiente ainda mais incerto, a exemplo do veto
presidencial sobre a ajuda aos estados pelo governo federal que pode afetar
diretamente o déficit primário e acentuar as projeções já negativas da
economia. A parte mais leve desta história vem recaindo sobre o processo de
flexibilização que começou nesta semana em várias partes do mundo, mas que vem
sendo ofuscada pelo receito de uma nova onda de contágio e aplicação de medidas
mais restritivas, como o lockdown, em Pernambuco, Belém e
Niterói.
Infelizmente, o que se tem no momento é a certeza
de um cenário de queda ainda maior do PIB no 1º semestre e uma possível retomada
no 3º trimestre caracterizada por idas e vindas. Este é o entendimento do Copom
e da parte otimista do mercado que considera possível uma rápida reação
econômica após o pico de Covid-19. No entanto, seguimos reféns do novo
coronavírus, ao menos por enquanto.
Ernani Reis - analista da Capital Research
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