O desgaste emocional e a preocupação durante o
isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus têm tirado o sono
de muita gente, no sentido literal. Na nova rotina, o descanso é substituído
por sonos agitados, pesadelos e noites mal dormidas. A mudança, segundo o
neurologista e chefe do Serviço de Eletroencefalograma do Hospital Edmundo
Vasconcelos, Gilmar Fernandes do Prado, é uma resposta natural do organismo
para situações de perigo.
Afinal, o vírus, uma ameaça invisível, traz à
consciência pensamentos sobre morte, o desconhecido e o risco – elementos que
propiciam uma reação cerebral. “Temos mecanismos para nos defender de ameaças.
Diante desse quadro, nosso cérebro pode determinar comportamentos como o de
hiper alerta, a ruminação de pensamentos, a valorização de fatos
insignificantes ou alerta emocionais. No limite, esse cenário leva a estados de
ansiedade e depressão”, explica Prado.
Gilmar observa que durante algumas fases do sono o
cérebro está mais ativo e permite que as vivências do dia se transformem em
sonhos – agradáveis ou não -, pesadelos e ainda em dificuldade para despertar
ou insônia. “O sonho agitado e o pesadelo são a expressão natural da condição
instável e imprevisível que a pessoa experimenta durante o dia”, ressalta.
Em momentos intensos de medo e perigo, ele
esclarece que quem está fragilizado tende a estar mais suscetível a essas
manifestações. “Doenças, trabalho, desemprego e demais desvantagens sociais,
aumentam a fragilidade das pessoas que já iniciam o enfrentamento da pandemia
em estado mental desfavorável, possibilitando o agravamento de sua condição
clínica ou o surgimento de novas. Por vezes, é necessário inclusive cuidado
clínico”.
Como retomar a rotina de um sono tranquilo
Para evitar esses momentos desgastantes, é preciso compreender a
importância da rotina, mesmo durante a quarentena. Manter horários para dormir,
trabalhar e realizar outras atividades, como esportes, ajudam, segundo o
médico. Nesta programação é importante pensar até mesmo no consumo de
informação sobre a Covid-19. “É válido definir um único momento no dia para
isso, a fim de estabelecer limites e garantir que o acesso à informação
funcione como um meio de proteção e não como alarde”, diz.
Caso o sono persista tumultuado e faça você acordar
no meio da noite, o primeiro passo, segundo Gilmar, é despertar totalmente e
levantar da cama. “Ao voltar para a cama, faça um momento de relaxamento. Pense
em algo agradável, respire lentamente, percebendo a respiração. Uma música
agradável também pode ajudar a voltar ao sono”, explica. Ele alerta quanto à
persistência destes momentos. “Se não for possível por várias noites devido ao
volume de pesadelos, um profissional deverá ser consultado para ajudar o paciente
e avaliar até mesmo a necessidade de medicamentos”, conclui.
Hospital Edmundo Vasconcelos
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