Tudo o que acontece na
Medicina precisa de fundamentação. Como explicar que, em uma mesma casa,
familiares necessitam de internação em UTI por COVID-19 e outros não
desenvolvem a doença nem mesmo acusam a presença do vírus? Não basta dizer que
depende apenas da carga viral. A prática médica é fundamental nessa
interpretação.
As células do organismo
possuem moléculas chamadas de receptores, geneticamente determinadas. As
consequências do vírus se dão a partir do momento em que ele adere a esses
receptores.
Se não há aderência, a
doença não se desenvolve. Caso haja, ele adentra em uma organela intracelular
denominada lisossomo e desencadeia a replicação viral.
Consequentemente, ocorre
a produção de interleucinas e citocinas, o que resulta em efeitos diretos no
paciente. Todo esse processo não é novidade: é o modus operandi das
doenças infecciosas.
Portanto, é a quantidade
de interleucinas e citocinas liberadas que será responsável pelas manifestações
clínicas do COVID-19. Quanto maior a produção, maior a gravidade.
Não é o vírus quem
atinge o músculo e causa dor ou vai ao pericárdio ou miocárdio e acarreta
alterações cardíacas. São esses mediadores quem atuam sobre as estruturas do
organismo. O vírus pode até estar lá, mas não é o responsável pelos sintomas.
Minhas afirmações têm
base nos diversos estudos de Fisiopatologia. O mecanismo é o mesmo para todas
as doenças, facilitando o raciocínio do que está acontecendo.
No caso do novo
coronavírus, porém, há maior agressividade. As substâncias liberadas são muito
maiores e talvez tenham uma ação predileta por determinados órgãos, como
pulmão, rim, fígado e outros.
O COVID-19 é uma doença
clínica e deve ser tratada como tal. O diagnóstico precisa ser alicerçado na
fisiopatologia e não na semelhança. Uma gripe pode ter quadro semelhante ao de
coronavírus, por exemplo, mas é preciso que a investigação seja feita com
fundamentação nos procedimentos da patologia.
Além disso, o tratamento
deve ser o mais precoce possível. Existem estudos bem avançados e a
possibilidade de uma vacina no horizonte, mas em termos de tratamento, não há
nada estruturado, por enquanto.
O que temos de concreto,
liberado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), é o uso da cloroquina a
partir dos primeiros sintomas. A despeito do alarde diante dos efeitos
colaterais, posso dizer, com base em minha experiência de mais de 40 anos com o
medicamento, que nunca um paciente meu desenvolveu tais problemas. Na ausência
de outros métodos, os resultados positivos do uso terapêutico da cloroquina não
podem ser ignorados.
Ressalto, ainda, a
insensatez da disseminação do corticoide como possibilidade medicamentosa. Quem
o faz, desconhece totalmente a fisiopatologia da doença. A divulgação na mídia
surgiu por pessoas mal-intencionadas, com intuitos puramente mercadológicos. E
não podemos admitir tamanho absurdo na medicina de hoje, muito menos na crise
atual.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica
Nenhum comentário:
Postar um comentário