Crise do Coronavírus e o cumprimento dos contratos
Repetidamente, temos visto os efeitos negativos
causados pela pandemia COVID-19 em todos os países, os afetam a saúde, o modo
como as pessoas convivem e trabalham, o que causa um efeito caótico na economia
e, consequentemente, nos negócios das empresas, até mesmo em países mais
desenvolvidos.
Por conta da crise mundial, faltam insumos
importados para a produção, vemos uma enorme alta do dólar e queda das bolsas
de valores, há falta ou atraso na entrega de bens e serviços, aulas escolares
suspensas, inúmeros trabalhadores em home office, contratos de trabalho
suspensos, jornadas e salários reduzidos, vários eventos e feiras importantes
sendo adiadas ou canceladas, entre outras medidas de emergência, além de não
saber por quanto tempo sentiremos os efeitos da quarentena e da doença nas
nossas vidas.
Dessa forma, a dúvida que mais temos ouvido é sobre
os efeitos da COVID-19 no cumprimento de contratos e obrigações entre
contratantes e contratados. Uma pessoa pode ser responsabilizada pelo
descumprimento de uma obrigação, talvez de um contrato escrito ou verbal, caso
esteja impossibilitada de cumpri-lo em razão da pandemia?
No Brasil, pela regra geral, o devedor não responde
pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente
não houver assumido essa responsabilidade, compreendendo-se como caso fortuito
ou de força maior o fato necessário, cujos efeitos não eram possíveis de serem
evitados ou impedidos.
A pandemia pode ser enquadrada como caso fortuito
ou motivo de força maior hábil a limitar ou excluir a responsabilidade do
devedor sem culpa, podendo ocorrer suspensão do cumprimento das obrigações e
até mesmo, em alguns casos, o término do contrato se houver impossibilidade de sua
continuação, sem que haja direito do credor de pedir reembolso do valor pago ou
indenização por perdas e danos.
No entanto, essa regra comporta muitas exceções e
sua aplicação depende da análise de cada caso concreto. Ressalva-se, por
exemplo, os contratos que regulam como será tratada a situação de força maior,
contratos relativos a atividades que implicam na assunção de riscos e contratos
regulados por leis especiais, como relações com consumidores, contrato de
transporte marítimo, transporte aéreo, planos de saúde e contratos de trabalho.
Outro ponto que merece maior atenção é que cabe ao
devedor provar que o descumprimento da obrigação não se deu por culpa sua, mas
sim em razão da situação excepcional da pandemia, demonstrando que agiu de boa
fé e com a diligência normal, requerida para o cumprimento da sua obrigação,
ainda que em data postergada, sendo recomendável, sempre que possível, que as
partes negociem e entrem em acordo.
Contudo, é importante buscar orientação legal de
profissionais que acompanham as medidas anunciadas pelo governo e normas
publicadas diariamente. Além disso, é essencial ter em mente que nesses dias de
dificuldade, somente nos resta colaborar uns com os outros e esperar que logo a
pandemia seja contida, para que possamos voltar a ter vida normal.
Anne Joyce Angher - sócia da Angare e Angher
Advogados Associados, especialista em Direito Processual Civil e Pós-graduada
em Contratos Internacionais, pela Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP.
Também é especialista em Direito Tributário e Direito Processual Tributário e
coordenadora de obras jurídicas publicadas.
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