Neste século e no
século passado, nunca o Brasil e o mundo se mobilizaram nessa proporção em
combate a uma pandemia global, como acontece em relação ao coronavírus (Covid-19).
Se a preocupação em resguardar a saúde física e a vida é o foco de todas as
ações, agora é a vez de saúde mental entrar em pauta. A crise causada pela
doença impôs à sociedade um novo estilo de vida, ao qual ela não está
habituada. O isolamento e o distanciamento social, que vêm sendo chamados de
quarentena, têm causado alterações psicológicas em boa parte dela, que se vê
obrigada a trabalhar em casa, a manter distância de pessoas próximas e queridas
e a abrir mão de um bem valioso: a liberdade de ir e vir.
Nenhuma outra crise
mundial de saúde pública provocou tanto pânico na população em geral. O medo do
que é desconhecido, invisível e daquilo que vai acontecer pode ser paralisante.
Não sem razão. O Covid-19 tem uma capacidade assustadora de se multiplicar
entre as pessoas, e, para complicar, ainda não tem cura. Em algumas delas, mais
jovens e saudáveis, os sintomas podem não passar de febre amena, coriza e dores
no corpo, embora não haja garantias. Mas a população acima de 60 anos é mais
vulnerável ao vírus, que pode acarretar complicações respiratórias, uma espécie
de pneumonia severa, e levar à morte. Por incrível que pareça, nessa
conjuntura, soa menos duro lidar com doenças graves e raras, já embasadas e
para as quais há tratamento medicamentoso, do que com o coronavírus.
Vivemos uma era
tecnológica, em que o homem dispõe de cada vez mais possibilidades na palma das
mãos. Chegamos a testar carros voadores e, paradoxalmente, nos vemos retomando
a atenção para atos simples, como... Lavar as mãos. É impossível que essa
situação não mexa com a vida de todos. Como agir, como se comportar daqui para
a frente, como olhar o mundo de uma forma sensata nessa que pode vir a ser uma
nova ordem mundial? Ficará um aprendizado, quando tudo se normalizar.
Posso ou não sair
agora para a rua? Serei contaminado durante a compra no supermercado? Toquei a
maçaneta da porta e levei a mão ao rosto - peguei o coronavírus? Não consigo me
concentrar ou render trabalhando em home office - e a minha empresa vai
perceber. Em uma semana confinado em casa, a ansiedade está me matando. Fico o
tempo todo da sala para a cozinha e da cozinha para a sala, estou comendo
demais! Há uma solução?
São inúmeras as
questões sobre a (nova) vida cotidiana e aos efeitos que vem causando na saúde
mental da sociedade. A seguir, compartilho algumas dicas que podem ajudar a
passar pelos dias turbulentos com mais serenidade.
Todos contra o pânico
Trabalhando em casa
ou apenas em retiro doméstico, a sensação de desespero frente ao Covid-19 tem
sido comum. Porém, existem meios de combater essa sensação. Em primeiro lugar,
manter-se informado é essencial, mas deve-se evitar o contexto atual de
informações discordantes e excessivas. Uma sugestão é parar de acompanhar os
números de infectados, sob suspeita e mortos - um terrorismo contra si próprio
e com quem nos relacionamos pessoal ou virtualmente. Há, portanto, o momento de
se desligar do mundo exterior. Pesquisar a fonte das notícias para checar sua
confiabilidade é essencial, como é imprescindível ignorar as fake news,
bloqueando a sua disseminação. O bem-estar deve ser valorizado como nunca,
estipulando-se horários do dia para fazer atividades que trazem prazer, como
cozinhar, ler e assistir a filmes leves, belos e inspiradores. Respirar
corretamente e meditar também podem ser um ótimo remédio. A vida pessoal não
pode, de jeito algum, ser deixada de lado.
Ansiedade tem limite
Sensação de
impotência perante a crise e de não cumprimento dos deveres, medo de perder o
emprego. Para aqueles que estão em home office, sugiro criar uma rotina
semelhante à do escritório, inclusive nos horários: início, pausa principal
para a refeição, pausa secundária, fim do expediente. Usar a mesma roupa do
trabalho em casa chega a ser exagero, mas vestir pijama o dia inteiro é ainda
mais prejudicial. Escolher um local arejado, iluminado e distante da
movimentação familiar para trabalhar favorece, e muito, a disciplina e o
consequente rendimento. São atitudes que ocupam a mente e trazem a sensação de
produtividade, de vida que segue.
Atividade física
sempre foi e continua sendo essencial para a saúde do corpo e da mente. A
atitude “não vou fazer mais nada” deve, portanto, ser combatida. A ideia é se
movimentar. Alongamento, caminhada, exercícios abdominais e com pesos leves -
ou só com o peso do corpo -, antes ou depois do trabalho, em um ambiente
ventilado e claro da casa, só vão fazer lhe fazer bem.
Cuidados com a
alimentação
Temos ouvido
comentários de pessoas se queixando de sobrepeso nesses dias de confinamento
doméstico. Embora não seja possível afirmar que trabalhar ou ficar mais tempo
em casa engorda, valem algumas precauções. Assim como na questão laboral, os
esforços para manter a rotina quanto à alimentação no lar são cruciais. Ou
seja, alimente-se da mesma maneira que fazia antes do Covid-19, rigorosamente.
O almoço ideal era uma carne e uma salada? Mantenha o cardápio. Permitia-se
degustar sobremesas só aos fins de semana? Por que então assar bolos e fazer
doces durante a quarentena, e no meio da semana? O mesmo serve para o consumo
excessivo do álcool, outro vilão contra a saúde e o bem-estar pessoal.
Antídoto contra a
solidão
O ser humano é, por
natureza, relacional - com pessoas e animais. Ver-se apartado da vida social e
cultural pode ser traumático para algumas pessoas. A primeira queixa: a
solidão. Para aqueles que estão em casa acompanhados da família, tudo fica mais
fácil, ainda que com certo distanciamento. Há companhia. E para os solteiros?
Como o contato físico foi fortemente restringido, é hora de lançar mão das
armas que a tecnologia nos oferece. Mesmo à distância, é possível manter a
proximidade de amigos e familiares, fazendo uso de conversas salutares no
WhatsApp, por meio de vídeo chats etc. Distração é fundamental. Os que possuem
bichos de estimação, como cachorro e gato, conseguem desviar um pouco o foco
dos problemas ao dedicar atenção a eles, seres dependentes. De uma forma ou de
outra, é preciso se relacionar e “conviver” para que a sanidade mental não seja
afetada.
Se, mesmo tomando
esses cuidados, o sentimento for de mal estar, pânico, paralisia e total falta
de rendimento, é hora de buscar ajuda médica.
Dr. Mario José Mello
Martins - médico do trabalho e gerente de Gente e Cultura da GOL Linhas Aéreas
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