quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Miopia em crianças x multiplicação das telas eletrônicas


 Níveis crescentes de miopia carregam implicações clínicas e econômicas significativas, com mais pessoas em risco de complicações associadas à alta miopia


O número de pessoas com miopia aumentou dramaticamente nos últimos anos em várias regiões do mundo. Por exemplo, em muitas cidades da China, mais de 90% dos estudantes universitários tem miopia. Em números absolutos, essa é uma das maiores epidemias que a humanidade já viu, muito maior que a epidemia da obesidade.

O boom da miopia foi observado pela primeira vez na década de 1980, nas cidades dos países do leste asiático, como Coreia, Taiwan e Cingapura. As cidades da China apareceram logo depois no radar, e uma tendência semelhante está sendo observada na Europa.


Do borrão à cegueira

Para a maioria das pessoas, a miopia é apenas um inconveniente que requer correção com óculos, lentes de contato ou cirurgia refrativa. “Na verdade,  a miopia está associada a um risco aumentado de cegueira por descolamento de retina, glaucoma e degeneração macular miópica. O risco de cegueira aumentou com o agravamento da gravidade da miopia e esse é um grande problema de saúde pública”, afirma o oftalmologista Virgílio Centurion, diretor do Instituto de Moléstias Oculares (IMO).

Pesquisadores, oftalmologistas e pais de crianças que desenvolvem miopia procuraram explicações e o último "culpado detectado" é o uso de dispositivos eletrônicos pessoais. Mas a epidemia de miopia na Ásia precedeu o lançamento dos telefones inteligentes por muitos anos (o primeiro iPhone foi lançado em 2007). Novas tecnologias - televisores nos anos 60, computadores nos anos 80, laptops, nos anos 90 e atualmente smartphones e tablets - foram todos acusados ​​de causar miopia.

Já em 1600, o astrônomo alemão Johannes Kepler, quem primeiro identificou que as lentes côncavas poderiam corrigir a miopia, teria atribuído sua miopia a todos os seus anos de "intenso estudo de tabelas astronômicas e assim por diante".


Quem é culpado pela miopia?

Então, o que os pesquisadores descobriram até agora? “Ter pais com miopia aumenta o risco de uma criança ter miopia. Mas as crianças podem imitar o estilo de vida potencialmente indutor de miopia de seus pais - como usar mais a visão de perto, que requer foco em objetos em close e estudar muito -, bem como herdar seus genes”, afirma o oftalmologista Eduardo de Lucca, que também integra o corpo clínico do IMO.

Após anos de debate sobre se a miopia é devida a fatores genéticos ou ambientais (leitura e abuso de telas), agora sabemos que ela é uma interação entre os genes e o ambiente. A miopia não resulta de um único defeito genético; mais de 160 genes interagindo contribuem para o risco de miopia.


Quais são os gatilhos ambientais que explicariam uma epidemia?

“Muitos estudos analisaram possíveis fatores de risco, mas apenas alguns foram publicados de maneira consistente em todo o mundo sobre anos de estudo e falta de tempo gasto ao ar livre durante o dia.  Isolar essas interações é um desafio, porque esses fatores estão inter-relacionados: crianças que estudam mais, passam menos tempo ao ar livre”, afirma Eduardo de Lucca.


Não culpe apenas a tecnologia

Apesar de décadas de avisos dos pais, nenhum estudo mostrou que ficar sentado perto da televisão causa miopia. Nos últimos anos, diversos artigos analisaram a miopia e os dispositivos eletrônicos pessoais. Alguns, mas não todos, encontraram uma associação entre a quantidade de uso da tela e a miopia. Mas isso não significa que o tempo de tela em si cause miopia.

“Em vez de ler livros, as crianças estão lendo mais nas telas e mudando a natureza de suas atividades, usando mais a visão para perto. As taxas crescentes de miopia estão relacionadas a estes comportamentos: usar a visão de perto, em vez do uso da tela em particular”, explica Eduardo de Lucca.

As crianças também estão mudando a maneira como usam as telas. A ideia de que o uso da tela ocorre em ambientes fechados foi completamente derrubada pela mania do Pokémon Go, quando  os jogadores saíam com seus smartphones em busca de guloseimas virtuais.  Além disso, agora, temos crianças usando óculos de realidade virtual para jogar e estudar.


Limites de tempo na tela

Ainda assim, destacamos as diretrizes australianas para o uso das telas, que recomendam que:

  • Crianças menores de dois anos não devem ter acesso às telas;
  • Crianças de dois a cinco anos devem ter no máximo uma hora de tela por dia;
  • Crianças de cinco a 17 anos de idade devem limitar-se a duas horas de uso de tela recreativamente por dia.

Não há base científica rigorosa para impor esses limites em relação à saúde visual. Mas um estudo recente mostrou que uma grande porcentagem de crianças excede esses prazos. Os possíveis problemas de saúde relacionados ao tempo de tela são diversos. Sono, postura, nível de atividade física e problemas comportamentais são outros motivos de preocupação.


Basta sair mais?

Diferentemente das gerações anteriores, a maioria das crianças hoje passa muito tempo na frente de telas. Mas não temos resultados consistentes sobre o uso de televisão, computadores, tablets, smartphones ou até de óculos de realidade virtual, como a principal causa da miopia.

“Claramente, precisamos de estudos grandes e bem conduzidos, nos quais possamos medir diretamente o uso do tempo de tela em uma ampla gama de problemas de saúde, desde a infância até a idade adulta jovem”, diz o oftalmologista Eduardo de Lucca.

Algumas cidades da China estão aferindo o tempo gasto ao ar livre pelas crianças, nas escolas, para ver se isso impede ou diminui o progresso da miopia.




IMO-Instituto de Moléstias Oculares
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