quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Carnaval chama atenção para prevenção de HIV em mulheres


Mais de 93 mil casos de infecção por HIV em mulheres foram notificados no Sinan entre 2007 e junho de 2019, de acordo com o último Boletim Epidemiológico lançado em dezembro de 2019 pelo Ministério da Saúde. Esse número representa 31% do total de diagnósticos.

Nesse mesmo período, observou-se que a maioria dos casos de infecção encontra-se na faixa dos 20 aos 34 anos, com um percentual de 52,7%. Em mulheres com mais de 13 anos de idade, 86,5% se encontram na categoria de exposição heterossexual.

Comparando os dias de hoje com o início do surto da AIDS no Brasil, o cenário é promissor. Da década de 1980 até o início dos anos 90, a doença estava em seu pico de epidemia. Segundo o Ministério da Saúde, o perfil das pessoas vivendo com HIV/AIDS no Brasil nos anos 80 era composto majoritariamente por homens que faziam sexo com homens. As mulheres passaram a representar uma parcela relevante apenas no início dos anos 90.

Essa década, especificamente o ano de 1992, foi uma fase complicada para Nair Brito, que recebeu o diagnóstico de infecção pelo HIV: “Pensei: ‘meu mundo acabou’! Eu achava que tudo o que eu tocasse estaria infectado e a maior dificuldade foi conseguir desconstruir essa ideia de autopreconceito”.

Na época, pouco se sabia da doença. As pessoas diagnosticadas com HIV/AIDS ficavam com a saúde muito debilitada, o que dava espaço para doenças oportunistas, responsáveis por grande parte das mortes em razão das opções de tratamento ainda bastante escassas.

Em 1996, Nair foi à Justiça em São Paulo em busca de um tratamento adequado. Em junho do mesmo ano ela conseguiu uma liminar, a primeira no país, que obrigou o Estado a lhe fornecer os medicamentos necessários.

Casos como o de Nair devem ser lembrados, principalmente nesta época de Carnaval, quando a consciência na hora de se prevenir em uma relação sexual muitas vezes é deixada de lado. Mesmo com a facilidade de acesso as alternativas de proteção, como apresentado pelo Sinan, nos últimos anos houve um aumento de casos de HIV em jovens.

As pessoas, especialmente as que não presenciaram o pico de mortes no auge da epidemia, passaram a se prevenir menos quando se trata de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Como atualmente estas possuem tratamento, as pessoas pensam que se contraírem a doença, basta se tratar, rejeitando, assim, o uso do preservativo.

Segundo a Dra. Rita Manzano, Infectologista e Diretora Médica da Gilead Sciences, o uso da camisinha, tanto feminina quanto masculina, é uma forma eficaz de prevenir a transmissão do HIV e de outras ISTs. Ainda assim, existem outras formas de prevenção, a exemplo da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Pós-Exposição (PEP): “A PrEP se baseia no uso de medicamento antirretroviral por pessoas que não estão infectadas pelo HIV, mas que se enquadram nas populações prioritárias. Já a PEP pode ser tomada, preferencialmente, nas primeiras duas horas após a exposição de risco ao vírus”.

A estratégia de combinar formas de prevenção é indicada para segmentos populacionais prioritários: homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo ou pessoas que eventualmente recebam dinheiro ou benefícios em troca de serviços sexuais e, por último, pessoas sem o vírus que estejam se relacionando com uma pessoa vivendo com HIV. A PrEP  e PEP estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, os postos de saúde e até alguns terminais urbanos de ônibus distribuem preservativos gratuitamente – o que favorece o incentivo à proteção.




Fonte: Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS 2019 do Ministério da Saúde: www.saude.gov.br

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