Câncer da Próstata e
Cuidados Básicos com a Saúde
Prevenção,
diagnóstico precoce, qualidade de vida, tratamentos e novas pesquisas
Estamos
em plena turbulência na área da saúde em virtude do novo coronavírus, o
2019-nCoV, nome científico do vírus pertencente à família de vírus chamada
Coronaviridae. E é claro que toda atenção é pouca, dada a gravidade da doença.
Tudo pode e deve ser investigado, e já estão em curso pesquisas que podem
resultar em uma nova vacina.
Do
ponto de vista global da saúde, a prevenção é a palavra-chave. No caso de
infecções virais, a higiene é essencial, como lavar bem as mãos, por exemplo.
Da mesma forma, quando não se trata de doenças não infecciosas, medidas
preventivas também se tornam aliadas e cada vez mais necessárias.
Iniciativa
da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), com o apoio da
Organização Mundial da Saúde (OMS), o Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro)
tem como uma das premissas justamente a prevenção e os cuidados básicos com a
saúde. Serve ainda de alerta para políticas públicas governamentais e para
ações individuais, entre as quais a conscientização para a realização de exames
periódicos preventivos e diagnóstico precoce.
“Falta
plena conscientização por parte dos homens sobre o câncer da próstata porque
ainda há muito preconceito, medos e tabus que impedem uma avaliação precisa e
antecipada da doença. Como resultado, inúmeras mortes poderiam ser evitadas,
caso a procura por um urologista fosse mais recorrente e a doença pudesse ser
diagnosticada precocemente”, esclarece Marcelo Bendhack, Doutor em Urologia
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Professor Coordenador de
Pós-Graduação em Urologia pelo Hospital da Cruz Vermelha – Universidade
Positivo.
As
mortes evitáveis destacadas pelo médico decorrem muito pela falta de exames
preventivos que podem detectar o câncer da próstata. Segundo estimativas, há
possibilidade de cura em até 70% dos casos diagnosticados em sua fase inicial,
além das melhores chances de tratamento e qualidade de vida do paciente após o
tratamento.
Dados
do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que, no Brasil, a doença é o
tumor não cutâneo mais comum no homem - o de mama na mulher. Em 2018,
foram aproximadamente 70 mil casos/ano, com mais de 15 mil mortes (2017).
“Na
fase inicial, os sintomas e a evolução do câncer da próstata são silenciosos.
Por isso os exames de rotina são fundamentais. Dificuldade de urinar,
necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e sangue na urina são
alguns sinais de alerta. Às vezes não são resultantes do câncer da próstata,
mas é importante que seja investigado”, afirma Bendhack.
Riscos, estilo de vida e estresse
Os
fatores de risco mais citados da literatura médica são a idade (cerca de 75%
dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos) e a hereditariedade -- pai ou
irmão e familiares até segundo grau com câncer da próstata antes dos 60 anos.
Ainda não muito conclusivo, a afrodescendência parece ser também um fator de
risco que predispõe à doença no sexo masculino. Para esses grupos a
recomendação é realizar exames de rotina a partir dos 45 anos de idade e, de
forma geral, recomenda-se exames anuais a partir dos 50 anos.
“O
que pode ajudar a minimizar riscos, e até evitar a doença, é prestar mais
atenção ao estilo de vida, aos hábitos alimentares e, principalmente, ao
estresse. Fatores externos influenciam nosso organismo. Temos observado isso
graças aos avanços da medicina, especialmente no campo da epigenética que, de
acordo com pesquisas científicas recentes, tem facilitado o entendimento dos
fatores externos que foram ruins para nós. Isso nos permite alterar
conscientemente seu impacto em nosso organismo, a fim de otimizar a regulação
epigenética de nossos genes novamente, para que nossas células permaneçam
saudáveis”, explica o urologista e uro-oncologista Marcelo Bendhack.
Exames
A
biópsia é o único procedimento eficaz para confirmar o câncer de próstata.
Embora não sejam 100% precisos, é normal o urologista pedir exame de sangue
(dosagem de PSA) e realizar o exame de toque retal, que permite perceber se há
nódulos (caroços) ou tecidos endurecidos. “O exame de toque é um forte aliado na
detecção precoce do câncer de próstata. É rápido, indolor e raramente causa
incômodo no paciente. Infelizmente, ele ainda é refutado por alguns homens”,
relata Bendhack.
Exames
de imagem também podem ser solicitados, como ecografia transretal, ressonância
magnética e cintilografia óssea.
Tratamentos e Novas Pesquisas
Entre
os tratamentos mais indicados estão a radioterapia, a terapia hormonal e a
prostatectomia radical, cirurgia que pode ser recomendada em casos específicos.
Já realizado em muitos países, inclusive pela rede particular e pública no
Brasil, outra opção já consolidada é o HIFU (sigla em inglês para High
Intensity Focused Ultrassound, que significa Ultrassom Focalizado de Alta
Intensidade).
O
HIFU é um método utilizado no tratamento do câncer de próstata localizado.
Opção de terapia focal, onde apenas o tumor é tratado, em vez de toda a
glândula da próstata, o HIFU evita que estruturas importantes localizadas ao
redor da próstata sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas, o que reduz os
efeitos colaterais, como incontinência urinária e impotência sexual.
Em
recente publicação na BJUI Internacional¹ (23 de janeiro de 2020), uma das
principais revistas científicas em urologia, pesquisadores ingleses avaliaram
821 homens, sendo que 654 foram tratados apenas uma vez com a terapia HIFU
focal/localizada e 167 passaram por um segundo procedimento com HIFU. O segundo
grupo apresentou pequenos efeitos colaterais na função urinária e erétil, mas
ainda muito baixos em relação aos demais tratamentos para o câncer de próstata
não metastático.
“O
futuro da medicina não será dominar apenas um tipo de tratamento, mas conhecer
profundamente a doença neoplásica em toda sua possível evolução, apresentar e
discutir com o paciente os riscos e os benefícios de cada tratamento, avaliar o
melhor quadro visando a excelência do resultado oncológico e conhecer
integralmente o paciente, visando a sua qualidade de vida”, conclui Bendhack.
Marcelo
Bendhack - Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA),
especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e membro do conselho
da Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF). Doutor em Uro-Oncologia pela
Universidade de Düsseldorf (Alemanha) e em Urologia pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR). Tem formação reconhecida internacionalmente no diagnóstico
precoce (screening), biópsia da próstata dirigida por ultrassonografia,
ultrassonografia do aparelho geniturinário e nos tratamentos altamente
especializados na área de uro-oncologia - tumores malignos dos seguintes órgãos
e regiões: rim, bexiga, próstata e testículos. Pioneiro, no Brasil, no
tratamento do câncer de próstata com a técnica HIFU, com mais de 300
procedimentos realizados desde 2011.
¹Evaluation
of functional outcomes following a second focal‐HIFU in men with primary localised,
non‐metastatic
prostate cancer; Results from the High Intensity Focused Ultrasound Evaluation
and Assessment of Treatment (HEAT) Registry.
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