No inspirador A condição da Arte – texto que serviu
de prefácio a um de seus livros – Joseph Conrad (1857-1924) nos fala da “sutil, mas
invencível, convicção de solidariedade que entrelaça a solidão de incontáveis
corações, a solidariedade nos sonhos, na alegria, no sofrimento, nas aspirações,
nas ilusões, na esperança, no medo, que une os homens uns aos outros, que une
toda a Humanidade”.
Desconheço definição melhor da mais alta aspiração
que possa ter um escritor: tocar, com esse senso de solidariedade universal, “o
outro”. Até não muito tempo atrás, no entanto, era dificílimo um livro
transcender barreiras geográficas e linguísticas, e ponho-me a pensar, por
vezes, em quantas obras fantásticas não se perderam na soleira do tempo por
simplesmente não terem alcançado os leitores a cujos temperamentos melhor
apelaria.
Hoje, porém, a propagação de livros em formato
digital – outrora apressada e equivocadamente considerados “o começo do fim dos
livros de papel” – permite que se atinjam públicos nas mais variadas partes da
Terra – o que foi reforçado pela recente difusão de plataformas de impressão
sob demanda, que servem para somar – e não para competir, espero – com o
primoroso e imprescindível trabalho das editoras tradicionais (muitas das
quais, a propósito, já colocam seus livros em aludidas plataformas).
E, realmente, raros acontecimentos podem dar
satisfação maior a um escritor que ver seu livro sendo amplamente lido no
próprio país e idioma, e também em outros.
A literatura aprimora em nós a propensão à empatia.
Como diz um dos personagens em meu romance O silêncio dos livros – obra já
traduzida para o inglês e o espanhol, e que traz o aterrador cenário
(infelizmente, nem sempre distante de nós) de um mundo com livros censurados, “através
das personagens conseguimos observar o mundo com outros olhos, saboreando vidas
que não as nossas e, assim, melhor entender os que nos cercam”.
Falar ao diferente, com respeito reverencial à
diversidade cultural, nacional, sexual, ideológica, com sensibilidade voltada à
ampla variedade do ser humano, torna ainda mais desafiadora – e importante,
penso – a atividade daquele que se dispõe a falar (escrever) aos corações
humanos. Como já escrevia há mais de um século Robert Louis Stevenson
(1850-1894) em Essays in the Art of Writing, “aqueles que escrevem têm o
dever de ver que o conhecimento de cada homem é, o quanto mais próximo possa
ser, resposta aos fatos da vida; que ele não deve supor a si mesmo um anjo ou
um monstro; nem tomar este mundo como o inferno; nem imaginar que todos os
direitos estão concentrados em sua própria casta ou país, ou que toda a verdade
resida em seu credo paroquial.”
Vida longa – e por todo o mundo – aos livros!
Fausto Luciano Panicacci - escritor, best-seller da Amazon. Autor de O silêncio
dos livros (romance), Naufrágios (contos e poemas) e de obra
jurídica. Doutor em Direito e promotor, foi professor no GV/Law da FGV/SP.
Estudou fotografia, história do cinema e história da arte. Recentemente lançou O silêncio
dos livros em Portugal, Espanha, Estados Unidos e México.
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