O pesquisador
imagético, Prof. Dr. Jack Brandão, e a jornalista, Mariana Mascarenhas, abordam
as estratégias digitais para viciar o público, que parece se sentir cada vez
mais só em meio à multidão
Cercado de contatos por todos os lados, o ser
humano nunca pareceu se sentir tão isolado. Achou confuso? Pois esse paradoxo
vem sendo, cada vez mais, fomentado pelas famosas redes sociais, que nos
colocam em contato com infinitos “amigos” virtuais, que agregam em quantidade,
mas desagregam em qualidade. Afinal, quanto maior a lista de contatos, mais
difícil é manter uma conversa mais aprofundada com cada um deles.
Nos tempos atuais, as gerações mais jovens são as
que mais tem experimentado essa contradição, afinal já nascem conectadas e,
desde cedo, se habituam com a instantaneidade proporcionada pelas redes. Alguns
já têm consciência de certos malefícios que ela pode trazer, como é o caso de
alguns dos 1400 jovens brasileiros que responderam à pesquisa Juventudes
e Conexões, da Fundação Telefônica Vivo. Para 60% deles, a rede
virtual é responsável por ampliar o isolamento e 54% dizem se sentir inseguros
com ela.
Assim, se muitos têm tal consciência por que não
conseguem evitar um uso demasiado das tecnologias digitais? O Prof. Dr. Jack
Brandão, que há mais de 30 anos estuda o impacto das imagens na sociedade contemporânea,
ressalta que a perfeição imagética criada nas redes sociais é um dos fatores
responsáveis por viciar internautas, mesmo que estes saibam dos seus males.
“O mundo superficial dos sorrisos e da felicidade
construída, predominante nos perfis de facebook e instagram, gera
uma satisfação momentânea que faz com que muitos desejem postar cada vez mais
imagens de si, aparentando estar sempre bem”, diz o professor. Ele ressalta que
tal ação acaba gerando um comportamento vicioso ao inserir muitos num mundo
fantasioso, do qual não conseguem mais se desprender e acreditam depender dele
para serem felizes. “A grande questão é que fundamentam sua felicidade numa
projeção imagética e não nos acontecimentos do mundo real, o que impossibilita
uma alegria verdadeira e duradoura”, completa.
Ainda segundo Brandão, nós nascemos, crescemos e
morremos cercados de imagens e, justamente por isso, nos tornamos seus
consumidores vorazes; no entanto, nos esquecemos de que estas traçam um caminho
próprio, muitas vezes, de modo completamente dissociado da realidade, chegando
inclusive a distorcê-la para atingir determinados interesses de quem produz as
imagens. “Quanto mais ciente o homem está do poder imagético, mais ele pode
utilizá-lo para influenciar determinado público a acreditar no que ele deseja”.
A jornalista e Mestra em Ciências Humanas, Mariana
Mascarenhas, ressalta algumas estratégias utilizadas, justamente, para
influenciar um público. “Um exemplo é o recurso de rolagem infinita inventado
pelo programador norte-americano Aza Raskin, que se trata do conteúdo infinito
a que temos acesso conforme descemos a tela do celular, considerado um dos
responsáveis por viciar internautas.”
Para a jornalista há outros recursos e estratégias
usadas pelas gigantes de tecnologia para tal envolvimento, como a explosão
instantânea de conteúdo, que impede o processamento de tantas informações pelo
cérebro e as notificações sonoras, que, muitas vezes, não trazem nada de
significativo, mas geram ansiedade somente pelo fato de alertar sobre algo
novo, entre muitos outros.
Diante de tudo isso, Mariana considera que as
gerações mais novas acabam sendo as mais afetadas ao fazerem uso frenético das
redes sociais, encontrando mais dificuldades lidarem com as frustrações da
vida, uma vez que o ambiente digital lhes proporciona a falsa sensação de
alcançarem o que desejam com base nas próprias escolhas das opções apresentadas
– esquecendo-se que estas já foram pré-definidas.
Já o pesquisador Brandão diz: “A imagem nunca é
universal, ela gera diferentes interpretações por cada um de seus leitores
baseado em sua formação sociopsicológica e, com relação aos jovens em processo
de amadurecimento do conhecimento, toda a imagem absorvida gerará um efeito
maior, que poderá influenciá-lo para o resto da vida, como é caso do mundo
digital perfeito”.
Portanto, é preciso pensar e repensar no uso das
mídias digitais, principalmente pelas gerações mais novas, e o quanto, muitas
vezes, poucos contatos reais podem ser muito mais valiosos que uma infinidade
de contatos virtuais.
Prof. Dr.
Jack Brandão - Doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo
(USP). Diretor do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS, editor da Lumen et
Virtus, Revista interdisciplinar de Cultura e Imagem,
pesquisador sobre a questão imagética em diversos níveis, como nas artes
pictográficas, escultóricas e fotográficas.
Mais informações: condesfotosimagolab.com.br
Canal no Youtube: www.youtube.com/user/jackbran
Mariana
Mascarenhas - Jornalista. Mestra em Ciências Humanas pela UNISA.
Especialista em Comunicação Organizacional. Pesquisadora da Comunicação.
Desenvolveu projeto de pesquisa dedicado a estudar o papel do público midiático
a partir de um novo estudo interdisciplinar das Teorias da Comunicação,
pesquisadora do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS.
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