Uso do dolutegravir é ampliado para pacientes
infectados pelas duas doenças. Medida representa mais segurança e efetividade
no tratamento de HIV/Tuberculose, além de reduzir complicações
A partir de agora, as pessoas com HIV/aids poderão
manter o tratamento com o antirretroviral dolutegravir se também contraírem a
tuberculose. Antes, o uso desse fármaco era contraindicado durante o tratamento
da tuberculose. Assim, era preciso adequar o esquema terapêutico para o HIV, ou
seja, substituir por outro antirretroviral, para, então, iniciar o tratamento
da coinfecção por HIV e tuberculose. A iniciativa foi possível após estudos
científicos indicarem a eficácia e segurança do uso do dolutegravir combinado
aos medicamentos para tratar pessoas infectadas por tuberculose. O
dolutegravir, considerado um dos mais modernos do mundo, é ofertado no Sistema
Único de Saúde (SUS) desde 2017 para pessoas vivendo com HIV.
“O SUS, mais uma
vez, demonstra que está preocupado em oferecer o que há de melhor para os
brasileiros, sempre atualizando tratamentos e incorporando novos medicamentos
para garantir o melhor cuidado ao cidadão”, destacou o secretário de Vigilância
em Saúde, Wanderson Oliveira.
A ampliação do uso
do medicamento nos casos de infecção dupla (HIV/tuberculose), publicada neste
mês pelo Ministério da Saúde, permitirá reduzir a ocorrência de complicações
durante o tratamento, além da possibilidade de alcançar mais rapidamente uma
melhor qualidade de vida para o paciente na comparação com outros
antirretrovirais usados no tratamento de HIV.
Antes de ser
aprovada, a ampliação do uso do dolutegravir passou por consulta pública para
que entidades médicas e pacientes pudessem opinar sobre a iniciativa. Esta
reformulação foi conduzida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia
no SUS (Conitec), após pedido da Secretaria de Vigilância em Saúde, do
Ministério da Saúde, para atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas (PCDT), que orienta o diagnóstico e tratamento das doenças.
QUEM TEM HIV TEM MAIOR RISCO
DE INFECÇÃO POR TUBERCULOSE
As pessoas que
vivem com o HIV têm 25 vezes mais risco de desenvolverem tuberculose quando
comparado a pessoas que não têm o vírus. Isso acontece por causa da fragilidade
do sistema imunológico, responsável por defender o organismo contra doenças. No
Brasil, em 2017, dos 74,8 mil novos casos registrados de tuberculose, 11,4%
apresentaram resultado positivo também para o HIV, o que representa 8,5 mil
pessoas infectadas pelas duas doenças (TB-HIV). Apesar de ainda representativo,
este é o menor percentual registrado desde 2014, quando 12,4% (8,8 mil) das
pessoas identificadas com tuberculose também viviam com HIV.
Desde então, o país
vem conseguindo diminuir a coinfecção a partir da ampliação do diagnóstico e
tratamento disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), gratuitamente, para as
duas doenças. Em 2009, eram 3.162 pacientes em uso de medicamentos
antirretrovirais para HIV durante o tratamento da tuberculose. Em 2017, esse
número passou para 5.155 pacientes, um aumento de 63%.
Além disso, ao
longo dos anos, o Ministério da Saúde tem ampliado o número de teste rápidos de
HIV distribuídos aos estados. Em 2014, foram 6,4 milhões de testes distribuídos
e, em 2019, foram 13,8 milhões, um aumento de 116%.
O risco de óbito em
pessoas com infecção dupla, por tuberculose e HIV, é 3,08 vezes maior do que o
risco de mortes em pessoas apenas com tuberculose, sem HIV. Dentre as pessoas
com HIV e tuberculose, 19% evoluem para óbito, enquanto que entre aquelas que
possuem apenas tuberculose, sem a presença do vírus HIV, o percentual é de
6,2%.
TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NO
SUS
O tratamento da
tuberculose é disponibilizado no SUS e deve ser realizado, preferencialmente em
regime de Tratamento Diretamente Observado (TDO), que é indicado como principal
ação de apoio e monitoramento do tratamento das pessoas com tuberculose. Em
pessoas vivendo com HIV, o Ministério da Saúde orienta o monitoramento das
interações medicamentosas e eventuais efeitos adversos.
Além do
estabelecimento do vínculo entre profissional de saúde e a pessoa com
tuberculose, o TDO inclui a observação da ingestão dos medicamentos pelo
paciente por um profissional de saúde. Vale lembrar que o tratamento deve ser
realizado, idealmente, em todos os dias úteis da semana. O local e o horário
para a realização do TDO devem ser acordados com a pessoa e o serviço de saúde
mais próximo. Nos casos de coinfecção HIV e tuberculose, recomenda-se que o
acompanhamento clínico e seguimento do tratamento de ambas seja feito em um
único serviço de saúde.
Apesar da doença
ter cura, o abandono do tratamento é o principal motivo para a tuberculose
ainda continuar fazendo vítimas fatais: cerca de 4,5 mil por ano. O tratamento
dura, em média, seis meses. E, apesar da melhora dos sintomas já nas primeiras
semanas após início, a cura só é garantida ao final do esquema terapêutico. A
interrupção do tratamento antes da conclusão pode levar à resistência aos
antibióticos ou mesmo a complicações que podem levar a óbito.
Vanessa Aquino
Agência Saúde
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