A tendência do
indivíduo a retribuir o bem realizado por outras pessoas é ferramenta
importante para ser empregada na vida profissional
Tentando entender quais motivos levam uma pessoa a
dizer “sim” a um pedido, o psicólogo norte-americano, Robert Cialdini, escreveu
o livro “Armas da Persuasão: como influenciar e não se deixar influenciar”. Na
obra, ele detecta a existência de seis leis capazes de transformar o ambiente e
fazer com que pessoas se mostrem mais dispostas a serem persuadidas. Uma destas
leis é a da reciprocidade. Conforme Cialdini, numa vida em sociedade, o ser humano
se sente compelido a retribuir o que outra pessoa proporcionou a ele, mesmo que
essa compensação não traga nenhuma vantagem.
Debruçando-se com atenção sobre esse tema, a
psicóloga Fernanda Tochetto explica ser a reciprocidade um comportamento que o
ser humano pode adotar em sua vida com o objetivo de transformar os seus
resultados. Segundo ela, tal prática faz com que o indivíduo exercite a
empatia, cuja tendência é tornar mais profunda as relações interpessoais.
“Trata-se de um novo conceito de viver o cotidiano, com mais harmonia e
segurança, buscando a construção conjunta”, diz.
Nesse sentido, a reciprocidade é ferramenta
imprescindível para a vida profissional. Segundo Tochetto, um empresário,
alguém que atua no segmento de vendas ou mesmo um prestador de serviços pode se
beneficiar bastante se souber como opera este comportamento humano. “Isto
porque uma vez que a pessoa consiga entender a necessidade do outro e for além
das próprias limitações para ajuda-lo, ela criará um ambiente no qual aquele que
foi bem atendido retribuirá essa dedicação de alguma forma”, explica.
De acordo com a psicóloga, se a pessoa pretende
consolidar seu negócio no mercado, ela deve ser empática, atenciosa e solícita.
“Todas compram as ideias de quem já lhe fez algo de bom”, enfatiza.
Dito de outro modo, em um ambiente profissional a
reciprocidade funciona como uma moeda de troca. “Logo, se a pessoa está
buscando receber algo, ela deve começar dando”, esclarece a psicóloga. Conforme
Tochetto, é questão de endividar-se pensando no retorno em longo prazo. E se
este ato de endividamento for realizado com satisfação, a tendência é de que o
pagamento seja recebido na mesma medida.
Para ilustrar a eficácia da reciprocidade, Tochetto
destaca o funcionamento de grandes empresas do ramo do entretenimento. Estas
companhias oferecem experiências com alto poder de encantamento, que moldam o
imaginário das pessoas e muitas vezes são responsáveis por inspirá-las e
impulsioná-las a ações que fazem a diferença na vida delas e dos outros. Diante
dessas experiências, as pessoas inclinam-se a sentir gratidão, o que ocasiona a
vontade de retribuir. Nesse caso, a retribuição vem através da compra de algum
produto ou serviço oferecido por estas grandes empresas.
Segundo a psicóloga, tal processo opera em todos os
aspectos das relações humanas, ou seja, também na vida pessoal. Ao adotar o
comportamento altruísta, praticando a gentileza, o respeito, a bondade e boa
vontade, a pessoa cria ambientes mais positivos para si mesma e para os outros
ao redor. “É o grande segredo para quem busca se destacar e deixar a marca do
seu legado”, afirma.
E aquele que retribui o bem que as pessoas lhe
fazem, - de modo natural, sem que aquilo pareça uma obrigação – ajudando a si
mesmo também ajuda os outros, pois prova que é confiável. “As chances de
receber auxílio de alguma pessoa para quem já tenha feito algo positivo serão
bem maiores, pois o sentimento de gratidão caminha lado a lado com a
reciprocidade”, diz. É um ciclo virtuoso.
O ato da reciprocidade ainda pode ser explicado
pelo prazer que causa naquele que retribui. De acordo com Tochetto, ao
recompensar experimenta-se uma sensação de bem-estar, de merecimento e
pertencimento a algo maior, características comuns aos seres humanos e que
norteiam a busca por seu propósito.
A psicóloga explica que do ponto de visto
científico, biológico, agir reciprocamente faz com que a dopamina,
neurotransmissor responsável pelo humor e pelo prazer, circule pelo corpo.
“Logo, uma pessoa que faz algo por alguém é motivada não apenas por suas
crenças e pelo ambiente como também pelo instinto de sentir satisfação”,
conclui.
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