quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Entenda o que é a condromalácia patelar, a doença sem cura do ginasta Arthur Nory


Mais comum em mulheres, patologia provoca dor no joelho e atrapalha a rotina de quem pratica atividade física


Recentemente, o ginasta Arthur Nory descobriu que sofre de uma doença sem cura: a condromalácia patelar, um desgaste na cartilagem do joelho. O atleta sentia fortes dores no joelho e levou meses para acertar o diagnóstico.

Silenciosa, a doença só provoca incômodo quando o quadro já está avançado. “A condromalácia existe quando há um amolecimento anormal da cartilagem articular da patela e é muito difícil os atletas e pacientes se queixarem de dor logo no início do quadro, já que a cartilagem não possui terminações nervosas”, explica Flávio Cruz, ortopedista especializado em cirurgia do joelho, traumatologia e lesões esportivas.

Segundo o médico, na maioria dos casos, a dor surge nos graus mais elevados de desgaste articular, quando já há perda da cartilagem e exposição do osso subcondral. “Muitas vezes os pacientes sentem um incômodo maior na parte anterior do joelho ao agachar, correr ou praticar exercício. A dor também pode aparecer em situações cotidianas, como ao se levantar da cadeira, assistir um filme no cinema e descer escadas. Pode haver inchaço no joelho, e sensação de crepitação local ao dobrar e esticar o joelho”.


Mulheres sofrem mais

As causas são múltiplas e podem estar associadas. No caso de atletas e praticantes de atividades físicas, alguns distúrbios mecânicos do joelho, como um aumento da pressão entre a patela e o fêmur durante o movimento de flexão e extensão, podem ocasionar o desgaste da cartilagem.

Fatores anatômicos, neuromusculares e hormonais também podem facilitar o aparecimento da doença. As mulheres, por exemplo, têm maior incidência a sofrer com a condromalácia por conta do formato do joelho. “O joelho feminino tem uma tendência a ser do tipo Geno Valgo, ou seja, tende a ter um desvio, pois a bacia da mulher é mais larga e arredondada para acomodar o feto durante a gestação, favorecendo uma maior rotação do quadril quando comparada ao homem”, explica o ortopedista. Sobrepeso e obesidade também são fatores que podem aumentar o risco da doença.


Não há cura, mas há tratamento

“É sempre melhor optar pelo tratamento não cirúrgico no início do quadro”, recomenda Cruz. De acordo com o médico, a combinação de analgésicos e anti-inflamatórios com compressas de gelo local e fisioterapia podem ajudar a amenizar a dor. Após o alívio, a recomendação é fortalecimento muscular nos membros inferiores, alongamento das estruturas posteriores do joelho, treinamento neuromuscular e correção biomecânica do joelho. “Em alguns casos, pode ser indicado a injeção de medicações anti-inflamatórias dentro do joelho, assim como aplicação de ácido hialurônico, com o objetivo de hidratar e lubrificar a articulação. Mas vale sempre lembrar que o objetivo do tratamento não é a cura da lesão, já que a cartilagem tem um potencial de reparo muito baixo, e sim o controle do quadro de desgaste e do processo inflamatório, aliviando a dor e o desgaste”. Para o especialista, só em casos mais graves a artroscopia do joelho é recomendada.


Prevenir é possível

A principal orientação aos atletas e praticantes de atividade física é a prevenção da lesão ou da piora acelerada do quadro de desgaste da cartilagem. “Antes de iniciar qualquer tipo de treinamento mais vigoroso, como treinos longos, é fundamental fazer fortalecimento muscular desde o tronco e incluindo quadril, joelhos e tornozelos”, aconselha Cruz. “Ao menor sinal de dor na região anterior do joelho durante corridas ou exercícios, diminua o treino e busque avaliação de um especialista”.

O médico informa que pode ser necessário a realização de exames de imagem (raio-X e ressonância) para identificar a lesão. Alguns testes como isocinético, baropodometria e avaliação biomecânica em 3D da corrida também podem ajudar a identificar possíveis alterações nos joelhos.

O controle de carga nos treinamentos é fundamental, com aumento gradual dos treinos tanto no volume quanto na intensidade, evitando exercícios de alto impacto no joelho. No dia a dia, as recomendações para quem já sente algum incômodo são evitar subir e descer escadas e não manter o joelho flexionado em 90° por muito tempo. “Atenção ao peso corporal nos casos de sobrepeso associado ao desgaste articular também é fundamental para não agravar o quadro”, completa. 







Flávio Cruz - ortopedista, especialista em Traumatologia, lesões esportivas e mestre em cirurgia do joelho. Há mais de 15 anos atuando em Medicina do Esporte, tem passagens pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nas Seleções Feminina e Masculina, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA) e Clube de Regatas do Flamengo (CRF), entre outras instituições esportivas, Cruz é cirurgião no Aspetar Hospital, localizado no Qatar e referência mundial no tratamento de atletas. É membro da SBRATE, SBCJ, SBOT, SBMEE e certificado pela FIFA em Medicina do Futebol. Já atuou em mais de 30 países como médico de delegações esportivas em competições internacionais.

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