A recente aprovação da LGPD (Lei Geral de Proteção de
Dados) enfatiza a crescente preocupação com a ética no tratamento de dados.
Tanto os consumidores quanto os legisladores estão exigindo que organizações de
todos os tipos levem a sério políticas éticas para coletar, analisar e
contextualizar informações privadas.
Acredito firmemente que, quanto mais as empresas dependem
da Ciência de Dados para alimentar produtos e serviços, mais crucial é a
definição de regras internas para as equipes lidarem com os dados. O crescimento
da Ciência de Dados nos empreendimentos e nas empresas de tecnologia está
alimentando os avanços em análise de negócios, inteligência artificial e
automação. Mas, à medida que os dados pessoais são contextualizados e
conectados a sistemas e conjuntos de dados cada vez mais crescentes,
preocupações éticas e de privacidade começam a sair do papel.
Os líderes de tecnologia e negócios têm a
responsabilidade de prever problemas em potencial e estabelecer um código de
conduta para as equipes que trabalham com dados pessoais, a fim de evitar,
sempre que possível, os problemas mais cabeludos de ética e privacidade.
Na BlackBerry Cylance, dependemos de uma equipe robusta
de cientistas de dados para nos ajudar a desenvolver mecanismos para funções
avançadas de segurança, como detecção de ameaças baseada em inteligência
artificial e biometria de teclado. O trabalho que eles fazem fornece avanços
inovadores para empresas que buscam melhores formas de proteger seus sistemas
contra violações e fraudes. No entanto, reconhecemos que, quanto mais dados
coletamos sobre os sistemas e usuários de nossos clientes, mais casos de abuso
em potencial podem surgir deles, se não implementarmos procedimentos adequados
de Ciência de Dados.
Por exemplo, coletamos dados de movimento de
pressionamento de tecla e mouse de usuários voluntários, que são anonimizados e
analisados por cientistas de dados para aperfeiçoar o processo de validação de
usuários com base em informações como sua cadência de digitação e como clicam
em um mouse. É um valioso conjunto de dados para combater fraudes, mas também
reconhecemos que esse tipo de dado bruto poderia ser usado de forma a violar a
privacidade dos usuários, se fosse contextualizado de maneira errada. Nós
evitamos questões como essa com um forte código de conduta da Ciência de Dados
que, nesse caso, prescreve muito claramente como os dados podem ser usados, por
quem e com que finalidade.
Nós exigimos que todos os nossos cientistas de dados e
seus gerentes assinem esse documento. O código de conduta é oficial, mas
simples. Evitamos usar o “advoguês” e escolhemos uma abordagem em linguagem de
fácil compreensão, que define claramente nossos valores corporativos,
expectativas e procedimentos básicos em um documento curto de cinco páginas.
Ao elaborarmos o código para a BlackBerry Cylance e
interagirmos com os stakeholders para distribuir o documento para a
organização, aprendemos algumas lições valiosas sobre o que precisa ser
incluído para torná-lo uma peça valiosa de orientação. Toda organização
precisará adaptar as políticas aos seus negócios, mas acredito que um código de
conduta eficaz da Ciência de Dados precisa responder às seguintes
questões-chave:
Quem pode acessar os dados?
Na BlackBerry Cylance, estipulamos que os membros da
equipe de Ciência de Dados não podem compartilhar dados coletados com
fornecedores ou terceirizados. E, para dados realmente sensíveis, como dados
brutos de pressionamento de tecla e mouse, delineamos especificamente uma
pequena lista de membros aprovados da equipe com permissão para acessar esses
dados.
Como os dados devem ser usados?
Nós deixamos bem claro como os dados seriam usados e,
em alguns casos, como nunca deveriam ser usados. Por exemplo, estipulamos que
nenhum membro da equipe de Ciência
de Dados – aprovado
ou não – jamais reconstituiria o conteúdo de qualquer comunicação para derivar
palavras ou frases escritas pelo usuário. Da mesma forma, deixamos claro que os
pesquisadores de Ciência de Dados tinham de encontrar maneiras de garantir que
não estivessem coletando ou armazenando informações de identificação pessoal,
como números de cartão de crédito ou de identidade. Nosso código trata de
questões éticas direcionando os cientistas de dados a evitarem sempre tentar
identificar diretamente um usuário com base em seus dados e evitarem viés ou
discriminação inadvertida na análise algorítmica dos dados.
Como os dados são protegidos?
Nosso código de conduta estipula como certas informações
de pesquisa em Ciência de Dados devem ser classificadas, o que determina o
nível de segurança usado para protegê-las. Além disso, o código descreve os
parâmetros de tempo para coletar e reter dados, a fim de minimizar os riscos.
Onde os cientistas de dados podem relatar
preocupações éticas/legais?
Finalmente, o Código de Conduta da BlackBerry Cylance
Data Science inclui instruções para os membros da equipe fazerem perguntas ou
relatarem preocupações éticas ou legais relativas aos dados diretamente aos
nossos executivos de privacidade, de segurança e jurídicos. Isso lhes dá uma
saída fora da cadeia de comando para relatar violações do código ou outros
problemas que possam afetar negativamente nossos clientes ou nossa empresa.
No momento em que uma legislação forte como a LGPD
impacta a constituição e a legislação, e os consumidores ficam cada vez mais
preocupados com a maneira como as empresas usam seus dados, é a hora de os
líderes de privacidade e confiança agirem. Eu encorajo meus colegas executivos
a considerarem a elaboração de seu próprio código de conduta de Ciência de
Dados, que reflita a realidade de suas indústrias, seus clientes e os dados com
que lidam.
Marcello Pinsdorf - country manager da BlackBerry Cylance
no Brasil e possui mais de 30 anos de experiência em Tecnologia da Informação e
Segurança.
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