Consumo do tabaco
diminuiu em 40% nos últimos 13 anos, mas aumentou o consumo de narguilés
Em julho, o 7º Relatório sobre a Epidemia Mundial
do Tabaco da Organização Mundial da Saúde, que aborda os progressos feitos
pelos países para ajudarem as pessoas a deixar de fumar, apontou o Brasil como
exemplo no combate ao tabagismo, junto à Turquia. Os dois países foram os
únicos, dentre 171 nações, que aderiram às medidas da OMS implementando medidas
governamentais para redução no consumo da substância.
Nos últimos 13 anos, a população entrevistada
diminuiu em 40% o consumo do tabaco. A pesquisa revela ainda que uso da
substância no Brasil caiu nas faixas etárias pesquisadas. De 18 a 24 anos de
idade (12% em 2006 e 6,7%, em 2018), 35 e 44 anos (18,5% em 2006 e 9,1% em
2018); e entre 45 a 54 anos (22,6% em 2006 e 11,1% em 2018). Entre as mulheres,
a redução alcançou 44%.
Hoje, principalmente entre jovens e na contramão
dos dados, torna-se mais comum o uso do Narguilé, dispositivo de fumo onde uma
mistura de tabaco é aquecida e a fumaça gerada passa por um filtro de água,
antes de ser aspirada pelo usuário por meio de uma mangueira.
Seu consumo é visto como menos nocivo à saúde por
utilizar mecanismos de filtro. Lojas especializadas estão hoje por todo lado.
Introduziu-se até tabaco aromatizado e há também uma dimensão social de fumar
narguilé. Contudo, ao contrário do que muitos pensam, seu uso é mais
prejudicial que o de cigarros.
Para se ter uma ideia, 20 a 80 minutos de uso
correspondem à exposição tóxica de aproximadamente 100 cigarros. Com base na
evidência científica disponível, o uso de narguilé foi significativamente
associado ao desenvolvimento de câncer, doenças respiratórias, coronárias e
periodontais.
Além disso, há também maior exposição a metais
pesados, altamente tóxicos e de difícil eliminação, como o cádmio. Fora as
doenças infectocontagiosas, devido ao compartilhamento do bucal entre os
usuários, contribuindo para transmissão de herpes, hepatite C e tuberculose.
O coração e o pulmão estão entre as partes mais
afetadas pelo fumo. A nicotina leva apenas alguns segundos para chegar ao
cérebro. Com o charuto e o cachimbo, ela é absorvida rapidamente pela mucosa
oral, não havendo necessidade de tragá-la.
No caso dos cigarros, a dependência da nicotina,
que por si só já causa problemas cardíacos e vasculares, leva ao consumo de
mais de 4.700 substâncias tóxicas também presentes ali. Dentre elas, o monóxido
de carbono, que reduz a oxigenação do corpo, e o alcatrão, que reúne vários
produtos cancerígenos, como polônio, chumbo e arsênio.
Fumantes adoecem com frequência duas vezes maior,
têm menor resistência física, menos fôlego e envelhecem mais rapidamente. Fumar
pode causar cerca de 50 doenças diferentes, especialmente problemas ligados ao
coração e à circulação, câncer em vários órgãos e doenças respiratórias com
infecções e inflamações. Ainda pode causar úlcera do aparelho digestivo,
osteoporose, catarata, impotência sexual, infertilidade, menopausa precoce e
complicações na gravidez.
Por estes motivos, ainda se faz necessária a
conscientização sobre o fumo e continuam sendo importantes as políticas
relacionadas a fatores prejudiciais à saúde da população.
Dr. Pedro Rubens Pereira
- Cardiologista, Coordenador dos setores de cardiologia,
pronto-socorro e UTI Adulto do HSANP, centro hospitalar da Zona Norte de São
Paulo (SP).
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