ONCOLOGISTA
ALERTA SOBRE RISCOS DO TABAGISMO E DO CONSUMO DE CIGARRO PIRATEADO
Tabagismo é a principal causa do
câncer de pulmão; a chamada biópsia líquida - com análise de DNA e RNA tumoral
- é a grande aliada no diagnóstico e tratamento
Conforme dados da Estimativa do câncer no Brasil,
2018, do Instituto Nacional do Câncer – INCA, o Brasil tem prejuízo
anual de R$ 56,9 bilhões com o tabagismo. Desse total, R$ 39,4 bilhões são
gastos com despesas médicas e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados à
perda de produtividade, causada por incapacitação de trabalhadores ou morte
prematura.
Os números se justificam pelo tabagismo ser a
principal causa de câncer de pulmão: aproximadamente sete milhões de mortes
anuais no mundo (American Câncer Society, 2015; Canadian Cancer Statistics,
2015). Para tentar frear o crescimento dessas estatísticas, o Dia
Nacional de Combate ao Fumo, em 29 de agosto, faz parte do calendário
nacional do Ministério da Saúde, com objetivo de conscientizar a população
sobre os riscos desse vício.
De acordo com o oncologista e pesquisador Dr André Murad, esses dados
são ainda mais alarmantes, quando consideramos o consumo de cigarros
falsificados, que não passam por nenhum tipo de controle de qualidade e são
mais nocivos por contar com ainda mais impurezas que os originais. Fungos,
chumbo, manganês, níquel e até mesmo pedaços de insetos são encontrados nos
cigarros falsificados.
“É um produto com muito mais possibilidade de
causar danos, como a ocorrência de variados tipos de câncer. Além do pulmão,
outros órgãos do corpo como boca, laringe, faringe, pâncreas, bexiga, esôfago e
rins, também podem ser seriamente comprometidos”, explica Murad, que também é
professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da UFMG, Pós-Doutor em
Genética e Diretor Clínico da Personal Oncologia de Precisão de Belo Horizonte
e Diretor Científico do GBOP- Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão.
À exceção do câncer de pele não melanoma, o câncer
de pulmão é o segundo mais incidente em homens e o quarto mais incidente em
mulheres. Trata-se do câncer que mais mata no país e no mundo. Conforme
demonstram dados divulgados pelo Ministério da Saúde e Inca, no Brasil, são
esperados 18.740 novos casos de câncer de pulmão, entre homens, e 12.530, entre
mulheres, para cada ano do biênio 2018-2019.
De acordo com o oncogeneticista, o tumor é um dos
mais agressivos, com altas taxas de mortalidade. “Em geral, esse tipo de câncer
é detectado em estágios mais avançados, devido à falta de sintomas que se
destaquem nas fases iniciais. Isso dificulta o sucesso dos tratamentos”,
explica.
Por outro lado, os avanços científicos permitiram,
nos últimos, a utilização crescente do diagnóstico com base molecular,
“evidenciando as diferentes famílias de genes e o evento mutagênico envolvido.
Isso possibilita a caracterização molecular de cada tipo histológico e suas
alterações genômicas específicas”.
Na prática, isso significa o uso de exames
genéticos para diagnosticar e classificar molecularmente os tumores, o que é de
fundamental importância para ajudar a entender seu comportamento biológico
e, principalmente, definir terapias alvo-moleculares, que usualmente são mais
eficientes e menos agressivas ao paciente do que a quimioterapia, oferecendo,
assim, maiores chances de um controle mais prolongado da doença com manutenção
da qualidade de vida.
A chamada biópsia líquida se destaca por ser feita
apenas com exame de sangue, sem necessidade de procedimentos invasivos, como no
caso da biópsia tradicional, que exige cirurgia para retirada de tecido.
“Células tumorais circulantes ou traços do RNA ou do DNA do câncer no sangue
podem fornecer informações valiosas sobre quais tratamentos são mais prováveis
e efetivos para o paciente.”
Os resultados do tratamento do câncer de pulmão
são proeminentes e as descobertas vêm avançando a cada ano. “Essas ferramentas
são essenciais para a prática da denominada oncologia de precisão ou
personalizada, tanto na seleção terapêutica de alvos para a terapia (mutações
dos genes EGFR, ALK, ROS1 e BRAF para indicação de terapias direcionadas a
estes alvos em câncer de pulmão de células não pequenas avançado), quanto no
monitoramento de recidivas e progressão tumoral, como na detecção da mutação de
resistência secundária aos inibidores de EGFR T790M”.
Outro grande avanço no tratamento do câncer de
pulmão é a imunoterapia de última geração, que se baseia nos agentes
denominados "inibidores de proteínas dos pontos de checagem
imunológica" e utilizam o próprio sistema imunológico do paciente para
combater as células tumorais. “Isso aumenta a ativação e a proliferação das
células T (linfócitos de defesa que destroem as células tumorais), resultando
assim em uma resposta antitumoral mais efetiva”.
“Na verdade, essa nova classe de imunoterapia
desliga um complexo sistema de mascaramento imunológico que as células tumorais
utilizam para não serem reconhecidas como invasoras pelo organismo, permitindo,
então, que o sistema imune destrua estas células. Os imunoterápicos podem ser
utilizados isoladamente ou em combinação com quimioterápicos, resultando em
regressão tumoral em uma porcentagem elevada de pacientes, por vezes, de
prolongada duração”, finaliza o oncologista.
Ana Cláudia Vieira
Analista de Comunicação e Marketing
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