Soa clichê falar que o ecossistema digital
mudou a lógica de funcionamento e relacionamento da sociedade. A questão foi
tão profunda e tanto faz parte do presente que, muitas vezes, as mudanças
parecem sutis e já arraigadas. Ao longo dessa jornada de transformação digital,
entretanto, a sociedade mudou sua forma de se comunicar e relacionar,
trabalhar, realizar compras e pagamentos e, até mesmo, lidar com a
materialidade. Afinal, presenciamos a digitalização, do material que há séculos
baliza as relações de troca de bens e serviços entre as pessoas e empresas: o
dinheiro.
Na era da informação e de uma sociedade mais colaborativa que impulsionou o
surgimento da economia compartilhada, o potencial do digital vai além de ser
meramente um novo device para incorporar um canal adicional ao negócio. Como
ressalta Fabrizzio Topper, CEO da Driven, ele é uma camada que cruza toda a
lógica de negócio, passando pelo e-commerce, lojas físicas, logística,
comunicação e todos os serviços agregados por trás disso. Neste contexto, o
e-commerce não encabeça a própria revolução, mas é o final da equação de uma
jornada: o digital commerce é uma camada transacional de um ambiente que é,
complementado por relacionamento.
Estamos falando de segmentos e empresas - e,
por que não dizer de profissionais - estabelecidos que precisaram captar e se
adequar da melhor forma às oportunidades que o novo cenário proporciona.
Neste ambiente de alta complexidade em que o canal, na realidade, é o próprio
cliente, a gestão de conhecimento do consumidor é essencial até mesmo para que
ele volte todo dia para a base aumentando seu “Lifetime Value”. A indústria
vive um grande paradigma, pois o segmento na cadeia de valor que até então
obtinha estes dados e conhecimento era o varejo.
Este é um movimento que pode transformar a lógica do mercado e da relação na
cadeia de valor, pois coloca em xeque a prática constante de disponibilização
da verba da indústria para o varejo em decorrência de seu poder de barganha.
Seja por uma questão de verba, seja por uma nova lógica de atuação para esse
novo ambiente, o fato é que o varejo precisará se reinventar. Afinal, a visão
balizada por uma ótica de categoria não atende à lógica primordial, que seria o
verdadeiro olhar para quem consome.
Consumidor: mais uma vez uma palavra tão
disseminada em discussões sobre negócios, mas, muitas vezes, pouco considerada.
E é neste momento que surge a provocação de Fabrizzio Topper: “Por que
continuamos esquecendo de perguntar se a experiência está sendo positiva para o
cliente final?” Será que o que importa no final é somente a venda?
No fundo, a transformação digital não é uma
questão de desenvolver a mais avançada tecnologia, mas, cada vez mais latente,
desenvolver um olhar “human centric”, uma vez que a mudança de paradigmas
resulta – ou exige – em uma transformação de mindset. Assim, surge a temática
reforçada por todos na discussão, que seria a relevância da cultura. Conforme
frase de Peter Drucker citada por André Giffoni, CMO da Drogaria Araujo: “A cultura
come a estratégia no café da manhã.”
Realizar um processo de transformação
digital, especialmente em empresas já estabelecidas, envolve administrar o medo
de reinventar um negócio consolidado, movimento que incomoda, inclusive, o
“establishment” da empresa (conflito de canais, de interesses etc.), além de
inspirar a equipe a partir de uma visão que faça sentido para todos,
administrar o medo do risco e, muitas vezes, “bater de frente” com a cultura da
própria empresa.
No fim, o importante é ser eficiente: eficiente ao entregar um real valor. Ou
seja, eficiência na compreensão e empatia para que o cliente receba e perceba
uma relação de real valor. Afinal, como afirma o economista e fundador do Fórum
Econômico Mundial Klaus Schwab em seu livro “A Quarta Revolução Industrial”:
“No final, tudo dependerá das pessoas, da cultura e dos
valores. De
fato, precisamos trabalhar muito para garantir que todos os cidadãos, de todos
as culturas, nações e grupos econômicos compreendam a necessidade de dominar a
quarta revolução industrial e seus desafios civilizacionais. Teremos, juntos,
dar forma a um futuro que funcione para todos ao colocar as pessoas em primeiro
lugar, capacitando-as e, constantemente nos lembrando de que todas essas
novas tecnologias são sobretudo ferramentas feitas por pessoas e para pessoas.”
Anna Albregard
- faz parte da equipe de Bussiness Planning da Driven CX.
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