Pesquisa demonstra evidências inéditas
de compostos ansiolíticos que não causam prejuízos na memória
A rotina corrida e as
pressões do dia a dia causam estresse, desgaste mental e comumente são causas
para distúrbios de ansiedade e até mesmo lapsos de memória. Tais
transtornos podem gerar um alto prejuízo social, profissional e também
complicações nos relacionamentos interpessoais de forma geral.
Diante dessa realidade,
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estão descobrindo
novos componentes ansiolíticos que, ao contrário dos medicamentos existentes na
medicina tradicional, como os Benzodiazepínicos (que causam prejuízo na
memória), os compostos presentes na planta em estudo atuam, também, como
melhoradores cognitivos.
A recente pesquisa,
feita em parceria com a Embrapa Florestas do Paraná e com o Instituto de
Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara, foi publicada
pelo European Journal of Pharmacology e conduzida por Suzete Maria Cerutti,
professora do Departamento de Ciências Biológicas da Unifesp. O estudo identificou
ações sobre a cognição em compostos de derivados de plantas “flavonas”,
conhecidas popularmente como “corticeira”. Os testes e análises foram
feitos com 80 camundongos no Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais
Para Biologia e Medicina (CEDEME,
Unifesp).
“Nosso grupo isolou
esses flavonoides da casca do caule de Erythrina falcata L e avaliou os efeitos
dessas substâncias na aquisição da memória do medo e na sua extinção, um
processo que requer a inibição de respostas adquiridas previamente por meio da
formação de novas memórias”, explica Suzete.
Com a tarefa que
possibilitou analisar, concomitantemente, a memória, a ansiedade e atividade
locomotora espontânea, o estudo revelou, pela primeira vez, evidências de que
os componentes Isovitexin e 6-C-glicosídeo-diosmetina exercem seus efeitos de
melhorador cognitivo e ansiolíticos via modulação diferencial do receptor
GABAA.
“A capacidade de
suprimir alguns comportamentos é importante para que possamos identificar o
grau de perigo dos eventos do ambiente e controlar a ansiedade”,
analisa.
O Brasil é o país com
maior número de indivíduos ansiosos do mundo, de acordo com o último relatório
sobre o tema publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 9,3% da
população sofre com o transtorno, valor que é o triplo da média mundial. De
acordo com a pesquisadora, são necessários mais estudos para a melhor
compreensão da extensão desses efeitos na memória e no combate à ansiedade,
tanto em animais normais ou em modelos animais para o estudo de doenças
neurodegenerativas.
O grupo avalia, atualmente, o efeito de extrato de
plantas rico em flavonoides na reversão ou atenuação dos danos neurais e
comportamentais causados na Doença de Alzheimer (DA), uma das demências
mais comum no país. “Prezamos pela continuidade da pesquisa científica para
encontrarmos novos alvos de ação, com isso, agir na prevenção ou tratamento da
DA, o que possibilitará implementar importantes serviços para a sociedade”,
conclui.
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