Recentemente recebi uma ligação da professora do
meu filho por conta de um bilhete que coloquei na agenda relatando que ele
esquecia com frequência o livro na escola e não conseguíamos realizar as
tarefas. No decorrer da conversa, aproveitei para perguntar como ele tinha se
saído em sua primeira prova - ele tinha 6 anos na época. A professora prontamente
me contou que ele é uma criança muito rápida, inteligente, e que, apesar de
toda a sua agitação, foi muito bem, antes mesmo dela terminar de entregar a
prova à turma - o combinado foi que eles fariam a prova juntos – , ele já tinha
terminado.
Não preciso contar o que aconteceu, não é? Ele,
como toda criança ativa, híbrida e amplamente conectada com mundo, não ficou
sentado em sua cadeira esperando os outros terminarem. Levantou-se e foi
conversar com seus colegas. Porém, era o momento da prova e ele atrapalhou a
dinâmica da turma. Nesse instante, interrompi a professora ao telefone e
imediatamente perguntei: você tinha outras atividades preparadas para crianças
que finalizavam as provas, certo? Novamente, o esperado: não, ela não tinha.
Fez-se um silêncio no telefone, respirei fundo e disse: sugiro que das próximas
vezes que precisar que ele fique sentado, quieto e concentrado lhe dê tarefas.
Criança que “trabalha”, não dá trabalho.
Ainda encontramos escolas que enfileiram seus mais
de 35 alunos e que organizam seus projetos de trabalho por meio de aulas
expositivas e provas. Já passou a hora da escola se reinventar. Por que a
escola tem tanta dificuldade de inovar? Vivemos o tempo da educação 4.0, do
aprender fazendo, da internet das coisas, da inteligência artificial, dos robôs
e das crianças e jovens ultraconectados, autênticos, adaptáveis e extremamente
criativos, que pesquisam por meio de vídeos no youtube, vivem num mundo sem
fronteiras geográficas, usam Uber e Airbnb.
A escola para essa geração precisa ser um espaço
vivo, colaborativo, que valorize o seu protagonismo e lhe proporcione
experiências valorosas de vida e de aprendizado. O professor precisa ser um
tutor que guie o aluno pelas trilhas personalizadas que promoverão seu
aprendizado. As metodologias devem ser ativas, com estratégias que desenvolvam
a integralidade do estudante. A avaliação, uma ferramenta que oriente o
professor, o tutor, na construção de novos caminhos e trilhas para a
promulgação e valorização do aprender a aprender. Ou seja, a escola para a
geração Y e Alpha precisa olhar o futuro e pensar: o que preciso desenvolver
para que meus alunos sejam profissionais de sucesso daqui 20 anos?
E como estará o mundo? Os cientistas e os Jetsons
nos fornecem pistas, mas não nos garantem um cenário - ou seja, estamos
formando crianças para um mercado de trabalho incerto. O que dará alta para a
escola da UTI? A construção de espaços inovadores que permitam o
desenvolvimento da autonomia, da criticidade, da criatividade, da ética e da moral,
para que lá em meados de 2034 meu filho, que a propósito tirou 10 na prova,
saiba conviver em uma cidade tal qual a de Orbit City.
Raphaela Ribas Lupion
Gubert - coordenadora pedagógica das Escolas Confessionais do Sistema Positivo
de Ensino no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário