Criação em gaiolas
é prejudicial à saúde e bem-estar da espécie
Assim como ocorre com cães e gatos, ter um coelho
como animal de estimação não pode ser uma decisão de momento, atrelada a uma
data comemorativa. De acordo com médicos-veterinários, antes de adquirir um
pet, as famílias devem avaliar cautelosamente se possuem estrutura, orçamento e
rotina que permitam criar, com bem-estar e saúde, esse animal que vive de seis
a dez anos em ambiente doméstico.
Um dos erros mais comuns entre as pessoas que optam
pela espécie é a criação em gaiolas, o contribui para o surgimento de problemas
de saúde e comportamentais. Isso porque os coelhos são roedores e saltadores e
têm necessidades que não são supridas em recintos pequenos e restritos.
Gaiolas geram sofrimento
A médica-veterinária Cristina Maria Pereira Fotin,
membro da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Silvestres do Conselho
Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), explica que
deixá-los em gaiolas causa sofrimento, uma vez que impede que eles se
movimentem e locomovam atendendo à sua natureza.
“Os coelhos podem apresentar problemas nas
articulações, obesidade e desvios de comportamento, como lambeduras que levam a
problemas de pele”, ressalta Cristina, que indica a necessidade de um viveiro,
com área para tomar banho de sol e abrigo para que o animal possa se recolher
para descansar ou se proteger de algo que possa assustá-lo.
Presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do
CRMV-SP, a médica-veterinária Cristiane Schilbach Pizzutto enfatiza que os
coelhos sentem bastante medo, o que está atrelado ao instinto da espécie que,
em vida livre, é presa de diversos outros animais. “Isso pode dificultar a
adaptação, dependendo da rotina da casa”, diz ela, que comenta que esse fator
contribui para reações como mordeduras que podem causar ferimentos nos tutores,
embora eles costumem ser dóceis quando criados desde filhotes.
Particularidades
O ambiente do animal também deve contar com madeira
para que possam roer, outro comportamento inerente à espécie. “É indicado
deixar à disposição do animal pedaços de troncos ou galhos de laranjeiras,
goiabeiras ou de outras árvores frutíferas, sempre in natura, nunca
madeiras envernizadas”, menciona Cristiane.
A alimentação é outro tópico que merece atenção,
pois nem só de ração vive um coelho. Folhagens com talos, frutas e legumes
devem fazer parte da dieta, a qual precisa ser definida com orientação de um
médico-veterinário.
Abandono
Por não se atentarem às necessidades específicas
dos coelhos antes de adquiri-los como pets, muitas famílias acabam
negligenciando nos cuidados e, pior, abandonando o animal, o que configura
crime, previsto na Lei Federal nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais).
A situação é bastante grave, uma vez que os animais
não conseguem se alimentar e acabam desidratados e desnutridos. “É comum que ao
menos um coelho seja encontrado em áreas verdes das cidades após a Páscoa”,
lamenta o presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais
Selvagens do CRMV-SP, médico-veterinário Marcello Schiavo Nardi.
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