O termo “ócio” é usado para se
referir ao “não fazer nada”, não ter atividade nenhuma em alguma circunstância,
especialmente do ponto de vista motor. A rigor, não se aplica propriamente aos
processos cerebrais, uma vez que o cérebro, tal como outros órgãos do
organismo, nunca para de funcionar.
Se estamos pensando em algo
especifico, raciocinando ou desenvolvendo alguma ideia ou atividade que demanda
concentração, o cérebro está sempre ativo.
Quando deixamos de prestar
atenção em algo e nos deixamos divagar (“mind wandering”, divagação ou devaneio
da mente), algumas áreas cerebrais específicas são ativadas, constituindo a
chamada “rede de modo padrão” (“default mode network”). Grosseiramente falando,
seria algo como o “ponto morto” no câmbio do carro; o motor está ligado, mas o
carro está parado. Ou seja, não ficamos sem pensar em nada, mas os pensamentos
fluem sem foco, sem uma direção especifica.
A mente precisa de
fôlego ao longo do expediente
O cérebro é programado para
funcionar um certo período de tempo, durante o qual estamos acordados. O
descanso principal do cérebro ocorre quando dormimos. É quando ele se refaz,
organiza e consolida memórias e se prepara para absorver novas informações.
No trabalho, estamos
constantemente fazendo atividades que exigem muita atenção e concentração, o
que resulta em um grande cansaço físico e mental. Daí a importância de fazer
pausas. Saia um pouco da frente do computador, dê uma volta, tome um café. Por
definição, não é possível “forçar” o cérebro a entrar em devaneio, uma vez que
este é algo espontâneo.
Mas é fundamental distrair a
mente ao longo do expediente. Esses minutos ociosos darão fôlego ao seu
cérebro, permitindo que você retome o trabalho com maior disposição. E mais: é
possível que alguma ideia criativa surja nestes instantes em que você esteja
mais ocioso, já que sua atenção se voltou para outras coisas.
A possibilidade de deixar o
cérebro divagar durante o expediente depende muito do tipo de trabalho que o
funcionário desempenha. Nem toda atividade demanda criatividade. Pode ser uma
tarefa relativamente padronizada, em que não há campo para sair de uma certa
direção (como numa linha de montagem, por exemplo).
Em geral, quando o foco do
profissional consiste justamente na criação, o ideal é que a empresa
flexibilize seu sistema de trabalho, dando liberdade ao funcionário para, por
exemplo, trabalhar “como quiser”, desde que entregue o resultado esperado.
Tendo a possibilidade de
elaborar seus projetos onde, quando e como for melhor ao profissional, há maior
motivação e a criatividade flui melhor. Muitas corporações já adotaram o
sistema de home office e/ou flexibilidade de horário. Os resultados têm sido
muito positivos, tanto para a produtividade da empresa como para a qualidade de
vida do profissional.
De qualquer modo, experimente
mudar seus hábitos. Só a hora do almoço e os poucos instantes em que você se
lembra de ir ao banheiro não contam como momentos vitais de ócio no trabalho.
Faça o teste. Tenha pequenas
pausas ao longo do dia. Seja para respirar na varanda, esticar o corpo ou tomar
um suco no refeitório. O importante é levantar da cadeira e levar seus
pensamentos para longe. Permita que seu cérebro tenha minutos de ociosidade.
Você perceberá a diferença ao chegar em casa e não sentir que carregou uma
tonelada nas costas o dia inteiro!
Prof. Dr. Mario Louzã - médico psiquiatra, doutor
em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e Membro Filiado do
Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
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