Pesquisas recentes mostram que hormônio produzido
naturalmente pelo corpo durante a prática de exercícios físicos pode contribuir
na melhora da perda de memória causada pela patologia
Estudos científicos publicados recentemente trazem novas possibilidade
para o tratamento e diagnóstico de algumas das síndromes que são as principais
causas de incapacidade entre os idosos, demandando cuidados durante todo o
curso dessas doenças – as demências, entre as quais estão Doença de Alzheimer,
Demência com Corpos de Lewy, Demência Vascular e a Demência Frontotemporal.
As pesquisas trouxeram avanços no entendimento dos mecanismos que
influenciam a doença, entre eles a descoberta de um novo biomarcador que se
liga à proteína de tau (relacionada à saúde dos neurônios), e a
influência dos níveis de irisina na perda da memória.
Publicado
em dezembro/2018 no Journal of Nuclear Medicine, o primeiro estudo destacou a
ação de um novo radiofármaco que se liga à proteína tau encontrada nos
pacientes com Alzheimer, que mostrou ter uma correlação com o déficit
cognitivo, o que deve permitir exames com imagens mais detalhadas da extensão
da doença. Em um futuro próximo, essa tecnologia poderá propiciar um
diagnóstico precoce, contribuindo na prevenção e no tratamento da patologia.
Além disso, um segundo estudo, realizado por 25 cientistas de diversos
países – entre eles, dois brasileiros –, publicado na revista Nature Medicine,
estabeleceu a relação entre o aumento dos níveis de irisina e uma possível
melhora na perda de memória causada pelo Alzheimer, o que pode representar mais
eficácia no tratamento e prevenção da doença.
“O mais interessante, neste segundo estudo, é que a irisina é um
hormônio produzido naturalmente pelo corpo durante a prática de exercícios
físicos. Ainda se discute muito sobre a prevenção da
demência. Mas, na medida em que avançamos no entendimento da
doença, fica mais claro a relação entre a incidência da doença e o estilo de
vida. Exercícios físicos, reeducação alimentar, evitar o tabagismo,
dormir bem e estimular o cérebro são hábitos bastante recomendados nesse
sentido”, recomenda o psiquiatra da Holiste, André Gordilho.
As descobertas são importantes, mas ainda são insuficientes para o
desenvolvimento de um tratamento farmacológico que reverta as alterações
neurológicas promovidas pela doença. Ainda assim, elas reforçam a necessidade
de hábitos que proporcionem a qualidade de visa e que podem ser um protetor
natural para as demências.
“A adoção de hábitos saudáveis com uma dieta equilibrada, sono e
prática de exercícios regulares pode promover mudanças na qualidade de vida,
melhorando a saúde física e mental. Outras abordagens terapêuticas, como a
estimulação cognitiva, têm se mostrado efetivas, já que contribuem para
retardar a evolução da doença e preservar por mais tempo as funções
cognitivas”, completa André Gordilho.
O DESAFIO DA MENTE SAUDÁVEL
Estima-se que as demências tenham uma incidência de 10% a 15% nos
adultos acima de 65 anos, em todo o mundo. A demência é um termo que engloba
diversas doenças neurodegenerativas progressivas, as quais envolvem um conjunto
de sintomas diretamente ligado à perda cognitiva, como problemas de memória,
raciocínio, linguagem e alterações de comportamento.
Existem diversos tipos de demência, que podem ser separadas em dois
grupos: reversíveis e degenerativas. As principais síndromes demenciais
são a Doença de Alzheimer, Demência com Corpos de Lewy, Demência Vascular e a
Demência Frototemporal.
“Para cada tipo de manifestação da demência, existe um grupo de
sintomas diferente e, consequentemente, tratamentos diferentes, além da
evolução individual de cada um. Em idosos, sintomas como delírios e
alucinações trazem riscos como a possibilidade de fuga do lar, quedas ou
agressões, bem como comportamentos alterados com a família ou cuidadores”,
explica o psiquiatra Victor Pablo.
A DOENÇA DE ALZHEIMER
A doença de Alzheimer é a síndrome com maior prevalência,
representando 60% a 70% dos casos. Seu avanço acontece de forma
progressiva e irreversível, afetando – de forma gradual – as funções
cognitivas, como atenção, concentração e raciocínio, trazendo também alterações
no comportamento e personalidade do indivíduo. Essas perdas ocasionam
prejuízos significativos na capacidade produtiva e nas relações sociais.
Segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz), mais de 1,6
milhões de brasileiros sofrem com a doença de Alzheimer.
CUIDADOS NA TERCEIRA IDADE
Segundo dados do IBGE, entre 2012 e 2017, o Brasil passou a ter mais
de 30 milhões de idosos, o que equivale a 14% da população brasileira. Um
crescimento de quase 20% em 5 anos. A expectativa é que em 2050 esse
número supere os 60 milhões, o que equivale a 30% de toda população, colocando
o Brasil como um dos países com maior população de idosos do mundo.
Envelhecer é um processo inevitável, que acontece em todas as dimensões
do ser humano: cronológica, biológica e psicossocial. Caracteriza-se,
principalmente, por uma degradação orgânica e funcional do indivíduo, mas que
não decorre de um processo de adoecimento.
“Existe o pensamento incorreto de que o envelhecimento está associado
ao adoecimento. Mas, o que esperamos é envelhecer de forma saudável,
mesmo com algumas limitações funcionais. É possível manter a
independência e autonomia, manter vínculos familiares e sociais adequados,
fazer atividades físicas e até mesmo ser produtivo; que não seja trabalhando,
mas mantendo-se ocupado, mesmo que em um ritmo mais tranquilo”, explica o
psiquiatra André Gordilho.
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