Com cerca de 54,6%
dos brasileiros infectados com HPV, a prevenção de cânceres causados pelo vírus
esbarra não apenas no desuso de preservativo, mas também em estigmas e falta de
diálogo
O período do Carnaval, anualmente, desperta a
atenção dos especialistas para a importância do uso do preservativo, método
mais seguro de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST), como a
infecção pelo papilomavírus humano (HPV). De acordo com o Ministério da Saúde,
estima-se cerca de 54,6% de brasileiros entre 16 e 25 anos estão infectados com
HPV e, em 38,4% deles, tratam-se dos subtipos de alto risco, mais associados a
câncer de colo do útero, vagina, vulva, pênis, ânus, boca e garganta. Por isso,
os esforços voltados para prevenção têm sido foco tanto do governo federal
quanto de toda a classe médica.
O quadro fica ainda mais preocupante quando
associado aos dados da pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica
(SBOC) que aponta que 59% da população não usa preservativo como medida de
prevenção ao câncer e quase 30% desconhece a relação direta entre o uso e a
redução do risco de desenvolver a doença.
Além do uso de preservativo para prevenir DSTs como
um todo, especialistas defendem a fundamental conscientização sobre a vacinação
contra HPV, disponibilizada pelo SUS no Brasil desde 2014. Considerada a forma
mais eficaz de prevenção, a vacina é capaz de proteger contra os tipos mais
agressivos do vírus (6, 11, 16 e 18), podendo diminuir em até 98% a incidência
de verrugas e outras doenças, como o câncer de colo de útero – o terceiro mais
incidente em mulheres, apesar de ser um dos tipos de câncer mais prevenível. No
sistema público, a disponibilização é gratuita para meninas entre 9 e 14 anos e
meninos entre 11 e 13, além de portadores de HIV; na rede privada, outras
faixas etárias também podem ser vacinadas.
Pode parecer simples, mas questões culturais e
tabus da sociedade impactam diretamente a efetividade das campanhas de conscientização
sobre a vacinação contra HPV. Por estar relacionada a comportamento sexual,
muitas mães temem estar antecipando a vida sexual das filhas ou não confiam nos
benefícios da vacinação. Para a Dra. Andreia Melo, oncologista e membro da
diretoria da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), é preciso
creditar a segurança e eficácia das vacinas e investir em campanhas educativas
que esclareçam a relação entre a doença e o HPV. "A prevenção
ao câncer de colo uterino está mais próxima de estratégias usadas para combater
o sarampo ou catapora do que DSTs, inclusive porque a vacina deve ser tomada,
preferencialmente, antes do início da vida sexual", explica a
Dra. Andreia.
Os especialistas destacam, ainda, os demais tipos
de câncer associados ao HPV como: cabeça e pescoço (tumores que se manifestam
na boca, na faringe e na laringe), pênis, vulva, vagina e ânus. "No caso do
câncer de cabeça e pescoço, ainda que tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas
também sejam fatores de risco, a doença está fortemente associada com sexo oral
e, por isso, é preciso uma sensibilidade maior em campanhas de conscientização
e na apresentação do diagnóstico para pacientes e familiares",
comenta a Dra. Aline Lauda, oncologista da SBOC.
Educar a população sobre o
tema passa também por esclarecer o funcionamento do vírus que não é causador
direto do câncer, mas associa-se a fatores como predisposição genética, baixa
imunidade e tabagismo. "A questão é que 80% da população mundial já teve
contato com o vírus do HPV em algum momento da vida, enquanto o uso de
preservativo ainda é negligenciado pelas pessoas. Nós, profissionais da saúde,
precisamos reforçar que o HPV é um problema de falta de prevenção, não de
promiscuidade", explica a Dra. Aline.
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