A esquerda brasileira que diviniza Lula,
fazendo dele luz e tudo mais poste, crava, com isso, nova baliza para marcar
sua conduta fascista.
Eu sei, eu sei. Comumente é dito o
oposto. Seja nas manifestações acadêmicas e culturais, seja nas orquestrações
rueiras, a acusação vai para o outro lado. Olavo de Carvalho
chama atenção para o fato de o adjetivo “fascista” ser lançado como insulto
sobre qualquer adversário que ouse se interpor no caminho dos partidos de
esquerda. Como seus candidatos se deram bem mal nesta eleição, há muitos
destinatários para esse adjetivo, disparado, inclusive, pelo jornalismo
militante. Com efeito, alguns coadjuvantes do PT, que se mediam com a régua da
própria arrogância, descobriram-se praticamente sem voto e sem povo em cujo
nome falar. Juntam-se ao PT, porém, para insultar adversários: são todos
fascistas...
A maior causa da ignorância está em não
suscitar qualquer mal estar físico. Se doesse, coçasse, causasse insônia ou
tontura, os afetados buscariam cura através do conhecimento. O mundo seria
melhor. A ignorância, no entanto, costuma vir acompanhada de uma sensação de
euforia e de superior onisciência. Pois é o que normalmente acontece quando, no
embate político, alguém fora do clubinho esquerdista é chamado de fascista.
No entanto, o fascismo se caracteriza
por:
·
Ser
estatista. Mussolini
dizia: “Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado”. No Brasil
em que vivo, tamanha reverência antiprivatista ao Estado é marca registrada da
esquerda e de suas corporações funcionais.
·
Ser
nacionalista e expansionista. No Brasil em que vivo, a esquerda é
nacionalista em benefício do Estado e seus poderes, e não em benefício da
sociedade. Para completar o quadro, tem projetos fora de nossas fronteiras, com
ditaduras do continente, com o Foro de São Paulo, com a Unasul e com a URSAL.
·
Organizar
parcelas da sociedade em corpos paramilitares, com estrutura de comando, exibi-los em ostensivos
desfiles e mantê-los prontos para a ação, inclusive para a ação violenta. Qual
a diferença essencial entre os “camisas negras” do fascismo italiano e os
“exércitos” de Stédile, Boulos e os black blocs?
·
Formar,
com o comunismo e o nazismo, a tríade coletivista e totalitária do século XX. A exemplo dos demais coletivismos, o
fascismo desconsidera a preciosa dimensão individual da pessoa humana,
diluindo-a no coletivo do estado nacional. O fascismo se opõe pelo vértice ao
que pretendem liberais e conservadores. No Brasil em que vivo, ambos –
conservadores e liberais – exaltam as potencialidades do ser humano livre e
veem como um oneroso trambolho o Estado tão cultivado pela esquerda.
É muito raro, raro mesmo, que o gorro
fascista seja arremessado por alguém que não o tenha tirado da própria cabeça.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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