Dois americanos foram os vencedores do Prêmio Nobel
de Economia este ano. Ambos escolhidos por seus estudos estarem relacionados
com interações entre o progresso tecnológico, o meio ambiente e a economia. Não
são teses explicitadas recentemente. Ao contrário, os estudos de William D.
Nordhaus e Paul M. Romer representam muitos anos de trabalho para enfatizar as
consequências das mudanças climáticas globais e a importância da inovação
tecnológica, com nossas expectativas para as atividades econômicas e para o
bem-estar da sociedade, no longo prazo.
A escolha aponta para a necessidade premente de
maior evidência ao que, embora possa parecer óbvio, não representa um efetivo
norteador da economia. Ou seja, tanto as variáveis ambientais como a inovação
tecnológica não são fatores apontados pelo mercado como estrategicamente
relevantes, numa dimensão suficiente e necessária. Mesmo com evidências cada
vez mais acentuadas que demonstram as consequências da degradação ambiental e
das mudanças do clima nos negócios, ao longo de nossa existência.
A busca pela harmonização entre a exploração da
natureza - na forma de incontáveis atividades econômicas - e a manutenção das
condições de longevidade dos negócios, da qualidade de vida e da proteção do
meio ambiente, representa um assunto amplamente exposto nas últimas décadas. No
entanto, com uma notória qualificação de estar mais voltado ao discurso do que
para a prática. Efetivamente, há de se reconhecer a falta clamorosa de
controle, dos governos e da sociedade em geral, para inibir práticas econômicas
inadequadas, que exacerbam os direitos individuais. E que atingem muito
negativamente o interesse público, em função de suas consequências ambientais.
Esse cenário aponta para outras características bem
conhecidas do comportamento humano, em que as decisões políticas são, em boa
parte, mais determinantes do que o bom senso e o conhecimento de maneira geral.
De fato, não há uma relação direta entre as muitas ameaças globais que podem
determinar uma situação de crise econômica, social e ambiental sem precedentes
para a humanidade na maioria das vertentes da economia, passada e presente.
Torna-se evidente que enfatizar a importância de alguns dos poucos economistas
que conseguem enxergar algo em meio à neblina do que denominamos "economia
de mercado", justifique uma premiação tão significativa.
O Nobel de economia deste ano, ao aproximar temas
como inovação tecnológica e proteção do meio ambiente, certamente não faz isso
por acaso. Cabe observar que nenhuma dessas duas importantes demandas pode
representar, isoladamente, uma solução plausível para os gigantescos desafios
civilizatórios da atualidade. Mas a conciliação entre os progressos
tecnológicos direcionados a diminuir os impactos sobre o meio ambiente e a
efetiva ação de proteção da natureza, na forma de infraestrutura verde, podem
garantir, de maneira efetiva e consistente, uma fórmula minimamente adequada
para que a economia não continue proporcionando tantos desequilíbrios e riscos
para a nossa sociedade.
Essas tentativas de sinalização não são de hoje. E,
infelizmente, não vêm apontando para uma evolução suficiente para reverter
prognósticos pouco alentadores. Dependemos da nossa própria capacidade de tomar
decisões mais condizentes com a realidade e com o bem comum. Precisamos de
agendas menos favoráveis ao continuísmo, proporcionado por alinhamentos
políticos de grupos econômicos que, sistematicamente, comprometem o nosso
futuro comum.
Clóvis Borges
- diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação
Ambiental (SPVS) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
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