segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Dengue na gravidez: estudo alerta para risco aumentado de anomalias congênitas


 O estudo foi publicado na edição de setembro da revista Emerging Infectious Diseases, do CDC americano


A infecção pelo vírus da dengue durante a gravidez aumentou o risco de anomalias neurológicas congênitas no recém-nascido em cerca de 50%, bem como de outras malformações congênitas do cérebro em quatro vezes, afirma o estudo Symptomatic Dengue during Pregnancy and Congenital Neurologic Malformations, publicado na edição de setembro da revista Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (em inglês, Centers for Disease Control and Prevention - CDC), do governo dos Estados Unidos. 

No estudo, pesquisadores brasileiros encontraram uma associação entre dengue durante a gravidez e anomalias congênitas do cérebro, sugerindo que os flavivírus, o mesmo gênero de vírus causador do zika e da febre amarela, está associado a estas malformações.

Segundo a pesquisadora principal, a epidemiologista Enny Paixão, pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/FIOCRUZ) e doutoranda London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres, até este estudo não havia evidência de malformações congênitas em humanos associada ao flavivírus, embora complicações pós-natais já tenham sido descritas.


O ESTUDO 

O estudo utilizou dados coletados rotineiramente de nascidos vivos e de suas mães, de 2006 a 2012, no Brasil, ou seja, antes da epidemia do vírus Zika, que teve seu auge entre 2015 e 2016. Estes dados foram relacionados aos casos de mães de nascidos vivos com registros de notificação de dengue durante a gravidez. 

Dos 16.103.312 nascidos vivos, as anomalias congênitas neurológicas foram raras, presentes em 13.634 (0,08%) deles. No entanto, entre as mulheres que tiveram a confirmação da dengue durante a gravidez, os casos de anomalia neurológica congênita foram 50% maiores. Em cerca de metade destes casos, os sintomas da dengue ocorreram no primeiro trimestre da gravidez.

Os defeitos congênitos neurológicos foram divididos em categorias, incluindo microcefalia, mas dois outros tipos de anomalias congênitas neurológicas foram quatro vezes mais frequentes: malformações congênitas da medula espinhal e malformações congênitas do cérebro. 

O padrão de anomalias descritas tem semelhanças com o da Síndrome Congênita do Zika (SCZ), afirmam os pesquisadores, que fizeram esta verificação por meio da comparação com imagens cerebrais e autópsias de bebês com Zika e outras doenças infecciosas.


ATENÇÃO À DENGUE

O estudo, afirmam os pesquisadores, possui limitações, como por exemplo o fato de nem todos os casos serem testados depois que a causa é estabelecida. Vale lembrar que a dengue, no Brasil, é notificada quanto à presença de critérios clínicos, confirmação laboratorial ou ambos. No entanto, somente 30% das infecções notificadas são confirmadas laboratorialmente.

Na conclusão, embora a associação de dengue sintomática durante a gravidez e anomalias congênitas do cérebro no bebê não sejam tão altas quanto à ligação com o Zika, os achados abrem a possibilidade deste e de outros flavivírus causarem malformações congênitas. 

A recomendação dos pesquisadores é que, a partir de agora, haja uma observação cuidadosa e o registro da infecção por dengue ao longo do pré-natal, bem como investigação completa de nascidos vivos com malformações neurológicas. 


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