terça-feira, 9 de outubro de 2018

Cirurgião, nutricionista e psicóloga explicam por que é importante tratamento multidisciplinar para tratar obesidade


No próximo dia 11, será o Dia Mundial de Combate à Obesidade, doença que atinge 18,9% dos brasileiros


A obesidade não é desleixo. Ela é uma doença multifatorial, que, se não controlada, gera muitas outras doenças, as chamadas comorbidades. Considerada um dos principais problemas de saúde pública, ela atinge 18,9% dos brasileiros, segundo pesquisa divulgada neste ano pelo Ministério da Saúde. Já o sobrepeso atinge mais da metade da população, com 54%. Para alertar sobre a gravidade desta doença, foi criado o Dia Mundial de Combate à Obesidade, comemorado no próximo dia 11. Como podemos, então, tratar a obesidade? Três profissionais, de áreas diferentes, explicam por que é tão difícil vencer a obesidade e se manter no peso ideal.

A obesidade pode ser tratada de diversas maneiras. Os tratamentos clínicos, com endocrinologista, nutricionista, psicólogo e atividades físicas, são sempre a primeira opção. Em situações bem definidas, existe a cirurgia bariátrica para pessoas que estejam enquadradas, no mínimo, na obesidade grau 2. Mas, independentemente de qual a indicação, o tratamento sempre vai precisar de mudança de hábitos.

De acordo com o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho, de Valinhos, por ser multifatorial, a obesidade precisa de um tratamento com diversos profissionais. “A obesidade envolve desde questões clínicas até psicológicas, passando por hábitos de alimentação, vida social, sedentarismo, etc. Um tratamento efetivo, na maioria das vezes, depende de uma mudança completa na vida do paciente e ele só consegue isso com a ajuda de profissionais de diversas áreas”, explica.

A psicóloga Mariângela Paolis, que tem um amplo trabalho com pessoas obesas, comenta que, normalmente, esses pacientes utilizam o alimento como um recurso emocional. “O alimento é impregnado de afeto e o paciente precisa conhecer suas limitações e recursos internos para mudar o foco da comida para outras maneiras de resolver seus conflitos”, afirma. “A obesidade influencia o paciente como um todo. São restrições físicas, problemas clínicos de saúde, problemas na vida sexual, dificuldade para sair de casa... Ele se restringe de maneira geral e, sem muitos acessos em termos de prazeres, a comida acaba ocupando o centro de suas questões prazerosas”, completa.

Quando a pessoa quer perder peso, na maioria das vezes, começa procurando uma nutricionista, que é a profissional que vai ajudá-la a adotar hábitos mais saudáveis de alimentação. “O tratamento nutricional deve ser entendido como um programa de modificação comportamental e não somente como uma dieta para emagrecimento com inúmeras restrições alimentares”, explica a nutricionista Célia Belelli.  “Para um sucesso no tratamento, o indivíduo e familiares devem estar dispostos a realizar mudanças do estilo de vida. Precisamos levar em consideração preferências alimentares, aspectos financeiros, hábitos de vida e comportamento alimentar. A partir daí, serão estabelecidas metas para serem trabalhadas individualmente e, sempre que possível, também em grupo”, afirma.

Segundo a nutricionista, a alimentação é uma necessidade básica do ser humano, mas além disso, é uma grande fonte de prazer. E é aí que os caminhos se confundem. “No ato de “comer”, estão envolvidos vários fatores: fisiológicos (fome), vontade de comer (desejo por esse ou outro alimento) e aspectos sociais (hábitos alimentares familiares), portanto, a mudança alimentar leva tempo, disciplina, envolvimento individual e familiar. E isso não é tão fácil, mas é necessário para que seja duradoura e não passageira”, reforça.

Entre o tratamento clínico e a cirurgia bariátrica, também existe o tratamento endoscópico para obesidade, com duas opções: o balão gástrico e a Endosutura gástrica (Gastroplastia Endoscópica), em que é feita uma redução do estômago através de endoscopia.

Uma pessoa é considerada acima do peso (sobrepeso) quando seu IMC (Índice de Massa Corporal) está entre 25 e 30. Com IMC entre 30 e 35, ela está com obesidade grau 1 (obesidade leve); entre 35 e 40, com obesidade grau 2 (obesidade moderada) e, acima de 40, com obesidade grau 3 (obesidade severa ou mórbida). Quanto maior o grau da obesidade, maior a dificuldade para emagrecer. Portanto, para esses pacientes, a cirurgia bariátrica pode ser uma solução para a perda de peso. Para ter indicação ao procedimento, o paciente precisa ter IMC acima de 35, desde que com doenças causadas pela obesidade, ou IMC acima de 40, sem a necessidade de comprovar outras doenças.

No ano passado, foram realizadas 105.642 cirurgias no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. “Para ser submetido à cirurgia bariátrica, o paciente precisa comprovar que já tentou outras formas clínicas para emagrecer. E, apesar de muita gente achar que este é o caminho mais fácil, o sucesso da cirurgia depende de uma mudança de vida do paciente, que precisa adotar hábitos saudáveis de alimentação e fazer atividades físicas. A pessoa obesa precisa entender que obesidade é uma doença crônica e, como tal, é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar por toda a vida, independentemente de estar magra e de como tenha emagrecido”, finaliza o cirurgião bariátrico.


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