Haddad está
atrapalhadíssimo. Os marqueteiros do partido fizeram desabar sobre Bolsonaro
três adjetivos que deveriam condená-lo à morte política por inanição de votos.
Verdadeiro corte da fonte de suprimentos. Nos últimos meses, multidão de
militantes, comunicadores, professores, intelectuais foi orientada a
etiquetá-lo como machista, racista e homofóbico. A previsão era de que isso o
fizesse definhar mais do que facada no ventre e sopa de canudinho no hospital.
Pois apesar da carga cerrada, a mais recente pesquisa do Ibope mostrou que o
candidato do PSL o supera em votos entre as mulheres (46% a 40%), entre os
negros (47% a 41%) e provavelmente também entre os gays, mas isso não dá para
saber. É informação difícil de buscar.
Haddad,
então, não conhece seu adversário nem seus eleitores e já não sabe quem é. Por
tanto tempo foi ventríloquo de Lula presidiário que quis continuar a usar a
máscara com a face do chefe mesmo depois de ungido candidato a presidente.
Aceitou ser chamado de “Poste” e – é claro – passou a ser tratado como tal.
Haddad topava todas as postergações e humilhações porque ali adiante havia uma
porta da felicidade que franqueava para os palácios presidenciais de Brasília.
E tudo vale a pena, também quando a alma é pequena.
Ademais, as pesquisas, enganosas como
são, vinham dando ao petismo a impressão de que o páreo estava corrido. Elas
atribuíam a Bolsonaro um índice de rejeição incompatível com vitória eleitoral.
Num segundo turno perderia para todos, incluído ele, Haddad. Bastava levar o
adversário a um novo round e o PT voltaria às delícias do sítio de Atibaia da
Praça dos Três Poderes.
O eleitor brasileiro, no entanto,
“problematizou” a situação e “desconstruiu” essa narrativa, como diria um
petista treinado nos ardis da novilíngua. O PT ficou reduzido a um único grande
eleitor, o Lula. Nestes últimos dias,
então, o atrapalhado Haddad descalçou o Lula; suprimiu a estrela, o PT e o
PCdoB; fez desaparecer o vermelho. Adotou as cores da bandeira e ficou com
jeito de “coxinha”. E quer porque quer debater com Bolsonaro. Valem, aqui, dois
conselhos quase seculares: Não se atrapalha adversário que está errando e não
se ajuda adversário que está atrapalhado.
Para que conceder ao adversário algo que
ele tanto quer? Num debate, Haddad usará as piores estratégias. Estatísticas e
calendários, desempenhos de gestão e atos de corrupção irão para o moedor das
conveniências e das versões. Não vem o PT repetindo que sua gestão foi um
paraíso de bem estar e prosperidade? Não alega que foi Temer quem arrastou o Brasil
para o precipício? Oportunizar esse tipo
de discurso? É muito difícil debater quando a honestidade intelectual fica fora
do recinto.
Só
para lembrar: em 1989, no primeiro turno, Collor faltou a todos os debates e no
segundo foi a apenas dois; FHC, que venceu dois pleitos no primeiro turno,
compareceu a apenas um evento em 1994 e em 1998 sequer houve debates; Lula não
compareceu a nenhum debate no primeiro turno de 2006. Comparecer ou não é juízo
de conveniência.
A campanha eleitoral vai terminar sem
que o PT entenda que está perdendo esta eleição para o antipetismo em todos os
segmentos da vida nacional. O petismo vive uma situação como a do samba de
Vinícius e Toquinho em que o sujeito tantas fez que agora tanto faz.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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