Número
é mais de três vezes maior que a inflação geral e pode causar, a curto e longo
prazo, o fechamento de muitas operadoras de saúde
Embora
seja um problema mundial, o Brasil é um dos países que tem as maiores taxas de
inflação médica. Um estudo recente do IESS – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar
mostrou que aqui a inflação médica, também chamada de VCMH – Variação dos
custos médicos hospitalares, foi de 3,4 vezes o valor da inflação geral. Na
Argentina, país vizinho, esse número foi de 1,4. Países desenvolvidos, como a
Dinamarca ou França, também apresentam uma variação excessiva nesse indicador:
no primeiro foi de 3 vezes o valor da inflação base e, no segundo, de 2,5
vezes. No Brasil, os custos relativos à internação são os
mais expressivos, representando quase metade dos valores pagos pelas operadoras
de saúde. O gasto com materiais é o segundo na lista.
Além de mostrar que se trata de um fenômeno
mundial, o estudou trouxe as principais causas:
envelhecimento populacional e aumento de doenças
crônicas não transmissíveis; avanços tecnológicos, alto custo de medicamentos;
o modelo de pagamento utilizado na saúde e a tendência de se utilizar em
excesso os serviços. No Brasil, pode-se adicionar ainda alguns fatores que
fazem com que o problema seja ainda mais grave, como os diferentes surtos de
doenças transmissíveis e a determinação do governo de aumento da cobertura
mínima para novos procedimentos e medicamentos.
Além
destes fatores, o rol de cobertura mínima em nosso país tem mais de 5 mil
itens. A título de comparação, na Austrália esse número é de 500 e na África do
Sul em torno de 300. Dentre esses 5 mil itens, aproximadamente 600 são exames.
Algumas doenças têm mais de 30 exames. É preciso que sejam feitos estudos
analisando a real necessidade de todos esses procedimentos para verificar os
efetivos e os que apenas aumentam o custo da saúde. Na prática isso se torna
inviável. Se o governo não aprovar um rol mais enxuto a viabilidade econômica
de muitos planos de saúde estará cada vez mais comprometida.
Apesar
deste extraordinário número de itens do rol, aprovado pela ANS e a sociedade
constituída, o sistema judiciário continua a considera-lo como uma lista mínima
de cobertura, o que tem ocasionado frequentes liminares judiciais por exame ou
procedimento não inclusos. Estas atitudes de judicialização tem trazido um
grande desconforto entre usuário e operadora de saúde, com encarecimento entre
2 a 3% do custo per capita no produto comercializado.
O
envelhecimento da população também tem um impacto muito grande nos custos de
saúde – e com o aumento da expectativa de vida esse número tende a continuar
subindo. Até 2030, os planos de saúde contarão com um maior número de
beneficiários idosos – estima-se que chegue a 51,6%. Com isso, aumentarão
também o número de consultas, exames e internações. Será outro aumento de custo
que inchará as contas já bastante comprometida das operadoras.
Mudanças
no modelo de pagamento; uma maior transparência em relação ao custo e qualidade
dos materiais (que poderia causar um aumento da competição entre os
distribuidores e uma consequente baixa de preços) e o uso de critérios bem
definidos para incorporação de novos itens no rol mínimo de cobertura dos
planos de saúde, tendo como base o custo benefício, são algumas das medidas que
poderiam frear o aumento exponencial da inflação médica. Além disso, faz-se
necessária também uma urgente mudança na mentalidade. É preciso abandonar o
modelo vigente, centrado no hospital e com foco na doença, para um modelo com
foco em promoção à saúde e atenção primária.
Outra
forma de otimizar o serviço é estimular uma prática que ainda é vista com
ressalva pelos segurados que tem plano de saúde: médico de família ou médico
gestor. Esse profissional seria o responsável pelo atendimento e encaminhamento
dos pacientes, somente quando necessário. Isso evitaria consultas, exames e até
tratamentos desnecessários.
Caso
não existam mudanças para tentar barrar o aumento nos custos, todos tendem a
perder: usuários, operadoras de saúde e governo. Perdem usuários, que não
conseguirão arcar com os custos; muitas operadoras não resistirão ao novo
cenário e o governo precisará absorver ainda mais usuários no seu já bastante
frágil sistema de saúde. Por isso, a única saída é unir esforços para garantir
que a saúde suplementar possa ter vida longa e cada vez mais próspera no país.
Luiz
Augusto Carneiro - economista e superintendente executivo do IESS – Instituto
de Estudos de Saúde Suplementar
Cadri
Massuda - presidente da Abramge-PR/SC – Associação Brasileira de Planos de
Saúde
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