Balela essa história toda de influenciadores digitais, além de ser
muito chato ficar lendo quantas bobagens incutem na cabeça dos coitados e
coitadas que os seguem cegamente. Ou melhor, vidrados nas telas das maquininhas
que teclam desesperados e esparramam não sabem nem mais o que, para onde. Crias
artificiais, espalham vento, à base de muita grana e contando que a internet
aceita tudo. Quero ver nascer os conscientizadores digitais, fundamentais em um momento tão importante como esse agora
Você pega uma bacia,
enche de água quente, joga umas ervas aromáticas. Chá? Para beber? Faz bem à
saúde? Nãoooo!
É para, digamos, sentar em cima, para fazer uma tal vaporização genital. Tem
ainda quem pague até 50 dólares (o que na nossa moeda daria uns 200 contos)
para que alguém faça para ela esse tal “tratamento”, já que deve ser mesmo
muito difícil ferver uma água e jogar matinhos cheirosos dentro. Para o que
serve além da chance de queimar os fundilhos ainda não descobri.
Isso é só um exemplo das
bobagens indicadas pelos tais influenciadores, e que os portais ainda têm a
pachorra de publicar com destaque e passar para a frente todos os dias, e o que
é pior, tudo isso figura sempre entre os itens mais lidos – mesmo quando o
mundo está se acabando. Reparou, né?
As tais blogueiras de
moda, influenciadoras, por exemplo, essas então se divertem, ganhando muito
dinheiro e tudo para indicar produtos, o que fazem com a cara mais lavada ou
pintada do mundo. Uma hora dizem que o quente é usar maiô; depois o quente é
usar de novo a asa delta dos anos 70 – mas que seja mais profunda, fique bem
aqui em cima, tipo o estilo que o Borat usa. Não, esquece! Agora a onda já é
usar a parte de cima do biquíni ao contrário. “As famosas estão usando” – é o
mote. Peraí, que enquanto eu escrevia, mudou tudo: o legal agora é usar biquíni
branco. Atenção, que isso também já pode ter mudado enquanto você lê. Quem paga
mais?
Papai, sábio papai
caboclo velho, sempre dizia que tem otário para tudo. E dizia isso sem saber
que as coisas na internet estavam muito piores do que as que via no mundo real.
As pessoas gostam, praticamente pedem, imploram, para serem enganadas,
ludibriadas, “influenciadas”, guiadas. Miolo mole, papai definia, seguido de um
palavrão e um resmungo: “papagaios de botina”
– já escrevi sobre essa expressão. (https://marligo.wordpress.com/2010/05/22/artigo-os-nomes-das-coisas-e-as-coisas-dos-nomes/)
Visto de forma um pouco
mais poética, essas coisas me fazem lembrar de O Flautista de Hamelin, dos Irmãos Grimm.
Contratado para acabar com uma infestação de ratos na cidade, o flautista os
hipnotizou e os afogou, mas na hora de receber o que tinha sido combinado pelo
serviço, desconversaram. Ele não teve dúvidas: tocou sua flauta de novo, só que
desta vez hipnotizou e sumiu com todas as crianças da vila, que o seguiram la-la-lá alegremente,
sendo trancafiadas numa caverna.
Aqui, os tais
influenciadores – palavra que já está ficando chata de tanto ouvir - tocam suas
flautas incessantemente. E o som se expande pelas redes sociais: são notícias
mentirosas, pesquisas manipuladas, celebridades e subcelebridades fotografando,
filmando e divulgando até os gases que aspiram. Centenas de agências juram que
podem ensinar – com dicas óbvias, mas dadas como se fossem o maior segredo de
Estado - a quem pagar, certamente, para também ser flautista. Mesmo que isso
custe a própria dignidade como vimos essa semana em denúncia recente na área
política. Já não são só mais robôs que manipulam informações; são gentinhas que
recebem um trocado. Para trair atraindo.
O mundo verde e amarelo
dos dedos tamborilantes precisa agora urgente da ação de um maior número de
conscientizadores, didáticos, que falem sobre as histórias que viveram. Levante
a blusa, mostre as cicatrizes se for o caso. Fale dos livros que não pôde ler,
dos filmes e peças de teatro que não pôde ver porque tudo era proibido,
censurado. Trate das dificuldades que enfrentou, e lembre principalmente do
quanto isso atrasou a sua vida, tempo irrecuperável, quase tanto quanto o desse
momento que agora nos castiga. Recorde a eles os planos econômicos
enlouquecedores. Você pode provar tudo o que fala.
Recortes de jornais,
velhas gravações, arquivos gerais. Muito bom espaná-los sempre com ares
democráticos frescos. Só assim serão todos senhores de seus ouvidos. E de suas
decisões.
Precisamos, agora,
urgente, nos precaver: resguardar as nossas conquistas para que, aconteça o que
acontecer, não mais sejamos atingidos tão brutalmente. Por ninguém.
Marli Gonçalves -
jornalista – Cadê vocês? – apareçam. Prometo: vou curtir, seguir,
compartilhar.
Setembro, finalmente.
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