Aprimorar
os processos de inovação e garantir que o termo não seja usado apenas no
discurso é o desejo da maioria das empresas brasileiras. Uma pesquisa feita
recentemente pela Desenvolve SP, mostrou que mais da metade dos empresários
paulistas pretende investir em algum tipo de
inovação entre 2018 e 2020.
Ao
encontro desse anseio, acaba de surgir a ISO 50.501, uma norma internacional
que está prevista para ser publicada no Brasil em fevereiro de 2019, e que
pretende garantir que a inovação não seja apenas um discurso e sim uma cultura
inerente ao cotidiano da empresa. A proposta é criar uma política capaz de
suportar a organização diante de tantas transformações.
A
implementação desse sistema de gestão permite que as empresas brasileiras
adquiram as melhores práticas de inovação adotadas nos mais de 163 países
membros da ISO. E, ao contrário do que possa parecer, a ideia não é engessar a
inovação, mas sim organizá-la de forma a trazer ainda mais benefícios. Por
isso, listo abaixo os seis principais motivos para investir nessa nova
certificação.
#1
Gestão de Insights: Apesar de
inovação não ser apenas uma excelente ideia, tudo nasce dessa fagulha criativa.
O primeiro benefício é que, com a implementação da norma, a empresa passa a ter
uma política de gestão para novas ideias. Ou seja, quando um colaborador tem um
insight de melhoria, independentemente de ser em um processo, produto, serviço
ou atendimento ao cliente, existe um protocolo claro de como tratar essa ideia,
de como testá-la e fazê-la seguir adiante para ser implementada. A ideia não
morre sem antes ser ouvida. O mais interessante é que não há discriminação
entre níveis hierárquicos. A inovação surge em todos os cantos, não apenas na
alta gestão.
#2
Domínio das incertezas: Gestão de
riscos é indispensável em todas as empresas, mas cada uma tem sua própria forma
de pensar sobre perigos, ameaças e oportunidades. Com a inovação, é possível
fazer uma análise diferente sobre os riscos diários e, a partir disso, dominar
os cenários e as incertezas. A norma usa a inovação para achar métodos e
processos diferentes para lidar com os problemas. Toda experimentação,
processos de ideação e MVP - Minimum Viable
Product (produto
minimamente viável), são fatores de risco para as empresas, já que presumem
muitos erros. Saber geri-los é uma das etapas da ISO 50.501.
#3
Cultura adaptativa: Resiliência e
flexibilidade são habilidades cada dia mais exigidas pelo mercado. Quando
analisamos essa norma, talvez a cultura adaptativa seja um dos maiores
benefícios apresentados. Trata-se de criar dentro da empresa um comportamento
de adaptabilidade, onde é possível identificar as demandas do mercado, olhar as
tendências e as oportunidade. A partir daí é que são criados novos produtos,
serviços e formas de capitalização. Essa capacidade de se adaptar é
imprescindível, ainda mais em tempos de tantas vulnerabilidades e incertezas.
#4
Espírito colaborativo: Ainda permeando
a cultura, o próximo grande benefício fala sobre desenvolver a capacidade de
estar aberto para a colaboração. Trata-se de um hábito onde as pessoas
possam falar abertamente e também aprendem a ouvir. Criar esse canal aberto de
diálogo é indispensável para fazer florescer a inovação. Um ambiente onde os
colaboradores se sentem à vontade para dar feedback positivo e negativo para a
gestão acaba sendo também um espaço de colaboração. Sem falar que, uma empresa
capaz de ouvir seus funcionários, consegue engajar a equipe - algo essencial
para qualquer sistema de gestão. Essa cultura de feedback ativo tem que ser
receptiva também para ouvir clientes, fornecedores, parceiros. É por meio de uma
escuta ativa que aprendemos sobre nossas forças e fraquezas e conseguimos agir
sobre elas.
#5 Liderança visionária e inspiradora: Os
líderes de uma organização precisam ser pessoas inspiradoras e visionárias.
Quando a liderança tem o mindset voltado para inovação, ela é capaz de
direcionar as pessoas e criar processos que viabilizem esse futuro emergente.
Os líderes precisam estar focados e motivados com o futuro, antenados sobre
inovação. A norma prevê, portanto, a criação de um processo que treine as pessoas
dentro desse pensando visionário.
#6 Propósito Massivo Transformador: A missão
de uma empresa é o motivo pelo qual ela existe e, pensando em inovação,
esse propósito deve ser encarado de maneira visionária e transformadora. A
inovação surge da dificuldade, da necessidade de criar algo novo e atingir
outros níveis de sucesso. Portanto, a norma propõe que a empresa tenha um
propósito massivo e transformador. O processo de gestão da ISO vai direcionar
para que isso aconteça e, para que a missão vá além de ser a maior de seu
segmento ou lucrar mais. A ideia é que todas as decisões sejam tomadas em prol
dessa missão, para que a empresa cumpra esse propósito. O processo quer
garantir que a empresa seja inovadora de fato e que todas as decisões sejam tomadas
para que ela se mantenha firme nesse caminho.
Todos
os tipos de empresa podem - e devem - buscar a ISO 50.501 para garantir que
seus processos de gestão da inovação sigam as melhores práticas do mundo. O
processo é simples. A empresa passa por uma fase de diagnóstico, que pode ser
feito tanto por uma equipe interna de gestão quanto por uma consultoria
terceirizada, desde que se detenha conhecimento específico sobre essa norma. A
próxima fase estabelece um cronograma de ações, que varia caso a caso, uma vez
que é completamente personalizado para cada empresa.
A
partir da publicação da versão traduzida da norma pela ABNT, previsão para
fevereiro de 2019, a empresa poderá optar por acreditar a norma junto a uma certificadora
ligada ao INMETRO. Investir em inovação é a grande oportunidade de transformar
as empresas brasileiras. O mundo todo já percebeu que é preciso inovar para
sobreviver. Tanto é que o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) acaba de anunciar que vai repassar à Finep
US$ 1,5 bilhão para serem aplicados em projetos de desenvolvimento e inovação
em empresas brasileiras. Vale a pena ficar de olho.
Alexandre
Pierro - engenheiro
mecânico, bacharel em física aplicada pela USP e fundador da PALAS, consultoria
em gestão da qualidade
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