Em todos os países de corrupção
sistêmica (o Brasil ocupa a posição 96 no ranking da Transparência
Internacional) é muito elevado o índice de desigualdade. A corrupção, nesses
países, não se deve apenas às patologias humanas decorrentes da falta de ética,
senão, sobretudo, às desigualdades (econômicas, sociais, estruturais,
psicológicas, educacionais, de oportunidades etc.).
O Brasil é um país exageradamente
corrupto porque é vergonhosamente desigual.
Vamos recordar: somos o 10º país mais
desigual do mundo, de acordo com o índice Gini (que mede esse desequilíbrio). É
o 4º país mais desigual da América Latina, só perdendo para Haiti, Colômbia e
Paraguai. Embora seja a 7ª economia do planeta, possui um indecente Índice de
Desenvolvimento Humano (posição 79, em 188 países pesquisados).
Em nenhum outro país há tanta concentração de renda: o 1%
mais rico detém 30% da renda total (ver Pesquisa da desigualdade Mundial de
2018). Nem o Oriente Médio nem os EUA têm tanta concentração de renda.
A cruel desigualdade brasileira no século XXI é continuação
do sistema feudal da Idade Média. Entre nós existem 450 empresas (ver Bruno
Carazza, Dinheiro, eleições e poder) e
umas 20 famílias que se comportam como senhores feudais, que compraram os
mandatos (via financiamento de campanha) de uns 300 políticos superinfluentes
entre 1994 e 2014.
Políticos com mandatos comprados cumprem o papel de vassalos
dos senhores feudais, protegendo seus interesses materiais no âmbito do Executivo
e do Legislativo (por meio de leis de isenções fiscais, dinheiro público
barato, contratos públicos sem licitação lícita, contratos superfaturados, desonerações
e renúncias fiscais etc.).
Tal qual na Idade Média (século V ao XV), os senhores
feudais (verdadeiros donos do Brasil) possuem muito poder econômico e político.
Mas não estariam no comando da nação há 518 anos se não contassem com
incontáveis aparatos de proteção que vão além da vassalagem política (que é
comprada).
A influência desses senhores feudais alcança também a
vassalagem de setores do judiciário, da alta burocracia estatal, do mundo
militarizado, da grande mídia, da intelectualidade vendida e da religião. Sem
aparatos protetivos os senhores feudais desapareceriam.
As desgraças geradas pelo feudalismo corrupto não se limitam
à indignação que nos gera o dinheiro roubado (que já é absolutamente
intolerável). É que esse dinheiro faz muita falta para a educação, saúde,
segurança, Justiça, transportes e infraestrutura. O bem comum sucumbe diante
dos deploráveis interesses privados, que menosprezam desde logo a ética.
O pior é que daí nasce um tipo de cultura política de
desapreço pela democracia. Da apatia democrática fundada na descrença frente às
instituições decorre não apenas a recusa do eleitor de participar validamente
das eleições (os votos brancos, nulos e a abstenção continuam em alta) como um
tipo de revolta que está levando várias partes do continente a ditaduras
eleitas pelo povo.
Por causa do feudalismo corrupto protagonizado pelos
senhores feudais donos do país o Brasil se acha imerso em um círculo vicioso
altamente destrutivo da sociedade brasileira. Doenças que já tinham
desaparecido estão retornando (sarampo, poliomielite etc.).
Tudo deriva da falta de confiança entre as pessoas assim
como nas instituições. A falta de confiança favorece muito a difusão da
corrupção sistêmica. Esta, por sua vez, amplia a falta de confiança nas
instituições. É um círculo vicioso mortal. Nossa sociedade está sendo destruída
pelos donos corruptos do poder.
Uma plutocracia (poder dos endinheirados) gananciosa,
egoísta e corrupta converteu o Brasil numa cleptocracia que é continuidade do feudalismo
da Idade Média.
Cleptocracia significa governos de ladrões que se sucedem,
sem resolver nossos problemas básicos de escolarização, saúde, transportes,
segurança e Justiça.
Enquanto não atacarmos com dureza essas doenças do Brasil, fazendo
o ladrão devolver o roubado e pagar pelo que fez de errado, vão se agravando os
seus efeitos maléficos assim como o sofrimento da população. Até quando o
brasileiro vai suportar os desmandos e caprichos dos senhores feudais donos da
Nação?
LUIZ FLÁVIO GOMES , jurista e criador
do movimento Quero Um Brasil Ético. Estou no f/luizflaviogomesoficial
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