No Brasil, quando falamos em
gramados esportivos, é quase instintivo pensarmos em um campo de futebol. Somos
o país do futebol. Para muitos, em meio às suas primeiras roupas, estava uma
camisa da seleção canarinho. Apesar disso, somos uma nação de muitos esportes
fantásticos, e um deles tem se tornado muito popular, nos últimos anos: o
golfe.
Diferentemente do futebol, o
golfe ainda enfrenta barreiras estruturais para se tornar popular. Não é só uma
questão de apreço pelo esporte, já que quem joga costuma gostar muito da
prática. Não é também uma questão de popularidade ou competição com outros
esportes. O maior problema é que ainda temos poucos campos de golfe no país, e
nem todos são feitos com a excelência necessária para tornar o jogo desafiador
e divertido.
O campo de futebol é
retangular, varia pouco de tamanho, há alguma variedade de gramado, mas as
variáveis na construção são poucas. Já um campo de golfe tem uma complexidade
muito maior, pois os diferentes formatos e terrenos fazem parte do desafio do
esporte. A diversão também está nessa imprevisibilidade. Isso desafia
arquitetos.
É preciso ser artístico. O
terreno precisa ser analisado para que o encaixe do percurso se alinhe a ele. O
desafio deve chegar a quem é experiente e a quem é iniciante. Atender a dois
públicos tão distintos é extremamente complexo. Na maioria dos outros esportes
de gramado, o design do terreno tem pouca importância. No golfe ele quer dizer
tudo.
Quando o projeto é pensado
para um condomínio, por exemplo, ainda há de se considerar o melhor uso e os
riscos, sobretudo nas áreas de contatos com a parte residencial. Talvez um dos
maiores desafios seja justamente se utilizar de tudo isso para criar um cenário
deslumbrante, que encante o jogador.
Jogar golfe tem a ver com
relaxamento, um estado de tranquilidade. Por isso, a paisagem é importante.
Mais do que uma grama que permita dificuldade e jogabilidade, a vista deve
encantar. Essas variáveis tornam difícil avaliar que campos são melhores ou
piores. Cada campo busca ser único. É aquela experiência que fica com o
jogador. Por esse motivo é um jogo tão interessante.
Claro que há fatores de
avaliação comuns que fazem diferença, como a construção e a manutenção.
Entretanto, o fator originalidade é tão ou até mais importante. Por fim, o
último desafio que os campos de golfe encontram, sobretudo no nosso país, é a
irrigação.
O esporte depende de uma
irrigação de excelência para funcionar. Uma irrigação de má qualidade tem vida
útil curta, gasta mais água, energia, demanda mais fertilizantes, mais mão de
obra nas máquinas de corte, e sempre demanda interferência para estar razoável.
É a água que traz vida ao
campo, mesmo escondida abaixo do solo. Um sistema de irrigação de alta
qualidade terá um software que comandará todo o processo, fará leitura do
clima, recalibrando a quantidade de água necessária para manter a grama
saudável. Isso evita desperdícios, aumenta a durabilidade e pode considerar a
peculiaridade de cada área do campo.
O golfe, ao contrário de
outros esportes de gramado, tem áreas que demandam irrigação diferenciada
porque a grama varia e tem funções diferentes no jogo. São até 900.000m2 de
área irrigada. A importância é tanta que é possível perceber que nas listas de
melhores campos do Brasil, os 10 melhores sempre contam com a irrigação da mais
alta qualidade.
Em suma, o golfe é um esporte
que vem ganhando o gosto dos brasileiros, mas os desafios estruturais ainda são
grandes. Apesar de tudo, as soluções são simples, só demandam um olhar e
trabalho especializado para que se amplie a popularidade do esporte no nosso
país.
Danny Braz - engenheiro civil, consultor internacional com foco em construções
verdes e diretor geral da empresa Regatec.
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