Projeção do
Instituto aponta a necessidade de repensar questões como modelo de remuneração
e falta de transparência, sob risco de inviabilizar a sustentabilidade
econômico-financeira do setor
As operadoras de planos
de saúde devem gastar R$ 383,5 bilhões com assistência de seus beneficiários em
2030. O montante representa um avanço de 157,3% em relação ao registrado em
2017 segundo a "Projeção das despesas assistenciais da saúde
suplementar", realizada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar
(IESS). "Esse valor representa mais do que o dobro do que foi gasto em
2017 e acende uma luz amarela, de alerta, para o setor", analisa Luiz
Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS.
O executivo destaca que,
para manter a sustentabilidade econômico-financeira do setor, todos os
envolvidos nessa cadeia precisam repensar questões como o modelo de remuneração
de prestadores de serviço, a falta de transparência e o desperdício gerado por
erros, fraudes e eventos adversos, além da inclusão de novos produtos na saúde
suplementar. "A projeção de aumento de despesas assistenciais que
realizamos é bastante conservadora, sem levar em conta questões como o avanço
tecnológico ou pioras na situação de saúde da população, o que tende a
acontecer com o envelhecimento", alerta. "É fundamental olharmos essa
projeção com atenção e repensarmos o sistema de saúde suplementar atual."
De acordo com o levantamento,
considerando uma taxa de cobertura constante, o efeito do crescimento
populacional e a mudança na composição etária da sociedade brasileira, o setor
de saúde suplementar deve firmar mais 4,3 milhões de vínculos até 2030. O que
elevaria o total de beneficiários para 51,6 milhões. Considerando apenas o
aumento do total de vínculos com planos de saúde médico-hospitalares e o avanço
do porcentual dos beneficiários com 59 anos ou mais, as despesas assistenciais
de 2030 já subiriam para R$ 190,7 bilhões. Um aumento de 27,9%.
Contudo, ainda pesa (e
muito) nessa conta a variação dos custos médico-hospitalares (VCMH), que tem
crescido sistematicamente acima da inflação geral. Em 2016, por exemplo, a
inflação medida pelo IPCA foi de 6,3%, enquanto a variação dos custos
médico-hospitalares avançou 20,4%, de acordo com o VCMH/IESS.
Composição das despesas
por faixa etária
Hoje, os beneficiários
com 59 anos ou mais representam 14,2% dos vínculos com planos de saúde, mas,
até 2030, eles devem passar a representar 20,8% dos beneficiários. Inclusive
ultrapassando os beneficiários com até 18 anos, que hoje respondem por 24% dos
vínculos com planos médico-hospitalares e, em 2030, devem responder por 18,7%
desse total.
Juntamente com a mudança
no perfil etário, segundo o estudo do IESS, também veremos um aumento dos
gastos assistenciais. Especialmente entre os beneficiários com 59 anos ou mais.
Entre 2017 e 2030, os gastos assistenciais com os beneficiários que têm até 18
anos devem crescer 31,8%. Já o dos beneficiários com 59 anos ou mais deve subir
264,7%.
Em 2030, os planos de
saúde devem ter despesas assistenciais da ordem de R$ 213,8 bilhões com
beneficiários com 59 anos ou mais. Já os beneficiários com até 18 anos devem
gerar despesas assistenciais de "apenas" R$ 15,7 bilhões.
Mesmo os beneficiários
com idades de 19 anos a 58 anos, que continuarão respondendo pelo maior número
de vínculos com planos médico-hospitalares em 2030 (60,5% do total), irão gerar
uma despesa assistencial de R$ 154 bilhões; inferior a dos beneficiários na
última faixa etária.
Utilização de
procedimentos
Até 2030, o total de
procedimentos assistenciais (consultas, exames, terapias e internações)
realizados por beneficiários de planos de saúde deve crescer 16,9%, saindo de
1,7 bilhão de procedimentos realizados em 2017 e ultrapassando a marca de 2
bilhões de procedimentos em 2030.
De acordo com a projeção
do IESS, os exames são e continuarão sendo o tipo de procedimento mais comum.
Em 2017 foram realizados 1,2 bilhão de exames e, em 2030, devem ser feitos 1,4
bilhão. Alta de 17,5%.
Contudo, a frequência de
internações é a que mais deve crescer. Especialmente por conta do
envelhecimento dos beneficiários. Em 2017, foram feitas 8,6 milhões de
internações. Já em 2030, segundo a projeção, devem ser realizadas 10,4 milhões
de internações. Avanço de 20,9%.
O total de consultas
deve subir 12,6%, de 325 milhões para 365,9 milhões. Já o total de terapias
deve sair de 186,1 milhões e chegar a 223,5 milhões, impulso de 20,1%.
Apesar de o total de internações ser o menor entre
os grupos de procedimentos, o IESS destaca que esse grupo responde por mais da
metade das despesas assistenciais. "É fundamental que os planos de saúde e
as empresas, que são o maior contratante de planos, avancem em programas de promoção
da saúde focados em manter a qualidade de vida dos beneficiários, ao invés
focar apenas em solucionar os problemas de saúde", comenta Carneiro.
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