A FIFA só autorizou o uso dos óculos em campo a partir da Copa do
Mundo na África, em 2010
O jogador Bruno
Henrique, atacante do Santos, voltou a jogar futebol depois de quase ter que
abandonar a carreira. Ele levou uma bolada num jogo do campeonato paulista
deste ano e sofreu cinco lesões diferentes no olho direito, teve uma ruptura na
retina, rompimento de vasos sanguíneos e problemas no nervo ótico e na mácula.
Foram 4 meses de incertezas até conseguir controlar as hemorragias e tratar os
edemas antes de voltar a campo. Os problemas de visão já foram responsáveis
pelo afastamento precoce de alguns craques do futebol mundial. No Brasil, o
caso mais conhecido é o de Tostão, o camisa 9 da seleção tricampeã em 1970, que
deslocou a retina ao receber uma pancada e parou de jogar.
O oftalmologista
Renato Neves explica que o jogador de futebol para desempenhar bem a sua
atividade tem de ter coordenação visual olho-pé e olho-corpo e uma visão em profundidade do campo capaz
de registrar visualmente os espaços abertos para se locomover e preparar
jogadas. A visão periférica também é fundamental, já que ela não só
ajuda na execução das jogadas como também permite que o jogador se previna
contra colisões e incidentes dentro do campo. "Os jogadores mais
habilidosos têm uma visão bastante desenvolvida para focar nesses pontos dentro
de campo e antever ou agilizar jogadas. Sendo assim, qualquer problema que
comprometa essas habilidades poderá prejudicar o rendimento dentro do
campo".
Jogadores que
têm problemas mais comuns de visão como miopia, hipermetropia e
astigmatismo precisam tomar alguns cuidados para ter um desempenho
adequado. Cada jogador apresentará um grau diferente de dificuldade para
cada um desses tipos de erros de refração. "Tudo depende do grau e do
quanto ele está acostumado a compensar o problema de visão sem qualquer tipo de
solução – como óculos ou lentes de contato gelatinosas. O astigmatismo, por
exemplo, é um problema diretamente relacionado à córnea – o paciente enxerga as
imagens de forma distorcida e borrada. Essa falta de definição/precisão pode
ser fundamental", explica o oftalmologista Renato Neves.
O problema é que
o uso de óculos pelos jogadores de futebol foi um tabu durante muito
tempo. Alex, que foi ídolo do Palmeiras e do Coritiba, só no fim da carreira assumiu o uso dos óculos e disse
certa vez que conhecia histórias de técnicos que proibiam jogadores de usar
óculos. A FIFA, por quase 150 anos proibiu que o jogador de futebol usasse
óculos em campo. A autorização só veio em 2010, ano da copa da África, e desde
que o árbitro se certificasse que os óculos não representariam um risco de
ferimento ao atleta. O principal cuidado é que os óculos sejam feitos
de um material resistente às colisões entre jogadores e que eles não apresentem
risco de cair ou se deslocar. "Os óculos devem ter lentes
inquebráveis e uma armação que seja plenamente ajustável ao rosto do jogador,
evitando risco de queda ou deslocamentos. Aliás, até mesmo os árbitros deveriam
fazer uso de óculos quando necessário – o que poderia inclusive melhorar o
desempenho deles em campo", explica Dr. Renato.
Mesmo assim é
raro ver jogadores usando óculos nas partidas de futebol, o jogador
holandês Edgar Davids foi um dos poucos que assumiu o uso de
óculos durante a carreira. O mais comum é que os jogadores que apresentem
algum problema de visão usem lentes de contato para poder jogar. Mas mesmo as
lentes podem causar acidentes em campo. O jovem jogador Lucas Paquetá, do
Flamengo, uma das promessas do futebol brasileiro, chamou a atenção,
recentemente, por causa de umapancada que sofreu no olho esquerdo durante o jogo com o
Palmeiras. A lente de contato se deslocou e ficou presa dentro da vista.
Paquetá levou quase cinco minutos fora de campo até que os médicos retirassem a
lente e substituíssem por uma nova. "O cuidado para o jogador que usa
lentes é que elas têm que ser macias e gelatinosas. As lentes rígidas
devem ser evitadas, pois podem se descolar e causar problemas para o jogador
durante a partida".
O uso dos óculos
na prática do futebol é uma preocupação também entre atletas amadores. Antônio
é um dos muitos garotos brasileiros que sonham seguir carreira no futebol. Mas,
aos 9 anos, ele recebeu um diagnóstico que passou a interferir no desempenho na
escolinha de futebol onde joga. Sem os óculos, mal consegue acertar os
passes e dribles. Com os óculos, perde muito da mobilidade e da visão periférica. Os
pais já tentaram fazer com que o garoto usasse óculos esportivos mas ele não se adaptou. A dúvida agora é se ele já
pode usar lentes de contato e se vai se adaptar a elas. "Não é uma norma
rígida, mas procuramos nos certificar de que a criança ou adolescente já tenha
responsabilidade suficiente para tomar os cuidados necessários com relação à
higienização das lentes. Só por isso é que procuramos indicar para maiores de
12 anos, mas vai depender muito do perfil do usuário. Há adultos, por exemplo,
que cometem vários erros no uso das lentes de contato – como dormir de lente ou
lavar as lentes durante o banho – o que é inconcebível e pode facilitar
infecções oculares", conclui o médico.
Dr. Renato Neves -
Presidente da Sociedade Brasileira de Ceratocone e
foi um dos primeiros cirurgiões a realizar no Brasil a cirurgia de catarata
com facoemulsificação em 1993. É graduado e fez residência médica na Escola Paulista
de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Tem pós-doutorado em
Imunologia, Córnea e Catarata na Harvard Medical School - Massachusetts Eye and Ear Infirmary - e
no MIT – Massachusetts Institute of Technology. Dr. Renato Neves é sócio
fundador do Instituto da Visão da UNIFESP e da Sociedade Brasileira de Cirurgia
a LASER e membro da American Academy of Ophthalmology, onde recebeu, em 2005, o Achievement Award. É também membro da International Society of Refractive Surgery e European Society of Cataract and Refractive Surgery.
Ele é
Diretor da Aging Eye Institute e fundador-presidente da Fundação Eye Care que deu assistência
oftalmológica gratuita a mais de 50 mil brasileiros carentes nos últimos anos.
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