E precisamos pensar e falar de tantas coisas. Ninguém tem mais tempo
nem de falar, nem de ler, nem de ver tudo o que circula, muito menos de ouvir.
Quer dizer, ninguém, ninguém, não é bem assim. Tem quem tenha tempo para tudo
isso, inclusive para preferir enviar por tudo quanto é canto nas redes sociais
vídeos que gastam mais tempo e dados para serem baixados do que para saber do
que se trata
“... O Sol nas bancas de revista. Me enche
de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia?“ ...Imagine se o
Caetano Veloso profetizava isso lá há 50 anos atrás, em Alegria, Alegria
como tanta coisa mudou até hoje. Nas bancas de jornal, de um tudo,
impressionante, cada dia empurrando mais para lá os jornais e revistas.
Outro
dia vi uma que vende consertos de sapatos. Viraram pequenos mercadinhos nas
esquinas da vida. Melhor que lá no Posto Ipiranga.
Aliás, postos que cada
vez também são menos frequentados com o preço sideral da gasolina e outros
combustíveis na bomba que estoura nos nossos tanques e bolsos. Aumentando o
preço e a temperatura de tudo o que consumimos e que, como vimos recentemente,
chega no lombo dos caminhões. Reparou que o abastecimento ainda não está
nada normalizado? Que os preços estão siderais?
É muito louco, meio
esquizofrênico. Passamos dias e dias tendo overdose de alguns assuntos. De
repente eles somem como num passe de mágica. Foram atropelados por outros sem
que tivesse sido concluído o anterior. Exemplos, essa história do frete e
preços e os coitados sobreviventes do incêndio no prédio do centro de São
Paulo, que continuam lá. Talvez você não saiba, estão lá naquela mesma praça,
sem banco, amontoados em barracas, esquecidos, tendo de roubar banheiros
químicos de outros lugares para usar, porque o Governo demorou mais de um mês
para lembrar desse detalhe. Uma situação horrorosa, dramática,
vergonhosa.
Ah, e a cada dia é maior
o número de pessoas vivendo em barracas, nas ruas, canteiros, praças, avenidas,
viadutos e buracos (literalmente) que encontram. Ou vestidas com caixas de
papelões, sacos de lixo, jogadas pelas ruas como se lixo fossem. Eles não têm
representação política, não são de esquerda, não votam, aliás, nem no PT, nem
são vistos pelos aparelhados Movimentos sem alguma coisa. São Nômades, não
invadem, ocupam; mas as ruas. Não são nem gente, parece; e aquelas crianças já
têm seu futuro altamente comprometido.
Pronto, chegamos a mais
um assunto que nos fez, vejam só, invejar a Argentina essa semana! As proles.
Lá, ao menos está havendo a discussão parlamentar sobre a descriminalização do
aborto, com possibilidade até de aprovação de uma lei sobre o assunto.
Adianta sentar em cima do assunto? Não!
(Não me venham falar -
acusando-os de não usarem- em métodos contraceptivos, informação, bibibibododó. Essas
pessoas não tem o que comer. Muitas são analfabetas. Aliás, acaso você aí já
precisou comprar remédios populares nas farmácias? Pois é, simples não é. E as
pessoas que cito agora não tem nem identidade, literalmente. Muito menos
receitas).
Mais um
#precisamosfalar. Descriminalização da maconha. Fechar os olhos? Tampar o
nariz? Só assim para não perceber que a cada dia corre mais livre por
conta própria, em todos os lugares, todas as idades, além das pesquisas sérias
sobre seu uso em medicina.
Não aguento hipocrisia,
nunca aguentei , e é uma das coisas que mais me aborrece nesse pais. Esse
atraso, essa cegueira moral que tentam impingir - ou com leis que não são e
nunca serão cumpridas, repressão errada , ou simplesmente esquecendo o assunto-
a toda uma sociedade que precisa avançar sob o risco de acontecer o que já
vemos se aproximar, o retrocesso.
Não dá para falar aqui
de todos os assuntos importantes, os verdadeiros direitos humanos, atropelados
nas estradas da vida e, inclusive, na imprensa que, coitada, esmorece, atacada,
pobre, manipulada. Até desbancada.
Estamos precisando fazer
de novo uma publicação que até hoje tem seu nome marcado na história para ser
usado de novo: Realidade.
Precisamos falar sobre isso,
sobre ela, a realidade, nua e crua.
Marli Gonçalves - jornalista –
Enquanto isso, a bola está rolando lá longe, quase do outro lado do mundo.
São
Paulo, 2018
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