Vamos diretamente ao ponto: Pedro Parente foi
derrubado. Não saiu por vontade própria. Fez uma densa carta de demissão ao
cargo, mas naquela escrita lê-se um desabafo do tamanho do mapa do Brasil. Foi
vencido pela visão populista daqueles que acham que o preço dos combustíveis
não pode e não deve ter como espelho aumento ou diminuição do barril de
petróleo no mercado internacional. Essa foi a visão que balizou a era Dilma,
com sua decisão de represar artificialmente preços e, desse modo, deixar nossa
maior empresa no buraco.
Nos tempos de dona Rousseff, que se arvorava como
exímia conhecedora de questões de petróleo e energia, o país vivia a artificial
situação de alto consumo e certo conforto, graças à mistificação adotada para
esconder a péssima planilha de contas. Como lembra o bom economista Adriano
Pires, ele mesmo profundo conhecedor do mercado de petróleo, países onde os
preços dos combustíveis seguem regras do mercado “são democracias consolidadas,
e a sociedade tem um alto nível de bem-estar, como a Noruega e os Estados
Unidos”. Outros que se ancoram no populismo para definir preços dos
combustíveis são pouco democráticos e não atendem à população em suas
necessidades básicas, como segurança pública, saúde e educação.
Assistimos, nos últimos dias, a um espetáculo
canhestro. Atores com o intuito de chamar a atenção passaram a expressar um
discurso populista, onde o apoio aos caminhoneiros era seguido de apelos por
intervenção militar. Oportunistas e interesseiros de toda a espécie – inclusive
empresários malandros – quiseram tirar proveito do movimento paredista. O
candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, posando de herói, foi o alvo
maior das Hosanas por encarnar a força militar, a ordem, a segurança nesse
ciclo de tensões e perturbações. Felizmente, a cúpula militar reagiu
negativamente ao apelo doidivanas de aventureiros.
Essa nossa claudicante democracia abriga coisas
absurdas, algo como um pacto secreto reunindo abutres de direita com os falcões
extremados da esquerda, cada qual apostando na ideia central de “virar a mesa”,
de “entornar o caldo”, de colocar o país de ponta-cabeça, sob a escondida
estratégia de apostar no pior para a elevação de seus quadros no pleito de 7 de
outubro. É incrível como as coisas por estas nossas plagas estão invertidas. O
Brasil acaba de sair da maior recessão econômica de sua história. A
desconfiança internacional chegou aos picos. O rombo nas contas públicas
inviabilizava qualquer gestão. Mas o país conseguiu atravessar o furacão.
Reformas importantes foram feitas. Infelizmente, o governo, ele mesmo sob o
bombardeio de denúncias, não conseguiu carrear para sua imagem o rol de coisas
boas que fez.
E assim, de crise em crise, o país padece sob a
pressão de protagonistas políticos, com sua atenção voltada para o pleito de
outubro. Os horizontes são sombrios. O perfil que tirou a Petrobras do buraco
agora é crucificado. Só faltam os coroinhas dessa missa macabra que se
celebra colocarem sobre a cabeça de Pedro Parente a coroa de Mau Gestor.
É o fim da picada. O mocinho? Ah, é bandido. Inacreditável.
Gaudêncio Torquato -
jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação
Twitter@gaudtorquato
Nenhum comentário:
Postar um comentário