Leio no jornal: Dilma e Aécio lideram pesquisa para senador
em Minas Gerais.
Deu pra mim. Fui!
Voltei!
“A ditadura é muito melhor, só que é pior”,
talvez exclamasse um amigo que gosta de construir frases surreais. De fato, se
você quer pôr ordem numa confusão de cabaré como essa aí acima, mais fácil e
eficiente do que conversar com o eleitorado mineiro é apelar para o sujeito com
cara de caminhão off road, parado lá
na porta. Sim, democracia é coisa complicada. E fica muito mais enroscada
quando não há mínimos consensos éticos, quando o sistema político é pouco ou
nada racional, quando os agentes do processo ou são omissos ou desonestos, e
quando os eleitores, tanto quanto os agentes, se regem por critérios
imperdoáveis.
O presidencialismo agrava as
dificuldades. Ao entregar todas as fichas e assegurar quatro anos de mandato ao
presidente, ainda que sua gestão seja uma catástrofe, a nação se expõe a uma
situação que nem empresas familiares toleram! Cria instabilidades que derrubam
o PIB, as bolsas e desvalorizam a moeda. Como submeter uma sociedade complexa,
com mais de 200 milhões de habitantes, a governos – quaisquer governos – que
não podem ser destituídos, ainda que ineptos e desastrosos? Onde mesmo o
impeachment de um governo criminoso envolve prolongada crise?
Por
outro lado, a irrestrita criação de partidos políticos como sublime expressão
do pluralismo, tolice bancada em 2006 pelos doutores da lei do STF, franqueia a
porta do poder para aproveitadores que inventam legendas cartoriais e as
transformam em rentáveis empreendimentos. Ora, a formação de maiorias
parlamentares é questão central do jogo político e da governabilidade. Os
processos eleitorais brasileiros, no entanto, vêm proporcionando minorias cada
vez menores, cuja existência custa caro ao país e cuja agregação para formar
bases de apoio se inclui entre as mais repulsivas e vacilantes tarefas de quem
governa.
Cada
vez mais, o ambiente político nacional se afasta das grandes pautas que
deveriam interessar ao desenvolvimento econômico e social para se perder em
retórica e propaganda. Os próprios eleitores não se ajudam: vão às urnas
dissociando o governante que escolhem do parlamentar em quem votam, como se o
segundo não fosse indispensável ao sucesso do primeiro.
Como
regra, o eleitor vota num governante para que cuide do país, segundo suas
convicções, e escolhe um parlamentar para defender seus interesses pessoais,
corporativos ou setoriais. Inevitavelmente, essas duas tarefas se contrapõem,
pois o parlamentar só pode cumprir a sua gerando ônus ao setor público e agindo
contra a conveniência nacional. Isso é moralmente inaceitável! Parlamentares
deveriam ser representantes de opinião e não de interesses.
Eleitores
incapazes de perceber os desvios a que são conduzidos pelo critério eleitoral
do interesse próprio afundam num paradoxo: julgam normal eleger alguém, pago
pela nação, para cuidar de si, para legislar e negociar em seu benefício, mas
se escandalizam quando os eleitos, orientados pelo mesmo norte moral, passam a
cuidar de si mesmos, dos seus negócios e de suas próprias fatias no bolo do
poder e dos impostos que todos pagamos.
Uma
democracia tem a racionalidade de suas instituições e a força dos consensos
éticos da sociedade.
Percival Puggina - membro da
Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões;
A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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