quinta-feira, 10 de maio de 2018

"Quem quer se suicidar não avisa" e "conversar sobre suicídio pode levar o adolescente ao ato" são mitos


Identificação de sinais e muito diálogo podem evitar finais trágicos 


A opinião é do psiquiatra Ziyad Abdel Hadi, médico Maia Jovens, unidade para atendimento exclusivo de crianças e adolescentes, da Clínica Maia, especializada em saúde mental e dependência química. De acordo com o especialista, alguns mitos podem impedir atitudes para auxiliar a criança ou o adolescente. "Muitos suicidas comunicam, sim, o desejo antes de cometer o ato e é necessário conversar abertamente sobre esse assunto, demonstrando interesse e preocupação com o jovem", explica.

Notícias alarmantes sobre o suicídio de estudantes a escolas particulares, em São Paulo, deixaram pais, professores e donos de instituições em alerta ao problema que, de acordo com o Ministério da Saúde teve aumento de mais de 30%, na faixa etária.

O alto padrão de desempenho exigido por escolas e pela família pode desencadear um também alto nível de frustração em adolescentes e jovens. Para Dr. Hadi, exigências familiares, somadas à convivência em um mundo cada vez mais competitivo, consumista, em detrimento de valores humanos e emocionais, são fatores que têm contribuído para que os jovens se tornem mais pressionados e ressentidos. "Eles se sentem derrotados se não alcançarem o padrão estabelecido pela sociedade", afirma.

Segundo o médico, ouvir e dialogar com o jovem permite mais facilidade na identificação de sinais que representam risco ao suicídio, como alteração de comportamento; perda de interesse; baixo rendimento escolar; isolamento social; baixa autoestima; bullying; uso de álcool, maconha e outras drogas; histórico de suicídio na família e pais com doença mental.

O especialista explica que a adolescência representa uma crise, uma fase de transição, mas o treinamento do diálogo desde as idades mais precoces pode ajudar o jovem a atravessar com mais tranquilidade essa fase turbulenta. "O córtex pré-frontal, estrutura nobre do cérebro responsável pela capacidade de julgamento, previsão de riscos, controle dos impulsos, só amadurece por volta dos 21 anos e por isso, é preciso que os pais "emprestem seus cérebros" aos filhos, por meio do diálogo, estabelecendo sempre um canal aberto de comunicação e de confiança".

O psiquiatra lembra que, fora o ambiente familiar, a escola é o local onde os jovens passam a maior parte de suas vidas. "Por isso, é fundamental que esses dois núcleos de convivência firmem parceria para apoiar o adolescente em seu desenvolvimento saudável, procurando identificar fatores de risco e, sobretudo, estimular o desenvolvimento de novos repertórios intelectuais e emocionais", reforça.

Além disso, Dr. Hadi alerta para o fato de que a maior parte dos adolescentes que tentam ou cometem suicídio apresentam associação a outros transtornos mentais e precisam de avaliação psiquiátrica e psicológica. "Família, escola, e profissionais de saúde devem estar alinhados na promoção da saúde do adolescente, reduzindo os fatores de risco e fortalecendo os fatores de proteção ao suicídio", conclui.




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