Os impostos não são apenas um meio de pagar a
máquina estatal e os serviços fornecidos pelo governo. A carga tributária
revela, também, o tamanho da parte capitalista (o setor privado) e o tamanho da
parte socialista (o governo) existentes no país. O tamanho geral da economia
nacional é dado pelo total do Produto Interno Bruto (PIB), que, no caso do
Brasil, foi de R$ 6,3 trilhões em 2016. Se o PIB fosse posto em uma balança, um
prato teria R$ 2,2 trilhões (a carga de impostos pagos pela sociedade) e o
outro prato teria R$ 4,1 trilhões, ou seja, 35% do total é o tamanho da parte
socialista (o governo) e 65% é a parte capitalista (o setor privado).
O tamanho do governo é definido por ele próprio,
pois os impostos significam confisco de renda da sociedade privada (pessoas e
empresas) sob a força da lei; portanto, é uma imposição cujo descumprimento é
crime previsto no Código Penal. O setor privado funciona sob bases
capitalistas: propriedade privada dos bens de capital, organização empresarial
da produção e trabalho assalariado, em regime de liberdade e de competição.
Já o governo funciona em bases socialistas: toma
parte da renda nacional, executa serviços públicos em regime de monopólio, não
se submete ao imperativo de satisfazer o cliente (o povo), não opera com base
em eficiência e concorrência, e nunca vai à falência por incompetência no que
faz. Quando o governo vem e toma mais R$ 10,4 bilhões apenas com aumento de
tributos sobre combustíveis, como fez agora, não se trata de mera transferência
de renda da sociedade para o Estado. Trata-se de diminuir a parte capitalista
do país e aumentar a parte socialista.
O encolhimento do capitalismo e a expansão do
socialismo de um país são efeito inexorável da elevação de tributos. O filósofo
marxista Antônio Gramsci (1891-1937) dizia que os comunistas deviam abandonar a
ideia de implantar o comunismo extinguindo a propriedade privada e assassinando
os resistentes, da forma como ocorreu no século 20, mormente na União Soviética.
Gramsci propunha implantar o socialismo pela tributação compulsória, isto é,
pelo confisco da riqueza privada.
Quando a tributação chegasse à metade do produto
nacional, mantendo-se o direito de propriedade privada e o livre de mercado de
bens e serviços, o tamanho do Estado se igualaria ao resto da economia, e o
socialismo estaria enraizado sem que a burocracia estatal tivesse de se
aborrecer com os problemas do processo de produzir e criar riquezas. Do Estado
jamais seriam exigidas qualidades como eficiência, austeridade, capacidade
gerencial e qualquer coisa típica de quem precisa assumir riscos e competir.
Gastar o dinheiro dos outros, sem imposição de
racionalidade e competência, é o esporte preferido dos políticos e da
burocracia estatal. Os impostos, sobre os quais quem os paga não pode dar o
menor palpite, sustentam o governo por mais inchado, incompetente e corrupto
que seja. A questão essencial a ser entendida, além de que os impostos devem
financiar os serviços públicos, é que elevar a carga tributária significa
reduzir o capitalismo e aumentar o socialismo.
Na busca de seu objetivo socialista, Gramsci foi
eficiente. Um país que atingisse carga tributária de 60% da renda nacional não
seria mais capitalismo, pois, em uma nação onde o Estado responda por 60% do
dispêndio nacional, o capitalismo é um apêndice tímido de uma economia
socialista. O Estado é necessário para cumprir suas funções clássicas, tais
como defesa, justiça, segurança e serviços coletivos. Não se discute sua
eliminação. Mas ele tem de ser limitado em seus poderes e adequado ao tamanho
da economia nacional.
José Pio Martins - economista,
é reitor da Universidade Positivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário